terça-feira, junho 18, 2013

"Cala-te, idiota."


Ele não era de muitas palavras. E ela sabia-o e aprendera a aceitar isso mesmo. Ele não era aquele tipo de rapaz que lhe seguraria nas mãos e que, num meio sorriso, num meio olhar, lhe diria: "Eu amo-te". Não, ele nunca seria assim. E ela sabia-o bem... Já há muito tempo que não se importava com isso mesmo. Eles não tinham aquela relação convencional, baseada em cantigas de amor, ou em contos de fadas. Eram aquele par que vocês jamais veriam de mãos dadas num jardim, a trocarem beijos apaixonados, de minuto a minuto. Ao invés, preferiam refugiar-se num local qualquer secreto - o ponto em que ambos os seus corações se cruzavam -, em silêncio, enquanto se perdiam ao som de uma música qualquer, que falasse por eles. E melodias eles tinham muitas. Quer fosse o som dele a bater à sua porta, sorrateiramente, às tantas da madrugada, para fugirem juntos; quer fosse a mistura melódica de ambas as suas gargalhadas a ecoarem por todas as paredes. Eles viviam assim o seu Amor: frenético, instável e louco, como eles o eram e muito. Viviam, assim, à flor da pele, através de gestos - como beijinhos na testa, abraços de perfeito encaixe, ou a fazer amor -, gestos esses que nunca são capaz de mentir, como as palavras o fazem.

Ninguém os entendia. Ninguém era capaz de perceber o fundamento de tal Amor. Olhavam-nos de soslaio, e chamam-os de doidos, sem qualquer noção. E eles riam-se dessas pessoas. Riam-se por elas jamais conseguirem compreender que, no Amor, absolutamente nada tem de fazer sentido. E que senti-lo puramente está acima de todas as outras coisas. Era um Amor sem limites. Sem regras, ou fronteiras. E talvez foi por isso que eles se perdiam tanto Nele, e um no outro. Talvez foi por isso que se perderam de todo o Mundo em volta. (...)

E a cada "cala-te, idiota" que eles diziam, transmitiam muito mais amor do que muitos "eu amo-te"s, que se dizem por aí.

1 comentário:

  1. Adoro um amor assim. E sim, muitas das vezes aqueles casais todos melosos que se vêm por aí se durarem mais que 1 ano já é muito.
    Adoro tanto a maneira como escreves!

    beijinhos*
    http://dreamsow.blogspot.com

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