segunda-feira, maio 27, 2013

O Primeiro-Amor não passa de Rascunho.


Eles conheceram-se tão novos. Demasiado novos. Naqueles tempos em que tudo era e não passava de brincadeiras e brigas de crianças. Quando a maior aventura era, discretamente, conseguirem sentar-se perto um do outro, na sala de aula. Quando o momento mais constrangedor, era cruzarem-se sozinhos no corredor. Ela costumava escrever o nome dele por todo o seu caderno de português, com corações nos i's. E ele ficava a mirá-la, de soslaio, embebido pelo constante medo de que ela reparasse. Eles eram tão novos. Demasiado, quiçá, para se aperceberem do quanto ainda tinham de crescer. E assim foi (...). Num piscar de olhos, os típicos passeios discretos pela baixa, lado a lado, a acompanharem-se um ao outro pelo caminho de casa, tornaram-se em beijos escaldantes às escondidas, para ninguém ver. E as idas ao café, onde se perdiam entre horas e horas de conversas ao som da música que tocava, num ápice, levaram às fugas proibidas e secretas, a meio da madrugada, sempre com a adrenalina de serem apanhados a palpitar-lhes no sangue. Eles cresceram e viveram tanto juntos, mesmo sem se aperceberem, e sempre com a constante crença de que tudo duraria para sempre... porque eram novos. Demasiado novos, para se aperceberem de como o Tempo lhes fugia das mãos, sem que pudessem fazer nada para o evitar. (...) Chegaram, depois, àquela idade que julgam tão adulta, onde julgam ser os reis do Destino e de tudo o resto. Mal sabiam eles, do que Este tinha planeado. Discutiam tanto, por tudo e por nada. Ela passara a preocupar-se demasiado com tudo. Ele passara a não preocupar-se o suficiente com nada. Ela criticava-o às amigas. Ele escolhia ficar do lado dos amigos. E, talvez, foi essa junção de tudo - das mentiras, das discussões, dos jogos, das promessas esquecidas de infância -, que os trouxe a uma Realidade que eles nunca haviam conhecido... 

Uma Vida, onde o outro não está presente. 

Eles conheceram-se tão novos. Demasiado novos. E, agora, com a sabedoria e a idade que tanto lhes pesam nos ombros e na consciência, apercebem-se que tudo aquilo que haviam vivido, aprendido e partilhado, transformara-se numa história de Primeiro Amor. Aquele Amor que todos temos, algum dia, e que todos, mesmo por sermos tão novos, tão idiotas, tão imaturos, deixamos escapar. Mas a culpa não é nossa, nem vossa, nem de ninguém. 

É o Tempo que tanto e tudo quebra. É o Tempo que, em crianças, nunca conhecemos, por acharmos que temos o tempo todo do Mundo. É o Tempo a (re)lembrar-nos de que há sempre uma altura para seguir, para deixar para trás... e para, inevitavelmente, crescer.

1 comentário:

  1. Já não lia algo teu há algum tempo, confesso que já tinha saudades. Gostei :)

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