quarta-feira, dezembro 31, 2014

Amar-te foi fodido. (+13)


Amar-te foi fodido. Aliás, amar é sempre difícil, afinal de contas.

Mas contigo, amar tornou-se nalgo realmente fodido para mim. Trocava-me as voltas todas. Fazia-me perder o juízo por completo. Arrancava-me o sono à noite. Em suma, fodeu-me o sistema todo, de forma a que jamais voltarei a ser a mesma, depois de te ter amado.

E eu sempre soube que não ia ser tarefa fácil. Deu logo para notar, quando te conheci a ti e a essa tua maneira conturbada de ser. Sempre foste de tal maneira imprevisível, que nunca cheguei a perceber maior parte daquilo que se passava na tua cabeça. E esse teu jeito de quem não se importa com nada... Irritava-me. E mais que isso: agoniava-me até dizer chega.

Ainda hoje não consigo entender como raio é que me fui apaixonar por alguém como tu. Eu, que sempre imaginara um rapaz sensível e doce como caramelo, que me beijasse as feridas – uma a uma – e que me dissesse o quão especial eu era, no dia a dia. E, no entanto, caí por ti. E mais: apaixonei-me de tal maneira, que deixei de me imaginar com quem quer que seja. Tu. Tu tornaste-te no único que eu queria, naquele de quem eu mais precisava. E, por mais mal que me fizesses; por mais voltas e contravoltas que me desses à cabeça e à minha vida, nada parecia fazer-me deixar de te querer.


Amar-te foi fodido, porque foi tal e qual uma montanha-russa. Em dias, elevavas-me aos céus, para noutros, me puxares ao mais ruim dos infernos. E eu passava-me. Passava-me comigo mesma, acerca do porquê de continuar a bater na mesma tecla. “Porque é que teimas em fazer isto a ti própria?”, questionava-me, vezes sem conta, “Tu mereces mais e melhor!”. E, no entanto, eu sempre o soube: eu não queria o melhor. Eu só te queria a ti.

Amar-te foi fodido, porque me afastou completamente de mim própria. Nalguns dias, nem me reconhecia mais. Eu, que sempre fora tão independente e senhora de si, dava por mim a querer ir ao teu encontro, fosse a que horas fossem. Dava por mim a engolir o meu orgulho, só para que tudo ficasse bem. Dava por mim a ir contra o que acreditava, só porque tu valias mais a pena que tudo isso. Foi fodido, porque amar-te passou a importar mais do que me amar a mim mesma.

Amar-te foi fodido. Mais ainda naquelas alturas em que me desiludias. E lá ficava eu em casa, tentando odiar-te ao máximo. E, no entanto, sem eu saber como, dava por mim a amar-te cada vez mais. Julguei estar a enlouquecer. E mais assustador ainda, era aperceber-me do quão longe eu seria capaz de ir por ti. Tentava esquecer-te, por meio de copos e de noites sem fim, mas nada resultava. Foi fodido, porque parecia ser um amor sem cura. Sem razão ou qualquer sentido. E, ao mesmo tempo, batia tudo tão certo, por parecer tudo tão errado.


Amar-te foi – mesmo – fodido, por me ter ensinado as coisas mais dolorosas. De que o amor é a soma de duas partes, mas quase nunca por igual. De que o amor é uma luta constante, mas só enquanto ninguém desiste. De que o amor, maior parte das vezes, deixa-nos completamente fodidos de todas as maneiras imagináveis, condenando-os a jamais sermos os mesmos. E de que o amor, por si só, jamais será suficiente.

Amar-te foi fodido, por nunca ter sido o bastante para manter-te. E eu amava-te desafogadamente, apesar e acima de qualquer coisa. O mais fodido no meio disto tudo era o tamanho amor que eu sentia por ti. Desmedido, voraz e sem quaisquer limites. Tornou-se naquilo que eu era; naquilo que eu pensava; nas horas todas que por mim passavam. Fui o mais feliz, e o mais triste que podia ser, aquando do teu lado. Não havia intermédio no que tocava a ti. Daí ter sido tão, mas tão fodido. Era amor em toda a sua glória, sem talvezes, sem quases e sem pensar duas vezes. Para ser sincera, nunca antes me havia sentido tão viva. Mal sabia eu o quanto me estava a matar por dentro.


Mas não bastou. Nem tudo aquilo que eu sentia, nem tudo aquilo em que me transformei do teu lado foi o suficiente para manter-te cá. Acho que todos os amores fodidos, como eu gosto de lhes chamar, acabam exactamente da mesma maneira. Sem se perceber nada e sem se estar à espera, perdem-se de nós para sempre, como um assobio ao vento. Ainda esperamos que voltem, sabe-se lá quanto tempo, mas eles não o fazem, por serem fodidos.

E nós mais tolos somos, por acreditarmos que amores desses durarão para sempre. Por serem únicos e por nos alterarem a vida por completo. Mas a vida é fodida. E amores desses também, que a fodem mais ainda.

terça-feira, dezembro 30, 2014

Ser dos Açores é ser Saudade (e Nostalgia).


Voltar a casa, depois de tanto tempo, é de tal forma uma miscelânea de pensamentos e emoções, que até me custa descrever isto tudo que sinto. Uma mistura de expectativas, nostalgia e saudade abarcam-me por completo, mal sinto o avião a pousar no asfalto da pista. O oceano estende-se até onde o olhar alcança e o vento despenteia-me imediatamente o cabelo. 
“Estou em casa”, digo de mim para mim.

No entanto, ao mesmo tempo, é estranho voltar. Um tipo bom de estranho, claro está. Passamos a reparar em todos aqueles pormenores que nunca havíamos notado antes. Como a forma que o sol se põe no horizonte. Ou a maneira autêntica das pessoas comunicarem. Ou a simplicidade do dia-a-dia. Coisas que, outrora, eram as mais comuns e as mais garantidas, são-nos apresentadas como inteiramente diferentes. É estranho voltar, por isso mesmo, porque apesar de muito pouco ter mudado, nada está exactamente na mesma.


As horas passam por nós devagar, enquanto aproveitamos os dias – um a um. Abraçamos família e revemos amigos, de quem já sentíamos a falta. Voltamos aos mesmos sítios de outrora, aqueles de que já nos havíamos fartado, e que agora são como novidades. Percorremos as mesmas estradas, mas com muita mais atenção. Miramos o mar – que, outrora, era o nosso bem mais presente -, e inspiramos a sua maresia, como se fosse a coisa mais rara à face da terra. O verde parece mais verde do que alguma vez foi. É tão estranho voltar a uma casa, depois de tanto tempo, e ver o quanto esta mudou sem nós. E, ao mesmo tempo, como continuou a mesma coisa.

Nostalgia e saudade não são a mesma coisa. E é isso que sinto em relação a este meu lar, que se encontra sempre tão longe de mim. Quando daqui estou distante, sinto as saudades a arderem-me no peito, de mãos dadas com a vontade de voltar. E quanto mais se aproxima o dia ‘tal’, mais estas se intensificam. E, no entanto, é ao chegar, depois de tanto tempo, que sinto esta nostalgia melancólica. De que toda esta casa – que era sempre tão minha – por que tanto anseio, não voltará a ser a mesma nunca mais. Isto, porque, aqui e agora, sinto-me mais uma espécie de viajante passageira. Que só quer aproveitar o máximo enquanto pode, até ao dia de partir.


É essa a parte estranha de voltar ao meu lar. É o voltar, para ter de partir, de novo. E será sempre assim, a partir de agora. Um vaivém desmedido. Uma viagem de ida acompanhada por uma de volta. Uma saudade que conta os dias. E uma nostalgia estranha de descrever e ainda mais de se sentir.

E, no entanto, cada regresso sabe-nos sempre a tanto. Mais do que qualquer partida. Vale sempre a pena sentir tudo isto, por mais assoberbante que seja. É “lar doce lar”, afinal de contas. E será sempre, sempre assim. E todas as lágrimas derramadas compensarão sempre toda esta vista que vemos, ao sentirmos o avião sobrevoar sobre tal oceano azul intenso.

É estranho, não é? Uma estranheza que só um Açoriano a sabe. E depois? Faz parte de nós. Somos tão únicos e tão genuínos, que até temos direito a sentimentos só nossos e que só nós seremos alguma vez capazes de os sentir. 

quarta-feira, dezembro 17, 2014

Vives rápido, morres rápido. Simples.


Vive-se demasiado rápido. Estamos constantemente a apressarmo-nos, seja para o que for. Acordamos, dia após dia, e temos agenda premeditada na nossa cabeça. Corremos de um lado para o outro, mecanicamente, só com o destino marcado em vista. E tornamo-nos cada vez mais incapazes de saborear o que quer que seja. Os momentos passam por nós, e nem os vivemos. Lá está: vivemos demasiado rápido e morremos mais depressa ainda.

Mais que isso: amamo-nos demasiado depressa. Do género, “vou levar-te ao cinema, mas não te atrases”. Ou então, “beija-me agora, porque não me posso atrasar para o trabalho”. Os beijos longos tornam-se cada vez mais curtos. E os abraços apertados? Viram cumprimento cómodo, simplesmente porque cai bem e tem de ser. Lá está: amamos tão em frenesim e à pressa, que nos perdemos demasiado cedo uns dos outros.

Vivemos na era da impaciência. Somos a geração do querer tudo de ginjeira. E quando assim não o é, deixamo-nos estar. Nem nos importamos mais com isso. Somos do tempo do “estragou-se? Troca-se”, em vez do de “estragou? Concerta-se”. E que mundo é este, em que vivemos? Onde o amor é construído em cima do joelho, e onde se desiste aos primeiros abalos? Mas o que é isto? E que mundo é esse, em que até as coisas mais genuínas são banalizadas? Onde um “tudo” que durou anos, vira “nada” em breves segundos? Onde uma história de vida, é facilmente trocada por uma história de uma noite?


Temos de aprender a ter (mais) calma. A parar, por um momento, e a absorver o tudo que nos rodeia. Abraçarmo-nos durante uma eternidade. Beijarmo-nos durante duas. Não dizer “amo-te” de ânimo leve. Não amar sem se ser capaz de lutar o que for preciso. Temos de aprender a ser (mais) sinceros; connosco e com o mundo. E o que é que nos custa?

Aí está: somos da geração que quer trabalho, mas que não quer trabalhar. Queremos tudo de bandeja, na hora e já. Não sabemos esperar. Nem queremos. Regemo-nos por esta filosofia doente de “há mais peixe no mar”, quando só aquele raríssimo peixe – e mais nenhum – deveria ser o único capaz de matar a tua fome. Não queremos nos dar ao trabalho de lutar por manter, porque só a conquista tem piada. Queremos tudo tão fácil. E, assim, acabamos por nunca possuir realmente nada, nem chegar a lado nenhum. Vivemos como estúpidos ingénuos, acreditando que a felicidade vem de meios materiais, de confortos supérfluos e de festas sem fim. Vulgarizamo-nos e vivemos vidas tão vulgares, que acabamos por nem poder chamar ao que fazemos de ‘viver’.


Gostava de ter vivido no tempo dos romances e das cartas trocadas, que levavam tempo a receber e que nos faziam esperar ainda mais pelas respostas. Mas não. Vivo no mundo das sms, coisa tão trivial de trocar e mais ainda de ignorar. E no mundo em que se vive um romance todos os anos, sempre com uma pessoa diferente. “O tal” vira “um qualquer”, desde que me leve a sair umas vezes por semana e me dê presentes no São Valentim. O “amo-te” vende-se como produto em promoção. E, quando algo não resulta, segue-se logo para outra coisa qualquer. Cagamos e andamos, como se não passássemos de cavalos.

Temos todos de aprender a amar e a viver. A escutar e a observar. A acalmar esta pressa e esta fugacidade, que só nos atrasa mais do que qualquer outra coisa. E temos também de começar a perceber que as pessoas não são brinquedos e que esta vida não é um jogo para vermos quem ganha. Perdedores são aqueles que só sentem que ganham, ao fazerem outrem perder. E este mundo precisa de muitos mais vencedores. E continuadores. E lutadores. E o que é que nos custa, se o mínimo que podemos fazer é sermos o melhor que conseguirmos ser?


Um brinde aos beijos longos. Aos abraços apertados. Às conversas sem fim. Às tardes à beira-mar. Aos livros na cabeceira. Às músicas cujas letras sabemos de cor. Aos casais apaixonados que já passaram por muito, e que continuam a lutar para que se passe muito mais. Aos não desistentes. Aos românticos que ainda acreditam no amor verdadeiro e que fazem por isso. Às famílias que tiram tempo para estarem juntas. Aos homens que fazem uma mulher sentir-se única. Às mulheres que fazem um homem sentir-se invencível.

E, acima de tudo, um brinde a quem é capaz de, todos os dias, tornar o mundo de alguém num lugar melhor.

sexta-feira, dezembro 12, 2014

Amei-te até hoje. Até amanhã.


Amei-te assim que te vi”, disse-te, enquanto engolia a razão e deixava o coração tomar conta da minha boca, pela primeira vez em tanto tempo. Nem me apercebi de imediato que o tinha dito. Como se se tivesse solto de mim, por ter contido tanto, que já tudo me transbordava. “Mas sabes que mais? Amei-te só até hoje”. Palavras essas que caíram sobre nós como bombas em pleno cenário de guerra.

Cheguei derradeiramente ao ponto de não retorno de toda esta história. Cansada já eu estou de ser o vaivém inconstante da tua vida... de tal maneira, que já nem sei aonde me encontro realmente, na maior parte do tempo. Num momento, estou nos teus braços, a respirar-te e a ter-te por tudo o que és. Para noutro, nem ter a mais vaga notícia da tua existência. Cansada já eu estou de ser uma espécie de entretenimento de instantes. Um desafogo das tuas noites gélidas e solitárias. Ou um bicho que se alimenta das resmas que vais deixando pelo caminho, só para que consiga sobreviver.


Amei-te até hoje, estás a ouvir-me? Despi as minhas roupas impregnadas pelo teu cheiro e chorei todas as lágrimas que me sabiam a ti. Quando passar a meia-noite, juro-te, já não te amo mais. Nem nunca mais saborearei os teus beijos, que tanto me faziam perder do resto do mundo. Nem nunca mais me enterrarei no teu abraço, que tanto me sabia a casa. Nem nunca – jamais – me entregarei de corpo e alma a alguém que nunca me soube querer por inteiro.

Amei-te até hoje. Faltam poucas horas para deixar de amar-te por completo. Simplesmente porque todo este amor que sinto há eras, já há muito que não me serve de nada. Diz-me. De que me servem todos estes beijos que amontoo entre os meus lábios, por não se poderem perder nos teus? E de que me servem estes dois braços erguidos, incapazes de chegar ao teu corpo para que nele se encaixe? E de que me serve, afinal, toda esta luta que teimo em manter, se já nem estás aqui ao meu lado, para combatermos juntos tal qual como deveria ser?


Amei-te até hoje. Digo-te, que desta vez é de vez. Daqui a poucos minutos, já todas as partículas deste coração que tanto te amou, e de todo este corpo que tanto te agarrou, dissiparam-se por entre o fumo, tais como os cigarros que partilhávamos a dois. Tais como os suspiros que se elevavam sobre nós, por entre noites secretas com sabor a crime. Tais como as palavras – as doces, as amargas – que trocávamos e que agora não passam de meros mitos. Como se nunca tivessem existido.

Amei-te até hoje. E todas as coisas que me entregaste, enterro-as num tempo a que já não chego. Não guardo nada teu, porque só enquanto se ama é que faz sentido fazê-lo. E todas as chaves que trocámos, ao longo do tempo, e que abriam todos os cofres um do outro, deito-as ao oceano, que as engolirá juntamente com os meus sentimentos. Todos. Afogarei todos eles até à sua morte. Quero que morras de mim, da mesma maneira que me mataste de ti. Lembras-te?


Amei-te até hoje. O último dia em que te amei. O último dia em que te lembrei e em que senti a tua falta; em que chorei pela tua perda. O derradeiro dia em que te esqueci. E o primeiro em que me apercebi que não é de ti que eu (mais) preciso.

Amei-te até hoje. E por aqui fico, a perder-me de ti, só à espera que chegue o amanhã.

quarta-feira, dezembro 03, 2014

PROMETE-ME QUE (não) VOLTAS


Da próxima vez que te sentires sozinho, peço-te: não me ligues. Nem me digas nada. Estou quase que a implorar-te, está bem? Nem sequer tentes vir ao meu encontro, com esses teus olhos cabisbaixos que tanto se me revelam, por mais que os meus os evitem. Não fosse eu a que te lê melhor.

Peço-te isto, porque não consigo mais, entendes? Porque não consigo desligar-te o telemóvel, ao ver o teu número no seu visor. Porque jamais conseguiria ignorar as tuas mensagens. E muito menos virar-te as costas, quando fazes questões de ter-me à tua frente. Eu imploro-te que não me busques mais, porque eu jamais te mandaria embora. Apesar de – bem saber – que é exactamente isso que deveria fazer. Todas as vezes. Mas jamais o faria. Negar-te é algo que me é incapaz, por seres tu.

Eu gosto muito de ti e quero-te bem. Mas não posso ser sempre eu, aquela que busca por todos os pedaços do teu coração e os junta num inteiro, depois de outra qualquer o ter partido. Nem posso ser (mais) eu a que te aguenta nos braços, enquanto todo o teu mundo estremece. Desculpa, mas não consigo mais ser essa pessoa para ti. E eu fui-a, durante tanto tempo – demasiado para sequer contar. E eu juro-te por tudo: sempre adorei sê-la. Sempre adorei ser a primeira por quem buscavas para beijar-te as feridas. Para suster o teu choro no meu peito. Para aliviar a tua dor e a tua solidão imensas. E, no entanto, por mais que o adorasse... matava-me, mais do que qualquer outra coisa.


Por isso, peço-te e quase que te imploro: da próxima vez que sentires que a tua vida está fora do teu controlo, e que só queres fugir para um outro sítio qualquer... Não me procures. Por favor, nem venhas. Não consegues compreender o que sinto, de cada vez que o fazes? É que eu explico-te:

De todas as vezes – uma a uma -, que te vejo a vir ao meu encontro, com esses teus olhos tristes e braços rendidos, choro. Não aquele choro desbravado em lágrimas, mas sim um que me aflige no peito e me arde por dentro. E mais: de todas essas vezes – cada uma delas -, eu só amaldiçoo de morte quem te aleijou. Só quero partir pratos e rogar a Deus que te poupe de qualquer sofrimento. Desejo poder roubar toda a tua dor, para que se torne minha; para que seja eu a sofrer, em vez de ti. Não há nada que me sofra mais, do que quando és tu quem sofre. Antes que fosse eu... que já estou mais que habituada a qualquer tipo de amargura.


Sei que estou a ser egoísta ao pedir-te isto, mas vim a aperceber-me que já está na altura de o ser. Eu não posso continuar a sofrer por ti. Nem posso continuar a afagar as tuas dores, como se fossem as minhas. E que raio de vida é esta, a que me submeto? Que pára e que muda a um simples gesto teu, como se fosse mais tua do que minha? E que amor é este, o que sinto por ti? Que se alimenta das tuas chegadas esporádicas, sempre acompanhadas por partidas atrozes? E que nunca passam disso mesmo?

Não me procures, nem me busques mais. Está na hora de me deixares encontrar-me a mim mesma, de uma vez. E eu não consigo fazê-lo, enquanto continuares a chamar-me para trás, ao teu encontro.

Está na hora de tu seres tu; e de eu ser eu. E esgotada já eu estou de viver num “nós” sozinha; um “nós” que já nem existe e que há muito partiu de vez.

sábado, novembro 29, 2014

Ao meu futuro "tal". Se é que existe(s).


Espero que estejas preparado para lidar com toda a tempestade que eu sou. Mas não te acanhes. Nem te deixes enganar. Sou mais do que alguma vez te mostrarei nos primeiros momentos em que estivermos juntos. E eu sei que vais ter a paciência para desvendar tudo aquilo que não revelo, à partida. E eu hei-de meter-me contigo. Hei-de chamar-te de “idiota” a cada frase. Hei-de enxotar-te com ambas as mãos, de cada vez que te aproximas, enquanto me rio. Hei-de dizer-te o quanto acho o teu penteado ridículo.

Estou sempre a dizer piadas. Nunca à espera que te rias, até porque hei-de me rir sozinha, de qualquer maneira. Mas também adoro que me façam rir. É das capacidades que mais aprecio em alguém. E eu sei que, se chegámos a este ponto, é porque tu a tens em ti.

Às vezes, quebro. Perco as estribeiras. Grito a plenos pulmões e passo-me por completo. A culpa não é tua. Mas sim de todos aqueles que te antecederam, e que de tal forma me deixaram coberta em feridas. Não é justo, eu sei. É uma injustiça enorme teres de ser tu a lidar com as réplicas de todos os meus antigos terramotos. Mas, como és tu, sei que farás os máximos para me compreenderes, mesmo que nem sempre sejas capaz de me entender.


Antes do primeiro café do dia, saberás de imediato que não me deves fazer muitas perguntas. E, quando discutirmos, evitarás ao máximo ser sarcástico comigo. E, no entanto, também serás capaz de me mandar parar, quando for eu a fazê-lo. É um dos meus grandes defeitos, sabias? Esse e o de achar que tenho sempre razão. Mas eu sei que irás sempre arranjar uma forma de me apontar os meus erros. Só assim é que eu aprendo, percebes? Eu sei que o fazes melhor do que ninguém.

Gosto de sair à noite. Gosto de beber os meus copos, de vez em quando, com os meus amigos. E, no entanto, adorarei completamente todos os nossos serões passados a sós, num lugar qualquer. De nada me interessa, desde que lá estejas. Acompanhar-te-ei para qualquer lado, de sorriso no rosto. Respeitarei o teu espaço por completo, por saber que tu sentirás a minha falta, por entre esses momentos. E serei sempre franca, por mais que seja difícil de dizer e difícil de ouvir. Porque também eu quero que o sejas comigo. Sempre.

Mas sou-te sincera. Provavelmente, quando me encontrares – seja de que maneira for – ainda estarei um tanto feita em pedaços. Mas eu sei que tu farás o que for preciso para te lançares na busca por todos eles. E que os juntarás, um a um, com todo o carinho do mundo. Para, no fim, mos devolveres num coração inteiro e preparado para te amar como ninguém. Como tu e só tu mereces. E confesso-te que estou coberta de cicatrizes, à flor da pele. Mas também sei que tu – e somente tu – as beijarás, uma a uma; as amarás como parte do meu ser – esse, que tanto amas, apesar do quão fragilizado se encontra.


Não ando à tua procura, nem estou propriamente à tua espera. Não creio que o amor funcione assim. Ou talvez (até) já te conheço, quiçá? És um mistério recôndito e eu (já) te amo por isso. Não tenhas pressa, que amar nunca deve ser apressado. Nem tanto previsto. Prometo-te que jamais serei perfeita, mas que farei de tudo para te entregar todos os meus lados, sem esquemas, sem jogos e sem nunca deixar que o medo se meta no nosso caminho.

Não preciso que me salves, porque não sou indefesa. Nem te peço que me concertes, porque não sou um brinquedo partido; quero que me aceites por tudo o que sou. E só preciso que nos dês tempo suficiente para mostrarmos um ao outro do tudo o que somos capazes. Nós merecemo-nos. Só preciso que acredites em mim, em ti e em nós. E que mantenhas essa força de vontade, até depois de me conquistares; mas também para me manter.

Enfim, será um derradeiro prazer conhecer-te.

Quando se ama, não há desculpa(s). E p(r)onto!


Durante todos estes anos, dei por mim a desculpar-te até dizer chega. E de cada vez que me perguntavam porque é que não estávamos juntos, eu saía-me sempre com uma desculpa qualquer; por ti. “Simplesmente não está numa boa fase”; “por agora, não dá. Quem sabe, mais tarde?”. Fazia-lo tão naturalmente, como quem respira.

Apercebi-me, no entanto, de que não o fazia com o intuito de te defender. Nem sequer com o objectivo de não passares por um frio sem escrúpulos. Não. Eu fazia-lo por mim. Todas essas desculpas que entregava a outrem, eram meramente para me aliviarem da dor. A dor que sinto por entre todos estes dias a que não chegas. Pior: a que nunca te vejo (querer) chegar.

Está na hora de ser realista finalmente. Se tu não estás, neste momento, encaixado do meu lado, é porque não o queres realmente; nem fazes por isso. E p(r)onto! E se amanhã eu não acordar numa cama abençoada pela tua companhia, é porque tu escolheste não vir ao meu encontro. E p(r)onto! E se, por entre esta noite fria, nem posso contar com o teu amor a aquecer-me por dentro, é porque tu simplesmente não mo concedes. E p(r)onto!


Deixo-me de desculpas. Cansada já eu estou de desculpar-te a meio mundo. E mais: a mim mesma. Tu apenas não tens vontade de vir ao meu encontro. E muito menos a paciência digna para ficares. Tu apenas não lutaste nem metade do que aquilo que eu seria capaz por ti. E mais: por nós. Tu simplesmente nunca me amaste o suficiente, para permitires que todo o nosso amor nos fosse suficiente. É a verdade em todo o seu esplendor. E haverá verdade mais dolorosa do que essa?

Não. Não há. Porque essa não depende de mim. E pudesse eu fazer alguma coisa para nos salvar! Mas de que me serviria, se sempre fui eu a ser por nós os dois? A manter-se firme por ambos? A sofrer por dois corações (visto que o teu estava demasiado encoberto para sentir o que quer que fosse)? A arrastar-te por esta jornada – ano após ano -, enquanto carregava todo o teu peso às costas? Sozinha. Sempre fui eu sozinha, não é verdade?

O amor pode durar uma vida inteira. Porra, eu nem pedia isso. Só sei que podíamos ter sido mais. Porra, podíamos. Mas tínhamos de ser os dois a querer. E enquanto eu queria cada vez mais, a cada dia que passava, tu enchias-te de dúvidas, de medos e de merdas. Era isto que tu querias, não era? Terminar é sempre mais fácil do que tentar, para ti. E, para ti, desistir é sempre a única saída quando as coisas se complicam demasiado.


Só espero que, um dia, mais tarde, aprendas a amar realmente. E a fazer todas aquelas coisas que – alguém que ama – tem de desesperadamente fazer. E espero também que nunca tenhas de passar por aquilo que eu passei. Ver quem mais amas no mundo a afastar a tua mão; a deitar abaixo o vosso mundo inteiro, e a seguir sem ti, simplesmente por “ser mais fácil”. Como é que aceitar a coisa mais penosa de todas – o Fim – pode ser o caminho certo? E mais: quando nem nos permitiste tentar todos os outros.

Quando se ama, preferimos o nosso próprio fim, ao fim da outra pessoa. Sabes sequer o que isso é? Quando se ama, morre-se de amor; morre-se por falta dele. Deixaste-me morrer e nem te importaste. E agora? Que te posso chamar, se nem do meu amor foste digno?

quarta-feira, novembro 26, 2014

A porta é serventia da casa.

Os anos passam por ti e tu sentes-te quase que imutável. Ao longo do tempo, nem dás por nada e, no entanto, ao olhares para trás... Aí sim, apercebes-te do quanto cresceste e do quão diferente está a tua maneira de lidar com todo o tipo de coisas.


Lembro-me tão bem do sufoco que sentia, ao sentir alguém – que sempre me fora tanto – a afastar-se derradeiramente de mim, sem qualquer justificação ou razão clara. Passava-me por completo. Perdia-me em questões e mais questões: “Aonde errei? O que é que será que fiz de mal? E o que posso fazer para que tudo volte ao que era dantes?”. Quase que perdia noites de sono, a rebolar na cama, de um lado para o outro, a sentir-me tão culpada sem saber sequer o porquê.

Mas depois tu cresces. Tu cresces e aprendes. Aprendes que, independentemente de tudo o que já fizeste por outrem, ninguém é obrigado a retribuir-te o que quer que seja. Ninguém tem um contrato vitalício assinado e carimbado, para que fique ao teu lado para sempre. E que, por muitos esforços que faças, simplesmente existirão pessoas que, lenta e gradualmente, seguirão outros caminhos que não mais coincidem com os teus. Ninguém é forçado a nada. São os que o fazem; que ficam, de qualquer maneira e sem lhes ser pedido, que valem realmente a pena.


Costumava ficar tão ressentida com as pessoas, outrora. Ou porque pareciam não estar cá para mim como eu sempre estivera para elas. Ou porque simplesmente se iam desligando cada vez mais da minha vida. Ficava de tal modo magoada, que nem conseguia pensar noutra coisa. “Porque é que estás diferente? Será que deixei de ser interessante para ti? Será que te apercebeste que, afinal, a nossa amizade não valia a pena?”.

Mas depois cresci. Cresci e aprendi. Aprendi que a vida corre como um rio, que não volta mais atrás. E que algumas pessoas vão entrando na tua vida, aproximando-se de ti e marcando-a por tudo o que são; e, depois – e nem sempre por uma causa qualquer definida –, vão deixando cada vez mais de cá estar. Por vezes, aos poucos. Noutras, tudo de uma vez. E, no entanto, são essas mesmas as que – quiçá – te ensinam mais que quaisquer outras. Essas lições tão dolorosas, que tão desesperadamente temos de aprender. É a isso que te deves agarrar, e não a mágoas, nem a rancores, que não passam de puro desperdício de tempo. Esse, que jamais terás de volta.

Eu não tenho mais aquela paciência para perder noites em branco, a pensar no porquê de tudo ter mudado. No porquê de, outrora, termos tido uma amizade tão próxima, e que, agora, não passa de trocas de cumprimentos cordiais. Nem tenho mais a vontade de ir atrás – vezes e vezes sem conta – a puxar quem quer que seja de volta ao meu encontro. Não. As relações não podem funcionar assim; jamais. E quando se chega a uma hora em que só um lado faz a força... Talvez seja realmente a hora de cada um seguir o seu caminho.


Não guardo raiva por quem partiu. Fosse porque razão fosse. Guardo, ao invés, tudo aquilo que me ensinaram. Guardo as memórias sorridentes e partilhadas no seu tempo certo. E a vida é assim mesmo. É o constante seguir em frente, por mais que, pelo caminho, pessoas fiquem deixadas para trás. Ninguém parará por ti. E, com certeza, ninguém deverá parar-te.

É um mundo tão grande, este, o nosso. Tantos lugares por descobrir e tanta gente ainda por conhecer, que com certeza te ensinarão tanto. Com o passar do tempo, também te apercebes do quão valioso este é. E que jamais deveria ser usado em vão, numa batalha por alguém que simplesmente escolheu não estar mais do nosso lado. E que jamais deveria ser desperdiçado por meio de dúvidas e incertezas que plantámos nas nossas cabeças. E que jamais deveria ser entregue a quem já nos deu provas suficientes de que não o merece.

Somos todos tipo borboletas. Livres de ir e livres de voltar, ou não voltar nunca mais. E com o tempo, tu cresces e aprendes. Cresces ao ponto de seres capaz de deixar ir. E aprendes que as melhores pessoas que alguma vez conhecerás na tua vida, não são aquelas que te fazem ir atrás constantemente, para que dê certo. Mas sim as que, contigo, enfrentam qualquer adversidade e qualquer distância, só porque o vosso laço é mais forte que qualquer outra força da natureza.


E nunca se esqueçam de só manter quem vos faz feliz. 
O resto são restos. E tu mereces mais que isso.

sábado, novembro 15, 2014

Amizade com prazo de validade.


Estou furiosa contigo, neste momento. E a toda esta fúria alicerça-se uma tremenda e desmedida desilusão. Como é que foste capaz de fazer-nos isto? Após todos aqueles anos de amizade, que passaram por nós? Após todas as incontáveis lições que ensinámos um ao outro, com o passar dos anos? Após todos os momentos inigualáveis que passámos juntos?

Tu eras o meu melhor amigo. E mais: eras o meu maior confidente. Sabes (sequer) o que tudo isso significa? Sabes (sequer) o quanto representaste na minha vida – esta, a que fizeste questão de deixar por completo? Sinto-me parva, mas tão parva... Por alguma vez ter entrado em juras de amizade eterna contigo, apenas para termos este desfecho tão triste. O que tu escolheste, sem qualquer hesitação. (Que triste!)

Um amor que acaba, aperta-nos o coração e dói-nos no corpo todo. Agora, a perda de uma amizade como a nossa, suplanta qualquer outra dor. Pior ainda: quando só um lado a sente.

Como queres que lide com o facto de teres escolhido virar um estranho? Tu, que estiveste presente nos meus primeiros desgostos de amor. Tu, que passavas a vida em minha casa, a ver televisão e a comer porcarias. Tu, que eras a primeira pessoa que me abraçava quando eu chegava à escola. Tu, que sabias todos os meus segredos e medos de cor e salteado. Tu, que conheceste todos os lados que eu sempre escondi de todo o mundo. Tu, que me dizias que uma vida comigo não pedia por mais nada, porque seríamos amigos até ao fim, acima de qualquer outra coisa.


Como queres que lide com esta distância a que nos submeteste, sem qualquer explicação? Como queres que me sinta, ao ver-te cuspir num laço que eu julgara tão único e tão forte por ser nosso? Mas que raio de amigo é que tu alguma vez foste, para seres capaz de apagar-me da tua vida, como se eu nunca tivesse existido?

Um fantasma. Tu, que outrora irradiavas luz na minha vida, tornaste-te num fantasma. Porque assim o quiseste e escolheste. Quem é que tu pensas que és, para me tratares com tão-pouca consideração e respeito, depois de tudo o que fiz por ti? Depois de todas as oportunidades que te entreguei? Depois de todos os teus erros e defeitos que aprendi a amar e a aceitar? Depois de todas as lágrimas que derramámos em ambos os nossos colos?

Como é que, para ti, foi tão fácil virar-nos neste nada? Será que alguma vez a nossa amizade significou algo para ti? Não. A resposta é não. Porque, verdade seja dita... A única pessoa que ainda sente falta dela, após este tempo todo, sou eu e eu sozinha. E dizias-me tu que eu jamais iria gostar de ti da maneira como tu gostavas... Quem diria. Onde estás tu agora?

Sempre quis tomar conta de ti. Sempre te quis proteger de tudo, até de ti próprio. Até quando me enxotavas, eu mantinha-me firme. E tu, de todas as vezes que me vias vacilar, agarravas-me pelos pulsos e dizias: “Eu posso perder tudo... Menos tu”. Quem diria. Onde estás tu agora?


Já fui muito desiludida, é verdade. Já tive os meus desamores e relações cortadas. E, no entanto, nenhuma perda se assemelha à que tive de ti. Talvez por eu saber bem que sou a única que sente a falta. Talvez por eu (ainda) querer fazer de tudo para te ter de volta, enquanto tu pareces estar tão melhor sem mim. Ou talvez fazes-me mais falta do que eu gosto de admitir a mim mesma. Sei lá. Que interessa, a partir do momento em que o teu orgulho jamais te permitirá voltar?

Espero que nunca te arrependas de nos ter cortado ao meio. E espero também que nunca olhes para trás e te apercebas do quão importante eu era (afinal) na tua vida. Para além disso, continuo a querer-te bem, porque isso sim, é ser-se amiga. É não deixarmos o orgulho, meter-se à frente da amizade. É nunca deixarmos a mágoa, meter-se no caminho do afecto. É nunca deixarmos as promessas de parte, só por ser mais simples do que mantê-las.

De tudo o que te ensinei, só tenho pena de nunca teres aprendido o que é ser um verdadeiro amigo.

quinta-feira, novembro 13, 2014

Ou és cego, ou és estúpido: escolhe.



Serás cego, ou simplesmente estúpido? Longe de mim querer partir logo para os insultos, mas já cansa. Já me cansas. Tu e os teus devaneios de adolescente, apesar dos nossos tempos de adolescência já terem terminado há muito. É sempre, sempre assim. Esta mesma dança repetida, cujos passos já sei de cor. Vens ao meu encontro com esses teus olhos cheios de promessas e mistério. Lentamente, vais me consumindo os dias - um a um -, sem que eu sequer note. Enches-me os ouvidos e a cabeça com as tuas confissões; falas-me dos teus medos e dos teus sonhos - quando já os sei todos, de trás p’ra frente. Ao dar por mim, (re)habituei-me à tua presença como se nunca tivesses partido. Que até me esqueço que acabas por fazê-lo sempre. Nunca falhas. Aliás, só não falhas nisso; falhas em tudo o resto.


Sempre fui a tal que se apaixonara por todas as tuas cicatrizes, enquanto tu odiava-las por completo. Mas eu não era capaz de não gostar de cada uma delas, porque todas faziam parte de ti. E que ser lindo que tu eras - ainda és, hei-de sempre pensar isso. Por mais asneiras que faças. Por mais erros que cometas e partilhes de imediato comigo. E eles todos me magoam - um a um -, e eu nem sou capaz de to dizer. Talvez, quiçá, se o fizesse, tu parasses de uma vez. Quiçá, deixarias essa vida de nómada da noite; deixarias as outras e ficasses comigo. Ou então simplesmente afastar-te-ia de mim para sempre, quem sabe? Nunca saberei porque jamais teria a coragem de confessar-te o quanto me magoas. O quanto me continuas a magoar de cada vez que te aproximas. De cada vez que te abro esta porta desta casa que é o meu abraço, que nunca se fechou para ti. Mas tu nunca lhe deste o devido valor; nunca; jamais. Eu sou aquela que está sempre cá, não é verdade? Serei sempre aquela de quem mais precisas, mas nunca aquela que tu realmente queres.


E no entanto não consigo mandar-te embora. Não consigo cruzar estes meus braços, nem fechar-te esta porta, porque sei que, sem eles, ficarias perdido - mais do que imaginas, mas menos do que o suficiente para te fazer ficar.

Cansei-me de acreditar no "desta vez será diferente", quando o paleio é sempre igual. Cansei-me de sonhar com o dia em que simplesmente ficássemos juntos. Cansei-me de imaginar um futuro ao teu lado, quando nem no meu presente és certo de cá estar. Já me cansa, entendes? Espero que nunca te arrependas de todas as minhas oportunidades que deixaste escapar, como eu me arrependo de todas as que esgotei contigo. E também espero que nunca fiques preso, algures, a pensar no que poderíamos ter sido, se a tua preguiça e o teu medo de tentar não tivessem sido mais fortes do que tu.


Sempre soubeste que eu não era completa; dizias-me que também não o eras, e que não fazia mal, porque não era suposto sermos. Dizias-me que devíamos amar-nos nas peças que nos faltavam. E eu acreditava em ti, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis. Tanto tempo levei a aperceber-me no mais temível facto que toca a nós: sempre fomos impossíveis. Devíamos ter sabido melhor.

Sussurro-te um "amo-te" mudo pela última vez, enquanto te vejo partir de novo... Já nem sei quantas vezes foram; que terrível realidade. Mas para mim chega, e desta vez será diferente. Tem de ser. Cansada já eu estou de me esfolar; de me queimar só para te ver sorrir, quanto tu acabas sempre por me virar costas, nunca tendo coragem de encarar nenhuma das minhas lágrimas derramadas por ti.

quarta-feira, novembro 12, 2014

O SEGREDO PARA (te) ESQUECER


Como é que existem pessoas capazes de desrespeitar de tal forma alguém que, outrora, lhes fora o mundo? É uma coisa que jamais entenderei, por mais anos que viva. Como, num momento, estás a dizer a alguém o quanto o amas, para uns tempos depois, estares a passar por ele na rua como se ele nunca tivesse existido. Como, num momento, prometes-lhe o mundo inteiro para, seguidamente, estares a deitá-lo abaixo, sem qualquer pudor. Como, num momento, estás a dizer-lhe o quanto significa para ti, para, mais tarde, ires contra todas as tuas palavras.

As coisas começam. As coisas terminam. Laços perduram e desenlaçam-se. A vida é mesmo assim. E ninguém é obrigado a ficar connosco. Principalmente contra a sua vontade. E, no entanto, o que custa mantermos o respeito e a estima? A consideração por alguém que costumava ser a razão do nosso sorriso? Porque é que as pessoas tendem a desrespeitarem-se tanto, como se nunca nada tivesse significado nada, simplesmente por não ter corrido como pretendíamos?

Temos o direito de sentir mágoa. Temos o direito de querer aquele distanciamento necessário para que nos sarem as feridas. Para nos recompormos da queda. E – não me interpretem mal – já muito fui empurrada por outrem. Já contive rancores e enviei olhares de maior desdém. E, no entanto, foi a partir do momento em que me senti capaz de lhes sorrir – a quem tanto me tinha magoado -, que comecei a sentir-me realmente sarada.


Manter o ódio não é a fórmula do esquecimento. Difamar até à exaustão também não. São simplesmente actos vulgares. E acham justo? Acham justo vulgarizarmos algo que, outrora, nos aparecia como a coisa mais extraordinária de todas? Acham justo repudiarmos alguém para sempre, quando essa, outrora, foi a nossa eternidade? E mais: achas justo sacrificar uma pessoa por simplesmente ter seguido a vontade do seu coração?

Diz-se que existem sempre dois lados de cada história. Pois também existem dois lados de cada fim. E em vez de nos prendermos, obsessivos, às suas razões, porque não ir aceitando-o lentamente? Um fim é um fim, e não serão as suas causas que te trarão a paz. Temos de começar a entender que: o fecho de algo, será sempre o começo de outra coisa qualquer. E quem sabe, uma coisa maior do que todas as outras que a antecederam?

Acima de tudo: respeitem-se. Nem é pedir muito. Sigam com as vossas vidas e deixem outrem fazer o mesmo. No final, todos nós queremos ser o mais felizes possível, e encontrar alguém que partilhe isso connosco. Umas vezes, acerta-se. Noutras, falha-se. A vida é mesmo assim. E ela não pára por ninguém. E enquanto te vais enchendo de ressentimentos vãos, o relógio não pára e ninguém vai aguardar que te decidas. Pensa no que podes estar a deixar escapar, enquanto te cegas por aquilo que já te escapou.


Quando um laço deixa de o ser, tal não significa que tamanho amor nunca existiu. Simplesmente significa que todas as suas cordas deixaram de ser suficientes para suster o seu nó. E para que é que haveremos de nos preocupar com quem tem a culpa? Com quem se saiu pior? Parem. Deixem-se disso, que jamais vos levará a algum lado. Desperdício de tempo, é o que é!

O vosso fim tirou-te tanto. Mas - lá está - foi o ‘vosso’, não o ‘teu’. E do que é que estás à espera? Há um novo começo, algures, prestes a acontecer. E não será isso fascinante? A forma como somos capazes de sarar das piores quedas? De ultrapassar as piores fases, quando tudo o que queremos é desistir? Somos tão fortes. Somos tão extraordinários. E somos tão tolos, por perdermos tanto tempo à procura de alguém, quando nos devíamos concentrar principalmente em tornarmo-nos nalguém de quem se precisa.

Sê o melhor que consegues ser. Perdoa e deixa ir, como só os fortes são capazes. Sê cada vez melhor a cada dia que passa. E, num dia qualquer, o melhor para ti irá aparecer. Até lá, não percas tempo. Afinal, o objectivo da vida é viver tudo enquanto se pode, não achas?

Então, quanto tempo mais vais deixar o Passado comandar a tua vida?

quarta-feira, novembro 05, 2014

(Não) tenho (mais) saudades tuas.



Hoje acordei sobressaltada com uma verdade intensa a sussurrar-me ao ouvido, tal qual um mosquito. Verdade essa que tanto gritava de dentro de mim: “Já não tenho (mais) saudades tuas”, apanhando-me de surpresa.

Sentir a tua falta tornou-se nos meus dias todos. Ainda mais nas minhas noites passadas em branco. E já nem sei eu desde quando. Só me lembro de ter chegado à altura em que simplesmente deixei de contá-los. Os dias sem ti. Que passaram a ser a minha mais cruel e típica realidade.

Apercebi-me, hoje, que de facto não tenho saudades tuas. Não. Não é (mais) de ti de quem sinto falta. Nem desse teu ser mais imprevisível que qualquer outra coisa. Nem desse teu ar de quem não quer saber de nada, a não ser de si mesmo. Nem dessa tua vida tão trivial, de quem só sabe desperdiçar o seu tempo. Não. Eu não sinto absolutamente falta nenhuma disso.

Ao invés, admito que sinto falta de quem tu eras. E de tudo aquilo que costumavas ser. O rapaz tão afável, que me beijava a testa, em qualquer abraço. Que sorria entre cada beijo. Que me agarrava a mão, sem que eu sequer estivesse à espera. Que me sussurrava o quanto gostava de mim, mesmo sem te perguntar. É desse que sinto mais falta, afinal. E onde está ele, agora? E onde esteve ele, ao longo de todos estes tempos, que passaram e me levaram de mim? Que tanto me fizeram perder-me em desilusões e em dúvidas? Onde esteve ele, enquanto caía? E onde estava ele, quando tive de me levantar sozinha, depois de me ter empurrado?


Costumavas dizer-me que, acima de tudo, eu seria sempre aquela. E nem dizias mais nada do que isso. Nem tinhas, porque eu percebia. E nem imaginas a falta que me faz essa pessoa. Esse “tal” e esse “mais que tudo” que representavas para mim. Nem uma resma desse alguém que me amou conseguiste guardar aí dentro. E (sinceramente) estás tão longe de ser quem foste. A cada dia que passa, mais longe te encontras. Não pareces mais tu. Nem sei eu há quanto tempo.

Não tenho saudades tuas. Como posso ter saudades de alguém que nunca conheci? E este – tu, agora – não é, de todo, o homem que adormecia ao meu lado, naquelas noites quentes de Verão. Nem aquele que me segurava, enquanto eu chorava, tentando animar-me acima de tudo. E muito menos aquele que – todos os dias – provava ser merecedor do meu tempo, da minha confiança e do meu amor louco. Agora questiono-me se ele alguma vez (sequer) existiu.


E esta verdade esmaga-me como um bicho. E esta realidade atroz vai-me afastando cada vez mais de ti. E eu não me importo (mais), porque deixaste de fazer-me falta. Porque é que hei-de agarrar-me a algo que só me puxa para baixo consigo? Não costumava(s) ser assim. O que raio te aconteceu?

Costumava ficar tão triste enquanto pensava no que tinha deixado escapar, ao te ter perdido. E, no entanto, hoje, apercebo-me que quem perdeu mais, no meio disto tudo, foste tu.

Para além de me teres perdido para sempre. Perdeste-te completamente de ti próprio.

sábado, outubro 25, 2014

Por favor. Peço-te. Pára e deixa-me.


Por favor. Peço-te por tudo. Pára de encurralar-me no mesmo beco sem saída. Pára e deixa-me ir. Porque é que continuas aqui? Deixa-me só, na solidão em que fui obrigada a tornar-me. Deixa-me na mágoa toda com que me inundaste. Deixa-me na dor que plantaste à flor da minha pele. Deixa-me no silêncio a que me submeteste. Deixa-me.

Eu estou a tentar. Eu juro-te que estou. Mas parece que não me deixas. Para onde quer que eu olhe, encontro-te sem querer. Seja nas noites de insónias, aonde me assaltas os sonhos (e pesadelos), sem pedir permissão. Seja naquelas ruas onde costumávamos passear lado a lado. Seja nas músicas que me dedicaste, outrora. Seja nas palavras que me entregaste e que trago sempre comigo nos bolsos – e foram tantas. (Será que sequer as lembras?)

Cansei-me de esperar que tudo melhorasse para nós os dois. Deixei-me de acreditar que, um dia, largarias tudo isso que te prende – o medo, as outras, a falta de vontade – e ficarias comigo de vez. Cansei. Estás a ouvir-me? Já cá mais não estou à espera que te decidas. À espera que te apercebas do quão capaz eu seria por ti. À espera que percebas que é ao meu lado aonde deverias estar. Porque é que eu hei-de desperdiçar mais um dia que seja a tentar convencer-te, se deveria partir logo de ti?


Já lá vai o tempo em que me merecias. O meu abraço – que era a tua casa. O meu beijo – que era a morte da tua sede. O meu coração – que era só e todo para ti. E a minha vida – que era tão nossa.

Por favor. Peço-te por tudo. Deixa-me estar. Segue sem mim, de uma vez. Mas não voltes mais. Nem hesites. Cansada já eu estou que partas, só para voltar – uma e outra vez. Sempre com as mesmas dúvidas e os mesmos erros debaixo das mangas. Cansada já eu estou de ver-te partir – uma e outra vez -, sem nunca dizer nada, como se eu não passasse disso mesmo.

De facto, tu tinhas razão, de todas aquelas vezes em que me dizias que, juntos, éramos a melhor dupla. Tinhas razão. Porque eu sempre fui uma pró a criar altas expectativas para ti; e tu um ás em deitá-las abaixo, logo em seguida. Tinhas razão. Melhor não há!

Acabou-se, ouviste? Acabou, para mim. Vou fechar-te esta porta. Vou mudar de fechadura. Vou apagar o teu nome por todas essas ruas; desligar-me de todas aquelas músicas; afastar-me indubitavelmente de ti. E se um dia, mais tarde, sentires a minha falta, fala para o vazio. Bate a uma porta trancada. Senta-te no alpendre, à chuva, à espera de uma resposta minha que jamais virá. Recebe nada mais que silêncio: um que te sufoca e que te arde num peito que tem tanto a dizer.

Talvez aí finalmente percebas aquilo que me fizeste sentir, durante tanto tempo.

quinta-feira, outubro 23, 2014

Agarra no telemóvel. Agora, liga-lhe.


Agarra no telemóvel. Já está? Agora, insere os dígitos certos. Está? Então, agora, liga-lhe. Ou manda-lhe uma mensagem; como preferires. Está na hora. É agora. Tem de ser. A espera terminou.

Não te deixes ficar – nem mais um único dia – nesse impasse. O que tens a perder, afinal? O que é que se tem a perder, quando já nada é certo de se ter? Anda lá e diz-lhe. Diz-lhe tudo, sem hesitar. Não tenhas medo de tropeçar nas palavras, ou de ficar uns dez minutos em silêncio, sem saber como começar. Liga-lhe e confessa-te. Diz-lhe que é tudo ou nada, e que não cá mais intermédios para ninguém. Que ou é, ou não é. Liga-lhe, e diz-lhe: acabou-se a hora de fugir. E de evitar todas as perguntas que têm de ser feitas e respondidas. Liga-lhe e diz para deixar de ser cobarde e encarar-te de frente. A ti, e aos seus actos. Diz-lhe que, por mais que ele fuja, no final, serão sempre os dois a decidir. Diz-lhe que te cansaste de esperar pelo incerto; que te cansaste das dúvidas, dos pontos de interrogação e das reticências. Liga-lhe e grita-lhe, se for preciso. Tu não queres mais sentir-te um vaivém na sua vida. Tu estás farta de nem saberes o que representas para ele, afinal de contas. E tu não toleras – nem mais um único dia – neste típico labirinto; nesta mesma peça de teatro, que já nem espectadores tem. Liga-lhe. Está na hora de saber.


Pergunta-lhe se ele acha justo. Vá, pergunta-lhe. Se ele acha justo deixar-te rodeada de questões e suposições, que tanto te cansam a cabeça, dia após dia; que te arrancam do sono, à noite. Se ele acha merecido o facto de, nuns dias, te tratar como a maior prioridade, para, noutros, te fazer sentir como última opção. Pergunta-lhe. Pergunta-lhe se ele acha justo ser os dias todos do teu calendário, enquanto te trata como um entretenimento para as horas vagas. Pergunta-lhe, e se o deixares sem resposta, aí tens a que precisavas.

Diz-lhe que podes adorá-lo o quanto baste, mas que se “isto” é o tudo que ele te pode dar, então não te merece de todo. Diz-lhe, enquanto tentas suster as lágrimas, que estás demasiado cansada para continuar a lutar sozinha. Diz-lhe, que a única coisa que querias realmente era fazê-lo feliz, enquanto ele está demasiado ocupado a fazer de tudo para manter-se miserável.

Despede-te dele. Vá, tens de desligar agora. Está na hora. O pior já passou.

Agora é a vez dele, de agir. De correr atrás. De fazer-te mudar de ideias. De implorar-te para que o deixes provar-te de que ele é o homem por quem te apaixonaste; alguém que vale realmente a pena. Caso ele não o faça, acredita que ele está a fazer-te o maior favor de todos.

Se ele não está cá para ti, agora, quando mais precisas... Quando é que vai estar? Aí está: nunca.

terça-feira, outubro 21, 2014

O que podíamos ter sido (?)


O que podíamos ter sido? Nunca o saberei. Já lá vai. Já passou. É isto que mais me desconcentra acerca do Amor... Como num momento, é tão grande e é tão tudo; tão maior do que todas as outras coisas. E depois? Perde-se por uma coisa de nada, e tão dificilmente se volta a encontrar.

Marcaste-me como ninguém. Até agora. À noite, sou embalada pelas palavras que costumavas sussurrar-me ao ouvido. Como se ainda estivesses aqui a dizer-mas. Fujo do sono, com medo de as perder para sempre – como te perdi a ti. E, neste quarto, ainda sinto o teu aroma sóbrio a noites de Inverno. Como se estivesses cá estado ontem. E à flor da minha pele, ainda sinto o ardor da tua. Mesmo que já faça uma era desde a última vez que me tocaste.

O que podíamos ter sido? Não sei. Mas sei o que fomos, outrora. Fomos tudo aquilo que conseguimos ser. Acreditas em mim? Acreditas em mim, quando te digo o quão felizes fomos? E nem nos apercebíamos disso na altura. Limitávamo-nos a viver e a amar como se fosse para sempre... O amor é mesmo assim. É ignorar o fim a cada esquina. O adeus a cada final do dia. E o pesadelo que seria a vida sem o outro.


Mas o fim apareceu-nos, meu velho amor. Como nunca esperáramos, mas como seria de esperar. O para sempre tem o tamanho que nós lhe damos, e nós tivemos o nosso. Ao teu lado, nunca contei dias, momentos, horas ou o que quer que fosse. Soube-me tudo a infinitos. Amar é mesmo isso, sabias? É viver cada dia ao lado de quem amamos como se fosse o primeiro e o último, simultaneamente.

Podíamos ter sido mais. Podíamos ter sido menos. Mas o Amor nem é nem mais, nem menos. É. Simplesmente é. E nem sabes o quão feliz me encontro por poder dizer – em voz alta – o quanto o vivi contigo.

Não escolhemos quem amamos. Não escolhemos quem nos magoa. No entanto, a escolha é nossa no que toca a quem vale a pena amar. E por quem vale a pena sofrer. Amar-te foi um privilégio e sofrer por ti foi uma honra. E como poderia arrepender-me do que quer que seja no que toca a ti, se foste a escolha que mais quis em tempos?

Respeitem o amor. As suas questões, os seus dramas e também o seu fim. Muitas vezes, ao tentarmos salvá-lo, agarramo-lo com demasiada força... acabando por sufocá-lo. Obrigada por me teres ensinado que, muitas vezes, amar é deixar ir. Deixar ser livre para voltar, ou não voltar nunca mais. Logo se vê.


O que podíamos ter sido? Nunca saberemos. Já lá foi. Já passou. E, no entanto... Teremos sempre o nosso para sempre lá atrás. Imortal e enclausurado nas memórias que vivemos a dois: nos lugares, nas músicas, nos gestos, nos segredos. Algures num tempo qualquer.

O Amor é assim. Não é passado, nem presente, nem futuro. É. Simplesmente é. Por mais que nem faça sentido... Por mais que os tudo's virem nada's. O Amor é mesmo assim. Acreditas em mim quanto de digo que não mudaria nada?