terça-feira, setembro 30, 2014

Tu não sabes merda nenhuma.


Sabes lá tu o que é amar. Não passas de um miúdo. Olha para ti! Facilmente encantado pelo mais pequeno vislumbre de atenção. Inebriado por novas experiências fugazes e – uma a uma – falhadas. De copo numa mão e cigarro na outra, sem quaisquer preocupações. Olha para ti. Que sabes tu do amor? Que sabes tu de noites em branco, a recordar momentos – uns atrás dos outros – que jamais se voltarão a repetir, por mais que o desejes? Que sabes tu de cair em prantos incontroláveis, a única maneira – mesmo que vã – de apaziguar toda essa dor que te arde no peito? Que sabes tu de agarrar uma mão, durante tanto tempo - apesar de tudo -, e que de repente deixa de segurar a tua, sem sequer um aviso? Que sabes tu de guardar um “amo-te” secreto debaixo da língua, sempre com medo que este se soltasse, como se não passasse de um crime? Que sabes tu de fingir que não sente nada, amando no silêncio? Chorando às escondidas?

Sabes lá tu do que passei. Como poderias? Não passas de um miúdo estúpido. Os teus olhos nunca foram mais longe do teu próprio umbigo. E o teu coração nunca sequer sofreu a real agonia de ser deixado na dúvida. Ou pior: no esquecimento. E os teus braços nunca sentiram a dor da perda; da perda de outro corpo que escolheu partir, para não mais te abraçar. Sabes lá tu. Sabes lá tu o que é sofrer por quem se ama. Aquele sofrimento que nos arranca o tecto, o chão, e tudo ao mesmo tempo. Aquele que nem as lágrimas são capazes de apaziguar. Aquele que se planta sob a nossa pele, fazendo-a temer qualquer toque. Sabes lá tu o que é ter medo. Aquele medo de dar um passo que seja, de tantas vezes que caímos. Aquele medo de jamais encontrar o caminho certo, de tanto nos termos perdido em becos sem saído. Aquele medo de jamais nos cruzarmos com a pessoa certa, por já nem conseguirmos acreditar que ela existe. Sabes lá tu o que isso é.


Sabes lá tu o que é o amor. Não passas de um miúdo. E o amor é um jogo de homens. Ou deveria ser. Armas-te em malabarista de corações, mas não passas de um palhaço de circo. Armas-te em romântico, mas só quando te dá jeito, ou quando te é conveniente. Para ti, o amor é isso mesmo. É estar perto. É ser simplório. É não trazer muitos dramas à baila. É levá-la a sair ao fim-de-semana, e fazer sexo. É ter o mesmo tarifário de telemóvel. Sabes lá tu o que significa amar realmente. Sabes lá tu o que é ir atrás, mesmo que te mandem embora. Sabes lá tu o que é lutar, mesmo que sem armas. Sabes lá tu o que é ir contra o mundo e contra todos, se for preciso, por quem amas. Sabes lá tu o que é não desistir à primeira tempestade.

Que sabes tu de sentir saudades que, de tão grandes que são, fincam-nos o peito como agulhas? Que sabes tu de ver quem amas apaixonado por outra pessoa? Que sabes tu de fingir que nem te importas, só para que esse alguém seja feliz, mesmo que não do teu lado? Que sabes tu de ter de desistir da história da tua vida, só porque não te deram outra opção? (...) Que sabes tu de ver quem mais amas a ir embora, sem que o pudesses impedir? Que sabes tu de ter de voltar a uma casa vazia, ainda com o cheiro de quem partiu? Que sabes tu de dias infindos, que não te sabem a nada; que não te levam a lado nenhum, simplesmente por estares tão só? Que sabes tu de saber que a outra pessoa – outrora, o teu mundo -, está agora a construir outro com alguém, que não tu?


Que sabes tu sobre ser deixado para trás? Que sabes tu sobre nunca ser o suficiente, apesar de teres tentado com tudo o que tinhas? Que sabes tu sobre continuar a amar, mesmo que (já) nem te valha de nada? Que sabes tu sobre amar, quem já te esqueceu? Que sabes tu sobre amar para o silêncio secreto do teu coração, que chama por um nome que jamais te voltará a responder?

O amor é tudo isto, sabias? Sabes lá. Como poderias? Sempre amaram por ti.

sábado, setembro 27, 2014

Díalogos (frios) entre amigos II

Ele: Talvez o amor não deva durar. Nós é que queremos que assim seja...
Ela: Eu acredito que o amor dura se forem dois a querer. Só que a partir do momento em que um vacila, tudo o faz. Mas isso não quer dizer que não seja feito para durar... Depende, percebes?
Ele: Sinceramente, não sei. Acho que acredito tanto que existirá alguns amores eternos, como acredito que não existem. 
Ela: Eu também. Só tenho medo – muito mesmo – de nunca vir a conhecer um amor eterno na minha vida... É estúpido sentir-me assim?
Ele: O mal de todos nós é acreditarmos no amor eterno e tentarmos encaixá-lo em todas as pessoas com que estamos. O que não é saudável, nem tão-pouco realista. E não, não é estúpido sentires-te assim. Eu também tenho medo disso.
Ela: Ora aí está. E essa ideia é repugnante para mim. Como se o amor fosse uma peça de roupa que oferecemos a qualquer pessoa que nos apareça, só à espera que sirva na perfeição.
Ele: Eu também sonho com uma pessoa que ame sem regra; que queira ir até ao fim do mundo comigo; que queira ser irracional sem ter medo disso... Mas isso não se busca, encontra-se...
Ela: Eu sinceramente gostava que alguém viesse buscar-me... Estou farta de não ser encontrada por ninguém. Pelo menos que valha a pena.
Ele: Eu também, mas só se sofre com isso. Não vale a pena desejarmos isso incessantemente. Temos de aprender a viver sozinhos.
Ela: Já estou há tanto tempo sozinha que nem tive outra opção...
Ele: Também é saudável estarmos sós.
Ela: Eu sei. Mas não em demasia. E eu tenho medo de estar a ultrapassar essa linha...
Ele: De certeza que não estás... Quando alguém vale a pena, acaba por aparecer, mesmo que o tentemos evitar.
Ela: Já nem sei saber quem vale a pena. Juro-te que já não consigo distinguir de todo, e isso assusta-me. Mas enfim... Também não me parece que alguém vá aparecer tão cedo. Talvez seja melhor.
Ele: Não penses nisso... Aproveita para te divertires.
Ela: É o que resta, não é? E é o que faço. Então e tu? Não te vai fazer confusão ficares sozinho, depois de tanto tempo?
Ele: Ando a fugir a isso... Mas vai ter de ser. É o melhor.
Ela: Eu sei que andas... Mas não precisas. Não é tão assustador assim. Uma pessoa habitua-se.
Ele: Habituaste-te à solidão?
Ela: Às vezes, nem a sinto... Mas sei que existe.
Ele: ...
Ela: Os primeiros tempos da solidão são os mais solitários. Mas, depois de tanto tempo, já nem te lembras de outra coisa. Recordas-te, sim. Haverá dias em que sentirás falta de tanta coisa. Noutros, sentes-te mais livre do que nunca. É uma oscilação de dias bons e dias maus. Ao dares por ti, já nem sabes bem o que é não estar sozinho.
Ele: Obrigado.
Ela: Porquê?
Ele: Foi a primeira vez que me senti menos assustado com a ideia de solidão.
Ela: Obrigada eu.
Ele: Porquê?
Ela: Foi a primeira vez, nos últimos tempos, em que não me senti tão sozinha.

Ele cheira(va) a vício.

Viciei-me em ti. Viciei-me em tudo o que de ti faz parte. Viciei-me nos teus olhos cor de carvalho, onde tanto me perdia em buscas pela tua alma. Viciei-me no teu aroma agridoce; uma miscelânea de cigarros e manhãs de Inverno. Viciei-me no teu abraço, que era mais que um abraço: era a minha casa, o meu lar. Viciei-me no teu coração, onde me refugiava do resto do mundo.

Os vícios corroem-nos por dentro. Abandonam-nos de nós mesmos. E vício não será vício se não nos tirar da nossa própria alma e do nosso próprio corpo. Foi o que tu foste. Saí de mim para me fundir em ti; viver em ti... Doentio. Amar-te tornou-se tal qual uma doença incurável. E eu não me importava de todo, porque – a cada dia – sentia que tudo valeria a pena. Deixada de ser eu, para ser tu, em qualquer dia.

O meu maior medo sempre foi este: lidar com a abstinência de ti. A ressaca da tua ausência atroz. Os tremores das minhas pernas e dos meus dedos, que me tornaram incapaz de seguir, ou de me agarrar ao que quer que fosse. O vazio de uma alma doente. O eco seco de um peito deixado em ferida; aberto. Nem me reconhecia, sem ti. Tornaras-te de tal modo em tudo aquilo que eu era, que, quando partiste, acabaste por levar-me também a mim contigo. Nem reparaste nisso, pois não?


Depois do amor, não ficamos nunca com o mesmo tamanho. Ficamos mais pequenos. Com espaços em branco por todo o lado. Espaços, outrora, ocupados por outrem, que partiu. Que levou tanto consigo. Depois do amor, ficamos quebrados; com a sensação de que falta sempre qualquer coisa. E falta. E essa falta dói tanto. Tanto. A ausência de tudo é a maior dor e dói-nos no corpo todo. Rodeei-me de tanta gente, mas cá interiormente estava sempre só. Tanta gente fora, mas ninguém dentro.

As lágrimas impediam-me de ver o que quer que seja. Turvavam-me os caminhos: esses, que não me levariam a ti. Bebia-as e sabiam-me a nada: esse, que se tornou em tudo, desde que partiste. São essas as lágrimas que nos doem mais, porque nem para nos aliviar servem. Só nos sufocam. Afogamo-nos nelas. Perdemo-nos.

Depois do amor, só nos fica a ausência. Rodeia-nos como paredes. Torna-se em tudo aquilo que temos, que é nada. Um nada para agarrar. Um nada para nos manter vivos. E como poderia chamar a isto de vida, se outrora ela eras tu? E tu eras ela? E agora? Que me resta, agora, depois?

Depois do amor, temos de preencher os espaços deixados vazios. Mas talvez nem haja uma maneira de o fazer. Talvez estejamos condenados a sentir sempre a falta. Talvez nunca nos tornemos completos, de novo. Era esse o meu maior medo: ser deixada para sempre com a tua ausência a pulsar dentro de mim. Numa vida que nem sabe a isso, de tão vazia que se encontra. Numa realidade desprovida da tua presença.

Realidade? Nem isso é. É o maior dos pesadelos.

quinta-feira, setembro 25, 2014

O que raio aconteceu ao Amor?!


Todos cometemos erros. Todos pagamos um preço. E uma coisa que vim a aprender, ao longo da minha vida, é que as piores pessoas não são as que erram mais... Mas sim, as que agem como se não errassem. As que fogem ao preço e à sentença do erro que cometeram. As que (se) escondem, só para não terem de lidar com as consequências dos seus próprios actos.

Vou vos ser sincera: já fiz coisas más. Já agi sem pensar de todo. E, no entanto, sempre fui a primeira a admiti-lo. Porque é assim que tem de ser. Uma pessoa só aprende com os seus erros, se os aceitar como seus. Quem não o faz, não aprende – e ponto. São essas as pessoas que mais me assustam. As que teimam em fugir às lições mais dolorosas; aquelas que tão desesperadamente temos de aprender.

Apercebi-me que os piores monstros não são aqueles com 20 metros de altura, com garras espessas e olhar assustador. Não. O pior monstro é aquele que se esconde por detrás de uma máscara de salvador... E existem tantos, mas tantos. Esses são os piores, porque se escondem... Para nos deixarem sem saber quando fugir.

Quando se comete um crime, sofre-se um julgamento. É bastante básico, não acham? E os piores criminosos não são aqueles aprisionados por detrás de celas, a apodrecerem na própria merda que fizeram, outrora... Não. O pior criminoso é aquele que anda à solta por aí, disfarçado de santo. E existem tantos, mas tantos... Esses, sim, são os piores; os que fingem que nunca se passou nada e seguem com as suas vidas, como se nada tivesse acontecido. Para além de criminoso, é cobarde. As piores coisas que alguém pode ser.

Cometam erros. Os que quiserem. Mas admitam. Sejam sinceros para convosco e para com o mundo. Sejam adultos para arcar com as consequências dos vossos actos. Porra, será pedir muito?

Há tanta falta de respeito neste mundo. Sempre o soube, mas sinto-o cada vez mais. Andam por aí feitos loucos assassinos, a dispararem para todos os lados, sem nunca pensar em quem podem estar a atingir. Naquilo que destroem. Nas vidas que estão a deixar cicatrizadas para sempre. Simplesmente vão em frente, fazem como querem e depois partem... Deixando os inocentes a arrumar os destroços sozinhos. 

Vivemos num mundo em que, num dia, ele está a dizer-lhe que a ama; que para sempre a respeitará. Para, no dia seguinte, ir contra todas as suas palavras. Num dia, ela diz que o deseja; que ele vale tanto a pena. Para, no dia seguinte, mandá-lo embora sem justificação. Vivemos num mundo em que histórias de anos são arruinadas num único momento. Corações são tratados como presentes de aniversário, que se podem devolver se guardares o recibo. O que raio aconteceu ao Amor?!

Eu só sei que tenho cada vez mais medo de amar e de confiar. E não me interpretem mal. Sei que existem excepções e que não existem só monstros e criminosos por aí, mas... Como acertar? Haverá sequer alguma forma, ou é simplesmente à sorte, tipo tiro no escuro? Talvez seja isso. Talvez o Amor seja uma questão de pontaria.



Pois, se é, eu estou lixada. Não há maior cega do que eu.

quarta-feira, setembro 24, 2014

~ 30 FACTOS SOBRE MIM ~

1. Nasci na Ilha do Pico, que pertence ao Arquipélago dos Açores e onde se encontra o ponto mais alto de Portugal.


2. Tenho fobia a balões de festa – das fobias bizarras mais comuns! Chama-se “globofobia” e a Oprah admitiu tê-la.


3. Um dos meus maiores passatempos é aprender línguas. Nomeadamente, o Alemão, o Francês, o Espanhol e, em breve, o Italiano.


4. Saí da casa dos meus pais aos 17 anos, para viver aonde agora me encontro: Lisboa.


5. Muitos dos meus escritores favoritos cometeram suicídio: Ernest Hemingway, Virginia Woolf, Florbela Espanca, Mário Sá Carneiro e Jack London.


6. As bandas/intérpretes que ouço com mais frequência são: Nirvana, Radiohead, Pink Floyd, Kings of Convenience, Chet Faker, Arctic Monkeys e Tiago Bettencourt (Toranja).


7. O meu filme favorito é “O Pianista” (The Pianist), porque retrata o período histórico que considero mais ‘fascinante’. E “As Horas” (The Hours), baseado no romance de Virginia Woolf, Mrs. Dalloway.


8. Considero-me uma boa conselheira e alguém de confiança (modéstia aparte!).

9. Estou no último ano de licenciatura: Relações Internacionais, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, em Lisboa.


10. Quando me exalto, torno-me nalguém um tanto sarcástico e arrogante.

11. Sofro de um ‘distúrbio’ de sistema nervoso chamado “Depressão-Ansiedade”, que se manifesta através de ataques (sistemáticos ou esporádicos); uns controláveis e outros nem tanto. Fui diagnosticada com 17 anos.


12. Devoro livros, principalmente romances (mas não dos muito ‘enjoativos’ – a meu ver, claro) e policiais.


13. O meu destino favorito de férias foi a Magaluf, Palma de Maiorca, Espanha - Viagem de Finalistas, em Abril de 2011. 


14. Foi graças à minha avó materna (que também foi a minha primeira professora), que me apaixonei completamente por ler e escrever. Zilda Silva. 


15. Uso óculos desde o 4º ano e tenho 6 dioptrias no olho esquerdo e 4 no direito (o que significa que não vejo um palmo à frente dos olhos). Sofro de miopia e estigmatismo.

16. Tenho claustrofobia (medo de espaços fechados) e não consigo andar de elevador (não dá! É uma espécie de caixão para mim!).

17. Não me interesso absolutamente nada por novelas de qualquer tipo, ou jogos de futebol.

18. A minha bebida favorita é cerveja (para mim, suplanta qualquer sumo. Sim, é verdade). Desculpa avó!


19. Os meu pratos favoritos é strogonoff e canja de galinha (da mãe, principalmente!).

20. Recebi o meu primeiro computador aos 12 anos e comecei logo a aprender a teclar o mais rápido possível sem olhar para o teclado (nerd side of me).


21. Os meus maiores sonhos são percorrer a Europa e publicar um livro (pelo menos).

22. Pretendo tirar um Mestrado no estrangeiro, em Bruxelas.

23. As minhas séries predilectas são: The Big Bang Theory, How I Met Your Mother, Dr. House, Friends, Sex and the City, e The Simpsons.

24. O único animal de estimação que tive foi aos 13/14 anos: uma gata chamada Manchinha e teve de ser abatida devido a hemorragias internas.


25. Sou filha única e os meus pais são ambos empresários por conta própria.


26. Os concertos favoritos que vi ao vivo foram: Linkin Park, Queens of the Stone Age, Kings of Convenience e David Fonseca.


27. Tenho uma memória a curto-prazo bastante limitada, logo, sou praticamente incapaz de decorar datas de aniversário (e datas em geral), recados que me pedem e etc.

28. Como profissão, adorava trabalhar no Parlamento Europeu.

29. A frase cliché que mais abomino é “querer é poder”, porque não é verdade. Muitas vezes, por muito grande que seja o nosso querer, jamais será suficiente (tinha de vir algo deprimente, como é óbvio!).

30. Se pudesse dar um conselho ao mundo inteiro seria: “Estamos todos aqui para sermos felizes. Então, porquê agarrarmo-nos a ódios e a intrigas que, em breve, serão insignificantes? Errem. Aprendam. Errem, de novo, até o fazerem. Aprendam a amar-se e a respeitar-se ao máximo. E nunca tomem ninguém como garantia, porque absolutamente nada o é. Dêem valor a quem vos rodeia. Persigam os vossos sonhos, mesmo que vos digam o quão impossível será. Cometam loucuras e nunca deixem o medo se intrometer no vosso caminho. Façam da vossa vida o mais extraordinário possível. Para, no fim, olharem para trás de modo a que digam a vocês mesmos: repetia tudo de novo, e não mudava nada.

domingo, setembro 21, 2014

Os opostos (des)atraem-se.


Nunca concordávamos com nada. E eu nunca percebi bem se era simplesmente por termos opiniões diferentes, ou se era só para nos irritarmos um ao outro. Até nas coisas mais pequeninas e ridículas... Como o facto de eu meter açúcar no café. Algo tão insignificante, mas que te irritava completamente. “Meter açúcar no café é mudar a sua essência”, dizias-me tu, “Nem digas que gostas de café”. Sempre a mesma coisa; e eu já nem ligava. Fazia a coisa à minha maneira e pronto. Quando dei por mim, essa atitude já não se aplicava apenas à forma como eu bebia o meu café.

Sempre fui aquele tipo de pessoa que, quando nota algo de errado, precisa de falar sobre o assunto. Discuti-lo até à exaustão, se for preciso. Tu nunca pensaras assim. Evitavas as discussões como eu fujo de baratas. E tu dizias-me: “Paciência! É só um bicho que não te faz mal”. E eu respondia-te: “Então e eu? Faço-te mal? Porque é que foges de mim?”.

Era impressionante a forma como não nos entendíamos. Eu achava a tua lista de prioridades ridícula. Tu achavas a minha também. E deixavas-me sempre – todas as vezes – a discutir para o silêncio que tu optavas por ser de livre vontade. E enquanto eu te ia atirando bruscamente com tudo aquilo que tu não querias ouvir, tu fechavas-te. E fechavas-te, cada vez mais – vez após vez. Nem sei em que dia é que aconteceu... Mas deixei de te ver por completo.


E depois eu perguntava-te: “Sempre fomos assim? Ou algo mudou?”. Tu encolhias os ombros, como quem diz: “Não sei... E que interessa?”. Dia após dia, o nosso amor mais parecia um campo de batalha – um contra o outro. Ambos sabíamos disso. Ambos sabíamos também que, daquela guerra, nenhum sairia vencedor. E, mesmo assim, continuávamos, feitos estúpidos. E era mesmo isso que éramos e muito.

Lembro-me de quando fiquei um fim-de-semana inteiro sem saber de ti. Nem te procurei, ou vice versa. E o quanto me apercebi que, apesar de tudo isso, me fazias tanta falta. Até das discussões triviais senti saudades. Da forma como nos irritávamos um ao outro. Lembro-me quando voltaste e eu abracei-te com tanta força... E tu devolveste-me o abraço com o mesmo sentimento. E ora aí está: esse estava lá sempre. De todas as vezes que me dizias “estás a ser parva”; ou quando eu te dizia “escuta-me, anormal”, o amor estava sempre lá bem concedido em cada sílaba. Tínhamos tanto para dar um ao outro... que nem sabíamos como lidar com isso mesmo.

Éramos perfeitos opostos, na verdade. Sempre soubemos disso. Eu dizia-te: “os opostos atraem-se, segundo se ouve por aí”. E tu dizias-me: “mas há opostos que não se conseguem fundir por mais que tentem, tipo azeite e água”. Tinhas sempre um “mas” para tudo – outra coisa que me danava profundamente. Eras capaz de dizer coisas do género: “eu amo-te, mas preciso de espaço”; “eu amo-te, mas não sei o que fazer”; “eu amo-te, mas não te entendo”. E, de todas essas vezes, eu deixava-me ficar pelo facto que me amavas. E que isso era o que contava. Talvez foi aí que falhámos. Em achar que o amor seria suficiente para nos juntar, quando não podíamos ser peças mais diferentes. Seríamos sequer do mesmo puzzle?


No nosso último dia, fui ao teu encontro com as últimas palavras que te tinha a dizer a rebentarem-me na cabeça. Decorei-as, uma a uma. Mas, ao chegar ao pé de ti, calei-me como nunca o fizera. E tu bem sabias que eu tinha sempre tanto a dizer... Silêncio. E, aí, tu percebeste. Nem foi preciso dizer nada. Até às palavras se haviam esgotado para nós. E tu falaste. Perguntaste-me se tinha mesmo de ser assim. Nem te respondi. Ambos sabíamos que era o fim a bater-nos à porta para levar tudo consigo.

Nunca concordávamos com nada. Nem sequer no nosso fim. Sempre encaraste a minha decisão como a forma que eu metia açúcar no café. Sempre acreditaste que também eu estava a tentar mudar a tua essência; tentando fazer com que falasses; com que te abrisses; com que ficasses mais doce. Mas eu amava-te no teu amargo e no teu silêncio, por mais que me magoassem. Infelizmente, apercebi-me que não podia continuar a amar-te, quando comecei a amar-me a mim própria. Tive de escolher e fui egoísta, pela primeira vez na minha vida. Se me arrependo? Ainda não descobri.

Talvez seja verdade que os opostos atraem-se... Só para, mais tarde, se destruírem um ao outro.

sexta-feira, setembro 19, 2014

O amor nunca chega à hora marcada.


Quando saíste, nem te deste ao trabalho de fechar bem a porta. Deixaste-a tão entreaberta: o suficiente para conseguir ver-te a desaparecer ao longo da Avenida; o suficiente para conseguir ouvir o som arrastado dos teus sapatos gastos pelo asfalto. E quase nada me deixaste, em retorno da tua ida tão brusca e tão fria: apenas o eco do ranger da porta, um suave rasto do teu aroma a café e a cigarro e o pesar das verdades cruas e duras, a rebentarem-me na cabeça. Nada mais que isso. E eu, que tanto pensava que merecia mais. Que sempre pedi por mais, quiçá, demasiado.

Costumavas dizer-me que devia ser mais mulher; que devia ser mais isto, e aquilo… E eu nem sequer conseguia responder aos teus pedidos. Nunca consegui. Mas juro-te que tentei. Pelo menos, até ao dia em que me apercebi que quem ama, ama tudo e mais um pouco; quem ama, cuida e protege - e longe já longe iam os dias em que tu fazias isso por mim. Mas não te ressinto… Como o poderia fazer? Como poderia eu ressentir alguém que, apesar de tudo, me fez aprender tanto, amar tanto, viver tanto? Dizem que, quando tal laço de amor se desprende, que devemos ignorar o que foi bom. Mas como poderia eu fazer isso, se sempre encarei todas as experiências e todos os momentos - bons e menos bons -, como algos divinais, que sempre me fizeram todo o sentido? As pessoas esquecem-se, por vezes, de como se lida com as coisas, e que "cagar e andar", nem sempre é a melhor opção; que esquecer, nem sempre significa desprendermo-nos de tudo o que antes nos ligava a outrem. Às vezes, a melhor forma de enfrentarmos e de ultrapassarmos uma grande perda, é simplesmente ir aprendendo, lentamente, a aceitá-la: os seus porquês e os seus comos. Fizeste-me tão bem: mais do que alguma vez saberás, mais do que desconfias. E por isso é que te guardo e sempre guardei. Muitos me disseram para deixar da mão e, no entanto, tal nunca me passou pela cabeça. Apesar de tudo o que possa ter mudado, uma coisa manteve-se constante: simplesmente és alguém digno de ser guardado.


O amor nunca chega à hora marcada, sabiam? Não segue horários, mapas ou marés, nem ventos. Aliás, este entra pelas frinchas de portas que já nem nos lembrávamos que havíamos deixado abertas. Entra, quase sem nos apercebermos.

E querem saber outra coisa? Ele parte exactamente da mesma forma. Sorrateiramente, desvanece, sem darmos conta de tal prenúncio do fim, pelas mais variadas razões, que, no fundo, nunca chegamos realmente a compreender.

Mas não pensem que tal significa que esse mesmo amor nunca existiu. Não se iludam. Apenas tratam-se de coisas da vida. E eu adoro comparar o amor a uma flor, que nasce de pequeno, a partir de uma semente. E tudo o que nasce, morre - por erosão do tempo, por circunstâncias da vida, por tempestades… Mas existiu.

E tal como o aroma único de uma flor que tanto cuidámos nos fica no olfacto, também um amor desses nos fica no coração.

domingo, setembro 14, 2014

Mais uma bebedeira qualquer.


Reviro copos atrás de copos, achando-te em toda a resma que fica no fim de cada um. E quanto mais copos bebo, numa forma ridícula de apagar-te da minha mente, mais te vejo por todo o lado e em tudo o que me rodeia.

Acendo um cigarro à espera que apareças com um isqueiro para mo acender – como costumavas fazer tantas vezes. Mas tu não apareces. E eu continuo à espera que o faças, apesar de ser um completo absurdo. Permaneço de cigarro apagado, ao passo que também a minha consciência se vai apagando aos poucos.

Um homem vem ao meu encontro com falinhas mansas típicas da noite. Mas esse homem não és tu. Oh, e está tão longe de sequer ser parecido contigo! Sussurra-me ao ouvido com um hálito a gin tónico, nauseando-me em segundos. Tenta beijar-me e eu cedo, mas só por um instante, até o empurrar para longe. De que me serve um beijo que não sabe a ti? De que me serve uns lábios que não os teus?

Retiro-me para a rua sem antes pedir mais um copo. Já lhes perdi a conta, assim como a dos dias que já passei sem ti. Os dias já nem sabem a nada, desde que partiste. E esta bebida toda... sabe-me cada vez pior. E, no entanto, não consigo parar. Sinto os meus olhos a cerrarem, mas não paro. Sinto-me a ficar tonta, mas não vacilo. Agarro o copo com a mesma força, talvez por simplesmente querer sentir algo nas mãos – tão vazias, desde que te foste embora. Desde que não estás mais aqui para agarrá-las, com aquela força que só tu a sabias.

Choro, embriagada, sentada num passeio qualquer. Nem consigo conter-me. Quiçá, já andara a conter-me demasiado. Só sei que desato num pranto sempre à espera que apareças e cuides de mim – como costumavas fazer tantas outras vezes. Mas tu não apareces. E cá estou eu, ainda, a chorar sozinha e à espera que o faças, apesar de ser um completo absurdo.

Na minha bebedeira, fujo-te só para te encontrar, de novo. Na minha bebedeira, perco-me de mim, mas nunca de ti. Na minha bebedeira sinto-me mais sóbria do que alguma vez fui. Na minha bebedeira, sinto-me melhor por me sentir mais tu do que eu mesma.

“Tens de parar”, digo a mim mesma, como se fosses tu a dizer-mo – como costumavas dizer tantas vezes. E, aí, eu paro, enxugo as lágrimas, levanto-me do passeio e sigo para casa, como se estivesses lá à minha espera. Para me abraçares na cama e me trazeres muitos copos de água. Para te rires do meu eu embriagado, dando-me um sermão ao mesmo tempo. Porque, de alguma forma, só essa ideia é que torna a viagem – de volta a uma casa vazia – menos dolorosa do que é.

“Amo-te”, palavras que sabem a álcool. E mais que isso: a uma verdade mais pura que qualquer bebida que tenha bebido nessa noite.

sexta-feira, setembro 05, 2014

GANHEI AO PERDER-TE


Um dia, - quem sabe daqui a quanto tempo? – ele irá acordar sobressaltado depois de ter sonhado contigo, após tanto tempo. E o seu primeiro impulso será mandar-te uma mensagem, mas não o faz, porque apercebe-se que já nem se lembra da última vez que falaram. E, aí, ele vai fazer a si mesmo todas as perguntas que gostaria de estar a fazer-te: como tens andado; se estás feliz; se andas a sair com alguém, de momento... E enquanto a sua vontade de abordar-te vai aumentando cada vez mais, também vai o peso da sua consciência.

Um dia, - talvez, quem sabe? – ele vai aperceber-se do quão besta foi para ti. E vai arrepender-se de todas as mensagens que ignorou; de todas as discussões a que não deu importância e de todas as vezes que te chamou de “dramática” e “exagerada”. Ele vai, finalmente, aperceber-se que tu só querias o seu bem. O bem de vocês os dois – a coisa mais sagrada de todas. E ele sentir-se-á o maior tolo, por nunca te ter atribuído toda a consideração que realmente merecias: a ti e à vossa relação. E à medida que todos esses seus arrependimentos tardios o vão arrebatando, também vão as saudades. Essas, que ele nem sabia ser capaz de ainda sentir por ti.

Um dia, ele vai aperceber-se do quanto lhe fazes falta. E do quão estúpido ele foi por ter trocado uma vida ao teu lado, por uma “vida louca”. Por ter trocado todos os momentos passados contigo, por noites alcoolizadas com cheiro a nada. Por ter trocado o vosso futuro, por um presente que sabe a tão pouco. Ele achava que, sem ti, iria ser finalmente livre... E, no entanto, dará por si simplesmente só.


Um dia, - sabe-se lá daqui a quanto tempo – a realidade irá abater-se sobre ele: eras aquela de quem ele mais precisava, mas nunca a que ele queria. Eras tu a que se esforçava para entendê-lo, e sempre fora ele o que não te merecia. Cego por novas experiências, deixou escapar aquilo que poderia ter sido a maior história da sua vida. E agora? E agora que já não estás cá para ele, quando, em tempos, foste a única que o fez? E ele questiona-se a si mesmo: o que será dele agora?

Ou então, talvez ele nem se aperceba de nenhuma dessas coisas... Talvez até já seguiu em frente com a sua vida, e talvez já nem lhe passes pelo pensamento. Mas e depois?

Um dia, tu vais perceber o quão melhor estás sem ele na tua vida. Alguém que não soube ser digno de ficar, apesar de todas as tuas oportunidades e esperanças esgotadas por mantê-lo. Alguém que não valia nem mais um segundo contigo.

Vai chegar ao dia em que tu vais querer agradecê-lo por ele ter-se ido embora.

quinta-feira, setembro 04, 2014

F*da-se, odeio-te.


Fizeste-me chorar, outra vez. Cá estou eu, a tentar adormecer, e tu não me deixas. Tu e as tuas desilusões constantes não me deixam descansar de todo. Foda-se, estou cansada de ti. Estou tão realmente estafada destas cenas por que me fazes passar... E eu que pensava que eras mais do que isto.

Sempre quis acreditar em ti, por mais que me dissessem para deixar de o fazer. Sempre te defendi, mesmo que meio mundo se metesse contra ti. E, no entanto, a tua única paga é dar-me ainda mais razões para não o fazer. Porque é que insistes em não passar de merda? E eu que pensava que eras tanto... Quando, na verdade, nunca foste sequer capaz de passar disto mesmo: de uma desilusão tremenda. E eu já deveria ter sabido disto um quanto antes... Que parva que eu sou. És mais vulgar do que pedras da calçada, afinal de contas.

Graças a ti, deixei de acreditar no amor e em tudo o que nele faz parte. Graças a ti, não passo de um vulto perdido e desconfiado, inteiramente incapaz de se entregar a quem quer que seja. E como poderia, quando tanto acreditei em ti, só para ser feita de parva? Foi só isso que vieste fazer na minha vida. Não passaste de um desastre; de um acidente de percurso; de uma pedra no sapato. Um desperdício de fé e de tempo – coisas que jamais terei de volta, graças a ti.

Espero que estejas contente e que todas as mágoas que me causaste te tenham valido a pena. E que todas as noites tenham sido loucas o suficiente para calar a tua miserabilidade, causada por ti mesmo. E que todos os beijos sem sentido tenham alimentado esse teu ego ridículo. E que todas as tuas bebedeiras te tenham aquecido esse coração morto. Espero que tudo isso valha a perda de alguém como eu na tua vida: alguém que nunca se importou com nenhuma das tuas falhas, nem nenhum dos teus vícios, simplesmente porque estava demasiado ocupada a amar-te pelo que tu és.


Achas-te tão especial, quando há tantos por aí iguais a ti. Sem saberem o que querem. Sem saberem por onde andam. A recolherem corações como se não passassem de brindes de festas. A marcarem vidas como se nem passassem de carimbos. Foi nisso que tu te tornaste: numa fotocópia de muitos.

És uma grandessíssima merda, sabias? Por tudo o que me fizeste passar. Por tudo o que me fizeste deixar de acreditar. E por tudo o que me marcaste em vão. Tomara que eu soubesse o que sei hoje de ti, para que te tivesse afastado à primeira oportunidade. E agora consigo ver que não valeste nenhuma das muitas que gastei contigo.

Não valeste a pena. Juro-te por tudo, que, neste momento, só consigo odiar-te e odiar-me ainda mais a mim mesma, por me ter mantido ao pé de ti, apesar de tudo... Que parva que eu sou. Só quero que desapareças, porque nunca sequer foste merecedor de mim. E nem mais nenhum pingo meu será desperdiçado em ti.

Foda-se, é desta que sais da minha vida. Foda-se, desaparece de uma vez.

A única coisa que mereces de mim é essa mesmo... A maior das distâncias.