quarta-feira, agosto 28, 2013

Era uma vez um Quebra-Corações...



Ele amava-a tanto - oh, se amava! Tanto, mas tanto, que até julgara não precisar nem de mais nada, nem de mais ninguém, a não ser dela... Aquela mulher que sempre amara, desde as brincadeiras de crianças, junto à maré, em tardes de Verão, até às noites escaldantes onde se perdiam, adolescentes, numa cama revirada e embrenhada pelos seus cheiros. Oh, se a amava! 

Ele jamais a magoaria - ela era demasiado preciosa para sequer passar-lhe pela cabeça fazê-lo. Costumavam ir para a costa aos finais de tarde: ela levava-lhe sempre uma sandes de qualquer coisa - não interessava, pois saber-lhe-ia sempre bem, pois foram as suas mãos que a fizeram -, e ele levava a sua guitarra, o seu segundo Amor na vida. Deixavam-se ficar, vendo o sol se pôr e cantando cantigas que só eles percebiam; que só eles conseguiam ouvir. O amor deles era assim: louco, jovem, ciumento, intenso e egoísta, não permitindo que ninguém se aproximasse demasiado. 

Mas ele esquecera-se que ela, tal como todo o ser humano nesse mundo, tem um monstro dentro de si. Esquecera-se, porque sempre havia acreditado que ela era o síndrome da perfeição em pessoa. Idolatrava-a. Amava-a. Respirava-a e precisava dela para o fazer. Que ingénuo, coitado, que acabou por sair mais magoado, do que alguém seria capaz de sofrer. 

Desde então, não voltou a ser o mesmo. Perdê-la foi como perder tudo aquilo que costumava ser e amar. Desamparado e nu, como um cão abandonado com raiva, deixou-se vaguear pelas ruas sem qualquer sítio aonde ir; sem qualquer abrigo para se esconder da chuva e das suas lágrimas; sem qualquer saída para fugir dos pensamentos que tanto o empurravam para o seu próprio Fim. 

Tornou-se um Quebra-Corações: sem dó nem piedade. Que se alimenta pela dor de quem o ama: tal como ela lhe fizera. Sentira-se tão usado em troca de Amor, que acabou por não mais conseguir amar ninguém, só usar. Aproveitar. Para, no fim, deitar fora e seguir caminho. Fora nisso que ele se tornara.

Mas estava tudo bem: ele preferia isso a ser magoado, de novo. Jamais quereria passar pelo que passou. Por ela. Essa que ele tanto amava, que sempre tanto amou. E que dele roubou tudo e partiu simplesmente, sem sequer olhar para trás para saber se ele estava vivo. E não estava. Ele morreu nesse dia - quando ela partiu.

Desculpa ter sido o Monstro que te criou...

2 comentários:

  1. muda o modelo do teu blog daniela :cccccccc

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  2. Compreendo que se queira evitar mais sofrimento mas não acredito que alguém seja feliz assim, sem amar.

    Nem tudo está perdido.. Acredito que um dia ele amará outra vez. Ou pelo menos abrirá o seu coração e deixará de magoar terceiros...

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