quinta-feira, agosto 29, 2013

Nunca me amaste.

Eu, aquela que te amou. Aquela que, por ti, começou a comer as códeas das sandes, porque te irritava quando as deixava à beira do prato. Aquela que, por ti, deixou de fumar, porque tu tanto me ordenaste. Aquela que, por ti, era capaz de voltar atrás e mudar de roupa, só para não estar a levar contigo a dizer que andava sempre descapotável. Aquela que, por ti, passou a adorar as tuas bandas, programas e passatempos preferidos, só para poder passar mais tempo contigo. 

Contigo, o tempo todo do Mundo parecia não ser suficiente. E nada do que eu fazia parecia ser suficiente para te manter aqui. E tu deixaste-me acreditar nisso mesmo. Que eu não era e jamais seria boa o quanto baste para te merecer. 

Não te olho com mágoa, ou raiva... O tempo passou. E eu cresci com ele. As feridas cicatrizaram e não passam, agora, de marcas quase que imperceptíveis à flor da minha pele. 


Eu, aquela que te amou. Aquela que te afagava os cabelos castanhos, sempre que te magoavas a andar de skate. Aquela que te beijava os arranhões nos joelhos. Aquela que tomava conta de ti, naqueles momentos em que tornavas incapaz de o fazer. Aquela que nunca, nem por um segundo, saiu do teu lado, por mais que a mandasses embora. 

Tu nunca me amaste. Amavas apenas aquilo tudo que eu fazia por ti. Amavas a segurança que eu te dava. Amavas a companhia que eu era e que nunca te deixava. E amavas o amor que recebias de mim: cego, louco, estúpido. Eu amava-te e, por ti, fui um bicho. Daqueles que se escondem na sombra e que se alimenta do que vai arranjando, sem nunca sair do buraco, mesmo que de fome possa morrer. 

Eu estava disposta a fazer tudo por ti, porque te amei. 
Amava-te tanto que nem depois de saber que não me amavas, deixei de o fazer.

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