quarta-feira, maio 01, 2013

deixei de cantar, a música acabou


Ainda me lembro do sabor do teu beijo. Palpitava debaixo da língua, aquela mistura agridoce de café e caramelo. Ainda me lembro dos nossos sorrisos deitados e tímidos, por uma cama desbotada pelo tempo e pelos sonhos de um futuro a dois que ia morrendo, debaixo de nós, lentamente, como suspiros e sôfregos de um choro ensurdecido. Mas só eu é que costumava chorar. Tu, por outro lado, permanecias meio distante, no canto da sala, a mirar-me em silêncio. Quase que fingias que nem estavas lá. E assim foi... deixaste de estar. Foste-te, como o fumo de um cigarro se perde por entre o ar, como se nunca tivesse existido. só deixando para trás o aroma. Foi isso que deixaste. O cheiro da perda, da perda de alguém que claramente nunca merecera sequer ficar. Tanto de mim a ti te dei, até ficar sem nada a que me agarrar. Nua, perdida, desgastada por uma batalha que lutara sozinha, acabei por me perder mais de mim, do que te ti. É aquela sensação de eco vazio no peito, que tanto, outrora, batia insistente. É aquela ausência numa mão que já tivera o Mundo, que dela escorreu, como grãos de areia. São aqueles olhos cansados e esbatidos, que viram tamanho Castelo a ruir-se; a transformar-se em nada, sem que pudessem fazer nada para o alterar. 

Eu sou esta pessoa, que deixaste. Só me conhecia, quando do teu lado.
E, agora, sem ti... quem sou? Hei-de ser o que eu quiser. 
O meu erro foi ter querido demais ser aquilo que tu querias que eu fosse.

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