quinta-feira, junho 05, 2014

"Somos, hoje, saudade."

Será que também apareço nas tuas noites quando o sono não vem? Como tu apareces nas minhas? Tenho sempre o mesmo sonho. Camuflados por entre o fumo do tabaco, suspiramos entre beijos demorados, enquanto me afagas o cabelo e entrelaças os teus dedos – num perfeito encaixe – com os meus. Albergo-me no teu abraço e sinto-te a vestires-me o teu casaco, como se - só assim – fosses capaz de me abrigar do mundo em volta, que sempre me tirou mais do que me deu. Agarravas-te a mim, num silêncio que sussurrava “de ti, ninguém me tira”. E, aí, eu choraria debruçada no teu peito, que batia em uníssono com o meu – como se fôssemos duas partes da mesma peça; como se fôssemos dois abismos que se unem na única certeza que existe: o amor por que tanto caímos. De olhos semi-cerrados, desejo que o tempo pare para sempre naquele momento. Tão nosso; só nosso – em que sou mais tu, do que eu mesma. E como poderia eu alguma vez ser eu, sem sendo tu?

E, aí, acordo com os raios de sol a invadirem-me o quarto por entre as persianas. E, aí, os murmúrios matinais segredam-me que já não estás mais aqui. E, esses raios – malditos -, é como se me rasgassem em pedacinhos ainda mais pequeninos – como se fosse possível despedaçar-me ainda mais. (...) E há quem diga que devemos seguir sempre a vontade do coração; mas, e quando este está quebrado desta maneira; em tantos estilhaços? Qual desses pedaços é que devo eu seguir? Qual desses me leva a ti?

O nosso erro foi termos deixado de ser nós contra ao mundo, para sermos um contra o outro. E nem demos conta de tal. Numa desgastante batalha, que ambos dizíamos ser por amor, acabámos por desgastá-lo; por desgastar-nos; e por desgastarmos as únicas armas que nos permitiriam continuar a lutar... Para além de nos termos perdido de nós mesmos e um do outro, perdemos tudo o que nos podia ter salvo. E como um barco em pleno naufrágio – quando nos apercebemos do quanto nos afundávamos, já era tarde para socorrer tudo o que era tão nosso.


Às vezes, imploro para que o tempo volte atrás, para que nunca te tivesse conhecido. Para que nunca te tivesse roubado aquele beijo, debaixo da chuva, sem que tivesses à espera. Para que nunca te tivesse amado, como se fosses pedaço do meu ser. Para que nunca me tivesses encontrado. Nunca... Assim, não doeria tanto estar perdida, tal qual como estou agora; pelo menos, assim, não saberia o quão bom é ser encontrada por alguém como tu.

Para sempre terás um pedaço de mim contigo, por mais infortúnios que nos separem; por mais tempo que se (nos) esgote. Sou-te mais do que alguma vez saberás. Sou-te, por mais que te afastes de mim e de ti. Sou-te, simplesmente por não saber ser sem ti. E eu amo-te demasiado para te deixar acreditar que consigo viver sem ti.

Fomos sonhos tornados reais – ou realidades que mais pareciam sonhos. Fomos fumo de cigarros em fins de tarde que cheiravam a verão e a mar. Fomos longas noites debaixo das estrelas, a pedir desejos em silêncio. Fomos sorrisos entre beijos arrepiantes. Fomos guerra – ou tudo ou nada! Fomos o porto de abrigo um do outro; dois poços cheios de dúvidas, cuja única certeza era o nosso amor - e só ele nos bastava. Fomos amor; frenético, egoísta e devorador, consumindo-nos por completo. Fomos tanto. Poderíamos ter sido tudo. Tido tudo; chegado ao fim do mundo, mas nunca ao nosso.

Mas, hoje, não passamos de saudade; e de sombras frívolas do que, outrora, era o nosso castelo; e de fantasmas de um passado que ambos deixámos morrer.

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