sábado, junho 21, 2014

Se pudesses ouvir-me agora... Mas não podes.


Se pudesses ouvir-me agora, eu dir-te-ia tantas, mas tantas coisas... Nem saberia por onde começar de tantas que são.

Penso que começaria por dizer-te o quanto me fazes falta, por entre estes dias que tive de dividir por um. Que não houve um único pôr-do-sol que não me fizesse lembrar-te, nem que fosse só por um breve momento. Nem nenhuma noite em que não adormecesse com a típica questão a zumbir-me ao ouvido: “onde será que estás agora?”.

Se pudesses ouvir-me agora, eu perguntar-te-ia se estavas bem. Se tens tido ressacas valentes ou constipações teimosas. Se tudo se mantém calmo lá por casa. Perguntar-te-ia o que tens feito por entre todos esses dias aonde eu não chego, nem apareço. Se também pensas em mim, neles. E se naquelas noites estreladas também dás por ti comigo no pensamento, mesmo que só por um breve momento.

É tão doloroso quando alguém que já foi tamanha parte de nós vira uma espécie de estranho. E como poderei eu chamar-te isso, quando sei tanto sobre ti? As tuas manias, os teus sonhos e todos os teus traços? Ainda os sei de cor, apesar de teres partido há tanto tempo... Será que mudaste de penteado? Será que emagreceste ou engordaste? Será que continuas a sorrir da mesma maneira? É tão estranho teres virado um estranho... Ainda me custa habituar-me a isso mesmo. É, quiçá, a maior das minhas dores. A seguir – claro – à de te ter visto partir, em primeiro lugar.


Se pudesses ouvir-me agora, eu dir-te-ia que deixamos marcas por todas vidas por que passamos – por mais brevemente que seja. E que, ao partirmos, condenamo-las a nunca mais voltarem a ser as mesmas. E as marcas – a única coisa que deixaste para trás – ainda me latejam e mudaram-me de uma forma que nem sabes.

Às vezes, pergunto-me o que faria se pudesse ver-te agora... Se sorriria para ti, ou simplesmente fingiria não te ter visto. Às vezes, pergunto-me qual de ambas seria a opção mais fácil. E, no entanto, chego sempre à mesma conclusão... Seria tão doloroso, de uma maneira ou de outra. Aperceber-me que nunca mais passaremos disto...

Se pudesses ouvir-me agora, eu dir-te-ia o quanto gostava que tudo tivesse sido diferente para nós. Que nunca tivesses virado um estranho. Que nunca tivesses partido. Mas isso não seria justo de maneira nenhuma.


Eu só quero que sejas feliz... E se consegues sê-lo sem mim, e eu sem ti, então é porque talvez – e só talvez – foi para isso que fomos feitos. Para duas vidas separadas, como dois estranhos que, outrora, acreditaram que jamais seria assim. Dois estranhos que foram história, que foram músicas, que foram fumo de cigarros e passeios nocturnos. Dois estranhos que, outrora, se conheceram e se amaram como ninguém.

Se pudesses ouvir-me agora... Não haveria nada que te pudesse dizer, na verdade. E não será essa a maior dor de todas? Quando simplesmente nenhumas palavras jamais serão suficientes? Quando já não há realmente nada a dizer?

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