sábado, março 29, 2014

Disseste-me que éramos como o Sol e a Lua.

Talvez seja verdade. Talvez não tenhamos sido mais do que um daqueles tipos de amor: destinados a apaixonarem-se, mas não a ficarem juntos. Um amor impossível, quiçá. Mas como poderíamos não ser possíveis, se existimos? Eu sei que fomos reais, algures, nem eu sei bem onde. Mas fomos. Eu beijei-te. Uma e outra vez, até te passar a certeza de que era ao meu lado que tu pertencias. Adormecemos tantas vezes juntos. E, assim, também acordávamos, no dia seguinte. Então, o que nos aconteceu? Diz-me. Foi o medo, não foi? Andavas sempre com ele contigo. E eu dizia-te uma e outra vez: que medo também eu tinha. Mas que amar significa mantermo-nos seguros. Tu nunca compreendeste o que te dizia. E acabavas por tentar proteger-te de mim, em vez de te protegeres comigo. Refugiavas-te. Fugias-me. Mandavas-me embora. E eu ia. Depois, quando me chamavas, eu voltava. Bastava dares-me as indicações que quisesses, e eu seguiria contigo ou sem ti, fosse qual fosse a tua vontade. 

E, por isto, te digo: talvez nunca fomos feitos para ficar juntos, como naquelas histórias que os nossos pais nos contavam em crianças, nas noites malvadas enquanto o sono não vinha. Não. Quiçá, ao invés, estejamos destinados a amar-nos em silêncio e às escuras, como naquele jogo das escondidas, que tu tanto gostavas de jogar. E que eu nunca compreendi. Que sentido é que faz? Mandavas-me esconder-me de ti, para depois vires à minha procura. Mas, ao encontrares-me, tinhas de ser tu o que se esconde e eu a que te procura. Que sentido é que isso faz? 

Numa noite, disseste-me que seríamos sempre como o Sol e a Lua. E eu fiquei confusa, mas deixei-te continuar. Disseste-me que eles se amavam, em segredo, porque ninguém era capaz de compreender como duas coisas tão contrárias eram capazes de se amar. Mas eles não se importavam. Continuavam a fazê-lo por não saberem fazer outra coisa. O Sol morria todos os dias, ao final da tarde, para que a Lua pudesse viver as suas noites. Cruzavam-se longe dos olhares do Mundo, na linha do horizonte. Trocavam um beijo de como quem se despede para sempre, porque, na verdade, nunca nenhum deles partia com a certeza de voltar. Mas voltavam sempre. Levasse o tempo que levasse. E assim iam vivendo aquilo a que chamam de Amor. Por muito que lhes ferisse. Por muito que lhes tirasse tanto. Por muito que não fizesse qualquer sentido. 


De lágrimas nos olhos, senti pena do Sol e da Lua que tanto se amam, que tanto se cruzam, mas só por breves momentos; nunca destinados a ficarem juntos para sempre. A terem todos os beijos que quisessem trocar. A abraçarem-se as vezes todas que lhes apetecesse. Que Mundo injusto esse, pensei para mim mesma. 

E, aí, tu disseste-me para não chorar. Disseste-me que eles teriam sempre o Eclipse Solar. Aquele acontecimento raro e extraordinário, em que ambos se juntam, em simultâneo, nos céus, deixando o Mundo em plena escuridão, pois toda a sua luz passaria a existir só para eles os dois. E, aí, permaneceriam juntos, sem ninguém ver, sem ninguém saber, a amarem-se, a beijarem-se e a saborearem aquele momento fugaz que lhes bastava para acreditarem que não existem Amores impossíveis. 

Aquele momento”, dizias-me, “é o único para sempre de que eles precisavam.” E depois beijavas-me a testa calada e, em seguida, os meus lábios trémulos. “Porque esse ninguém lhes tira.” 

Ainda hoje me pergunto se aquele momento foi o nosso para sempre. Nem dei por ele a passar.

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