quinta-feira, agosto 29, 2013

Nunca me amaste.

Eu, aquela que te amou. Aquela que, por ti, começou a comer as códeas das sandes, porque te irritava quando as deixava à beira do prato. Aquela que, por ti, deixou de fumar, porque tu tanto me ordenaste. Aquela que, por ti, era capaz de voltar atrás e mudar de roupa, só para não estar a levar contigo a dizer que andava sempre descapotável. Aquela que, por ti, passou a adorar as tuas bandas, programas e passatempos preferidos, só para poder passar mais tempo contigo. 

Contigo, o tempo todo do Mundo parecia não ser suficiente. E nada do que eu fazia parecia ser suficiente para te manter aqui. E tu deixaste-me acreditar nisso mesmo. Que eu não era e jamais seria boa o quanto baste para te merecer. 

Não te olho com mágoa, ou raiva... O tempo passou. E eu cresci com ele. As feridas cicatrizaram e não passam, agora, de marcas quase que imperceptíveis à flor da minha pele. 


Eu, aquela que te amou. Aquela que te afagava os cabelos castanhos, sempre que te magoavas a andar de skate. Aquela que te beijava os arranhões nos joelhos. Aquela que tomava conta de ti, naqueles momentos em que tornavas incapaz de o fazer. Aquela que nunca, nem por um segundo, saiu do teu lado, por mais que a mandasses embora. 

Tu nunca me amaste. Amavas apenas aquilo tudo que eu fazia por ti. Amavas a segurança que eu te dava. Amavas a companhia que eu era e que nunca te deixava. E amavas o amor que recebias de mim: cego, louco, estúpido. Eu amava-te e, por ti, fui um bicho. Daqueles que se escondem na sombra e que se alimenta do que vai arranjando, sem nunca sair do buraco, mesmo que de fome possa morrer. 

Eu estava disposta a fazer tudo por ti, porque te amei. 
Amava-te tanto que nem depois de saber que não me amavas, deixei de o fazer.

quarta-feira, agosto 28, 2013

Era uma vez um Quebra-Corações...



Ele amava-a tanto - oh, se amava! Tanto, mas tanto, que até julgara não precisar nem de mais nada, nem de mais ninguém, a não ser dela... Aquela mulher que sempre amara, desde as brincadeiras de crianças, junto à maré, em tardes de Verão, até às noites escaldantes onde se perdiam, adolescentes, numa cama revirada e embrenhada pelos seus cheiros. Oh, se a amava! 

Ele jamais a magoaria - ela era demasiado preciosa para sequer passar-lhe pela cabeça fazê-lo. Costumavam ir para a costa aos finais de tarde: ela levava-lhe sempre uma sandes de qualquer coisa - não interessava, pois saber-lhe-ia sempre bem, pois foram as suas mãos que a fizeram -, e ele levava a sua guitarra, o seu segundo Amor na vida. Deixavam-se ficar, vendo o sol se pôr e cantando cantigas que só eles percebiam; que só eles conseguiam ouvir. O amor deles era assim: louco, jovem, ciumento, intenso e egoísta, não permitindo que ninguém se aproximasse demasiado. 

Mas ele esquecera-se que ela, tal como todo o ser humano nesse mundo, tem um monstro dentro de si. Esquecera-se, porque sempre havia acreditado que ela era o síndrome da perfeição em pessoa. Idolatrava-a. Amava-a. Respirava-a e precisava dela para o fazer. Que ingénuo, coitado, que acabou por sair mais magoado, do que alguém seria capaz de sofrer. 

Desde então, não voltou a ser o mesmo. Perdê-la foi como perder tudo aquilo que costumava ser e amar. Desamparado e nu, como um cão abandonado com raiva, deixou-se vaguear pelas ruas sem qualquer sítio aonde ir; sem qualquer abrigo para se esconder da chuva e das suas lágrimas; sem qualquer saída para fugir dos pensamentos que tanto o empurravam para o seu próprio Fim. 

Tornou-se um Quebra-Corações: sem dó nem piedade. Que se alimenta pela dor de quem o ama: tal como ela lhe fizera. Sentira-se tão usado em troca de Amor, que acabou por não mais conseguir amar ninguém, só usar. Aproveitar. Para, no fim, deitar fora e seguir caminho. Fora nisso que ele se tornara.

Mas estava tudo bem: ele preferia isso a ser magoado, de novo. Jamais quereria passar pelo que passou. Por ela. Essa que ele tanto amava, que sempre tanto amou. E que dele roubou tudo e partiu simplesmente, sem sequer olhar para trás para saber se ele estava vivo. E não estava. Ele morreu nesse dia - quando ela partiu.

Desculpa ter sido o Monstro que te criou...

terça-feira, agosto 27, 2013

Vai, que eu fico aqui a amar-te para sempre.


Como é que consigo amar-te tanto e desta maneira? Sem te ter. Sem te poder tocar. Sem te poder dar um beijo sempre que me apetece. Sem sequer te poder chamar de "meu". Tornaste-te numa borboleta que está constantemente a pairar à volta da minha cabeça e à frente dos meus olhos, mas nunca próxima de ficar. Pousas na minha mão de forma tão leve e surpreendente, que até tenho medo de prestar demasiada atenção, com o risco de a perder. E assim o é: de tão rapidamente que vem, ainda mais fugazmente se vai, deixando para trás apenas aquele formigueiro à flor da minha pele e o som do bater das suas asas, ainda a ecoar no vazio do meu coração. Foi nisso que te tornaste. E como é que consigo continuar a amar-te mesmo assim?

Lembro-me tão bem da primeira vez que te vi, a passar a porta da sala de aula com 10 minutos de atraso. Lembro-me de como me inebriaste com todas as estações do ano, de uma só vez: os teus olhos eram brilhantes como dias de Verão; os teus cabelos eram os vários tons das folhas que preenchem as árvores, nas tardes de Outono; o teu meio sorriso era tímido como o Sol de manhãs de Primavera e cheiravas a chuva fria de Inverno. Embebedei-me de tal modo com tudo isso, que até me senti a ficar sem ar. Amei-te assim que te vi. E ainda não consegui deixar de fazê-lo... E olha para os anos que passaram por nós!

Será possível amar alguém para sempre, mesmo sem receber nada em troca? Mesmo sem poder expressar tal Amor? Será possível? Se não é, então como é que eu o faço por ti? (...) Talvez seja assim: amar-te simplesmente porque sim; por não saber fazer nem sentir outra coisa. Amar-te de coração, alma e corpo por completo, sem ser preciso mais nada. Amar-te como respiro: sem o conseguir evitar. Amar-te é isso: é tão meu, é tão o que eu sou e o que sempre quis ser. Faz-me sentir bem, livre, jovem. Faz-me acreditar no Amor em toda a sua plenitude. Sem pedir por mais nada. Sem querer mais nada. Uma carta sem resposta. Uma melodia para o vazio.

Amo-te da forma mais limpa e verdadeira que alguém pode amar. 

És a minha alma gémea. Nunca hei-de pensar o contrário, por mais homens que se cruzem comigo; por mais pessoas que eu ame e venere; por mais amor que lhes dê e que deles receba. O meu coração terá sempre um lugar para ti: bem aqui, no canto mais sagrado e mais secreto do baú, onde ninguém - a não ser eu e tu - consegue chegar.

Agora, voa, borboleta. 
Estou aqui a ver-te pairar. 
Sê livre de ir. Sê livre de voltar.

segunda-feira, agosto 26, 2013

Ela não te merece.


Olha para ti. O que é que te aconteceu? Vejo-te a rastejar por um oásis que há muito secou. Tu não eras assim. Eras sempre aquele que mantinha a cabeça bem assente e os pés no chão; não te deixavas iludir por nada e a consciência era sempre a tua melhor amiga. Isto, pelo menos quando estavas nos meus braços, e não nos dela... essa rapariga que veio trazer o pior de ti. 

Ver-te apaixonado por outra pessoa - que não eu - pela primeira vez, foi mais assustador do que doloroso. Ao início, estava genuinamente feliz por ti - estavas a seguir com a tua vida e estavas a dar uma nova oportunidade ao teu coração, fechado à chave desde que parti. No entanto, foste-te transformando de uma forma tão contraditória àquilo que tu eras, que comecei a temer por ti. Tornaste-te demasiado vulnerável, apegado, inseguro. Agarraste-te com unhas e dentes de uma forma que nunca pensei que fosse possível. "É uma experiência nova, portanto é normal", dizias-me, em conversas de café, "Já não me sentia assim há tanto tempo...", confessavas-me em suspiros. E eu sorria. Sorria porque adorava saber que estavas bem, mesmo que sem mim.

Mas, agora, olho para ti... tão ferido e com olhos baços e tristes. Porque caíste. Porque ela te empurrou. Porque ela não soube ver o homem fantástico e único que tu és e sempre foste. E isso entristece-me... ela deixou escapar um tesouro que não se abre a qualquer pessoa, e nem se apercebeu disso. Deixou-te, simplesmente: ali, deitado e despido no escuro; e nem se preocupou em voltar atrás para saber se estavas bem. 

Eu estou aqui e hei-de sempre estar. Porque nunca me deste razões para não o fazer: e se deste, então eu simplesmente não as achei suficientes. Quero abraçar-te e dizer-te que tudo correrá bem. Quero beijar-te o rosto e limpar-te as feridas, uma a uma. Quero sussurrar-te ao ouvido o quanto ela não te merece e que ela é que perdeu. E enquanto não acreditasses, eu repetiria, uma e outra vez, até que o fizesses. Quero lembrar-te que não estás, nem nunca estarás sozinho.

Ver-te sofrer por outra pessoa pela primeira vez foi tão estranho. E no fundo do meu coração, preferia que tivesse sido eu. Acredita. Ver-te cair desta maneira até a mim me doeu: acho que contigo serei sempre assim "tu cais e eu sangro", simplesmente porque tu não mereces nenhuma dessa dor e ela não tinha direito de te fazer isto. Ela não sabe o que perdeu, mas eu sei... porque também o perdi. 

Muita força, meu amigo, meu antigo amante. Foi a tua primeira queda em muito tempo, e essa é sempre a mais dolorosa. Mas tu ficarás mais forte. Acredita em mim. Eu sei do que falo.

quinta-feira, agosto 22, 2013

Tu amaste-me, certo?


A pessoa que tu és agora - essa que está mesmo aqui, rente aos meus dias, rente à minha pele, mas sem nunca me tocar (por medo?) -, não se parece nada contigo; não se parece nada com o rapaz que conheci em tempos. É curioso, sabes?, como alguém é capaz de mudar com o amor; de mudar por amor. Tu fizeste-o por mim, sem eu te pedir. Costumavas cuidar tão bem de mim. Eras assim: mais próximo de mim, do que de ti mesmo. Nunca havia conhecido ninguém como tu. Apaixonaste-te por mim, mas não de repente e não de ânimo leve. Ainda me lembro de me dizeres, em suspiros, e com uma gargalhada meio triste: "Acho que sempre te amei...", e isso doía-me mais do me alegrava. Sempre te conheci como um alguém sem medos, pelo menos até me aperceber que era eu quem tu mais temias. Pelo poder que eu tinha sobre ti. Mal sabias lidar com isso... Mas, mesmo assim, apaixonaste-te e lutaste por mim. Contra todos os teus temores, contra todas as tuas desconfianças e feridas, que eu mesma havia causado. Passo a passo, jogaste tudo isso fora e ficaste aqui, junto aos meus lábios e a dar cor aos meus dias. Mesmo que, a cada dia que passasse, mais o medo e a insegurança fossem ocupando os cantos e recantos do teu corpo.

Um dia disseste-me que amar-me fora a coisa mais difícil que alguma vez fizeste. E mal dizias isto, rias-te para o vazio: "És mais difícil de perceber do que toda a gente pensa!", e rias-te de novo. Estavas sempre a rir. Mas não eram risos típicos de piadas de café. Eram risos tensos e fechados, como se estivessem a conter sentimentos demasiado turbulentos para virem ao de cima. Mas, mesmo assim, tu continuavas junto a mim: a levar-me a casa, a entregares-me o teu casaco, quando eu me esquecia do meu, a beijares-me à chuva. Da última vez que te beijei, antes de partir a um rumo incerto - e ambos já sabíamos que eu tinha de partir -, senti-te tremer de uma maneira incrivelmente dolorosa. Tremias por todo o corpo, por todos os poros, como se um choro ou um grito se quisesse soltar - mas tu jamais deixarias.

Tu não és esse rapaz, agora. Estás frio. Estás distante. E as tuas palavras sabem a amargo. Talvez eu mereça esse tipo de tratamento. Fiz-te passar por tanto; fiz-te ir contra as tuas convicções e deitei abaixo todas as barreiras que te protegiam do Mundo em volta - quando, na verdade, a única pessoa de quem te deverias ter protegido era de mim. 

Mas tu amaste-me. Nunca hei-de duvidar disso, por mais que o tempo passe e por mais que nos separemos. A forma como tu me amaste, como nunca ninguém o fez. A forma como tu lutaste por mim e por nós, mesmo depois de se esgotarem as razões e os motivos. A forma como fizeste os possíveis e os impossíveis para não desistir - apesar de eu mesma já o ter feito.