domingo, maio 08, 2011

a nossa história é tão sebastionista

Um bilhete. Era tudo o que restara dele. Ela segurava-o; fechava-o bem sob as suas mãos e entre os seus dedos, como se a sua própria vida dependesse disso. Nunca o tinha lido - não queria saber. Mas dele provinha aquele aroma - cheiro a café fervente; manhã invernosa -, que lhe agradava tanto. E ela podia jurar que conseguia sentir pequenas lágrimas à superfície do papel. Sim. Parte dela desejava que ele tivesse chorado, ao partir. Ao passo que o outro lado do seu coração desejava, todos os dias, que ele simplesmente voltasse. Com lágrimas ou não… Que viesse. Mais nada. (…) Ela esperou e ele não veio. Ela sempre repulsara desistir; soltar a mão, que tanto agarrara. Não queria seguir… Mas estaria ela disposta a esperar por algo completamente incerto, que provavelmente nem aconteceria? Dúvidas como estas assolavam-na, dia após dia, cerrando o seu céu aos poucos, como nevoeiro.
E, um dia, sem se saber porquê, ela abriu o bilhete. A única prova concreta de que ele estivera ali, outrora. Abriu-o, lendo-o num trago, sem sequer pestanejar.

"Está na altura de parar."

Em silêncio, guardou-o no bolso.

2 comentários: