terça-feira, abril 05, 2011

hoje passei pelo nosso esconderijo, de outra era

Continuava igual. A disposição das mesas; o cheiro intenso do café. Olhei de soslaio para a mesa onde nos sentávamos sempre: lá, no canto esquerdo da sala. Ainda lá estão as nossas marcas, sabias? Mesmo que esbatidas pela erosão dos tempos que passaram… Depois perguntei a mim mesma quanto tempo havia passado, desde a última vez que viéramos aqui. Porém, não descobri. Então, deixei estar. Limitei a sentar-me ali, no lugar onde sempre me sentava, de frente para ti; assim fiquei, a encarar uma parede vazia e um lugar vazio. A senhora do balcão, sempre sorridente, de súbito disse-me: "Há tanto tempo que não te via por cá!", como se me perguntasse o porquê de tal facto. Limitei-me a sorrir-lhe e a encolher os ombros, respondendo: "Falta de tempo". Menti. "É um cappuccino, certo?", perguntou-me e eu acenei. Voltei-me para a frente e a parede ainda lá estava: despida, como nunca antes fora. E depois, nem sei bem porquê, aquele lugar pareceu-me tão… Estranho. Desconhecido. Apesar da disposição das mesas ser a mesma, do aroma ser sempre igual e de ter sempre a mesma empregada simpática por trás do balcão, que já sabia o meu pedido, por continuar a ser o mesmo, continuei a sentir-me fora de água. Completamente deslocada, como que num sítio nada-familiar, meramente desconfortável… Talvez porque se encontrava inteiramente desprovido da tua presença? Não sei. A verdade é que foi a primeira vez que lá fui, depois de… Enfim. A empregada deixou o cappuccino fervente à superfície da mesa, de frente a mim, e retomou ao balcão. No entanto, voltou para junto de mim, uns segundos depois, e perguntou-me, sempre com aquele seu sorriso doce nos lábios:

"E o teu amigo? Não pôde vir fazer-te companhia hoje?"

Hesitei por uns momentos, enquanto tais palavras imprevisíveis me ecoavam na cabeça. Em seguida, abanei a cabeça e levantei-me. Despedi-me da simpática senhora e abandonei o snack-bar. Aquela estrada - tantas foram as vezes que a percorremos, lado a lado sobre o passeio, de copos na mão, conversando acerca de mil e uma coisas diferentes, de sorrisos no rosto e línguas escaldadas pelo café quente. 

Afastei-me daquela avenida e vim rumo a casa. Nem acabei de beber o cappuccino; atirei-o fora e fiquei a vê-lo esboçar os passos que outrora percorremos, ainda marcados pela estrada. E foi aí que me apercebi que sinto a falta daquela pessoa que costumava fazer aqueles caminhos ao meu lado. 

E lá prossegui a minha jornada, enquanto lentamente ia sendo arrebatada com a consciência de que agora (e para sempre) seria assim. 

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