sábado, setembro 27, 2014

Ele cheira(va) a vício.

Viciei-me em ti. Viciei-me em tudo o que de ti faz parte. Viciei-me nos teus olhos cor de carvalho, onde tanto me perdia em buscas pela tua alma. Viciei-me no teu aroma agridoce; uma miscelânea de cigarros e manhãs de Inverno. Viciei-me no teu abraço, que era mais que um abraço: era a minha casa, o meu lar. Viciei-me no teu coração, onde me refugiava do resto do mundo.

Os vícios corroem-nos por dentro. Abandonam-nos de nós mesmos. E vício não será vício se não nos tirar da nossa própria alma e do nosso próprio corpo. Foi o que tu foste. Saí de mim para me fundir em ti; viver em ti... Doentio. Amar-te tornou-se tal qual uma doença incurável. E eu não me importava de todo, porque – a cada dia – sentia que tudo valeria a pena. Deixada de ser eu, para ser tu, em qualquer dia.

O meu maior medo sempre foi este: lidar com a abstinência de ti. A ressaca da tua ausência atroz. Os tremores das minhas pernas e dos meus dedos, que me tornaram incapaz de seguir, ou de me agarrar ao que quer que fosse. O vazio de uma alma doente. O eco seco de um peito deixado em ferida; aberto. Nem me reconhecia, sem ti. Tornaras-te de tal modo em tudo aquilo que eu era, que, quando partiste, acabaste por levar-me também a mim contigo. Nem reparaste nisso, pois não?


Depois do amor, não ficamos nunca com o mesmo tamanho. Ficamos mais pequenos. Com espaços em branco por todo o lado. Espaços, outrora, ocupados por outrem, que partiu. Que levou tanto consigo. Depois do amor, ficamos quebrados; com a sensação de que falta sempre qualquer coisa. E falta. E essa falta dói tanto. Tanto. A ausência de tudo é a maior dor e dói-nos no corpo todo. Rodeei-me de tanta gente, mas cá interiormente estava sempre só. Tanta gente fora, mas ninguém dentro.

As lágrimas impediam-me de ver o que quer que seja. Turvavam-me os caminhos: esses, que não me levariam a ti. Bebia-as e sabiam-me a nada: esse, que se tornou em tudo, desde que partiste. São essas as lágrimas que nos doem mais, porque nem para nos aliviar servem. Só nos sufocam. Afogamo-nos nelas. Perdemo-nos.

Depois do amor, só nos fica a ausência. Rodeia-nos como paredes. Torna-se em tudo aquilo que temos, que é nada. Um nada para agarrar. Um nada para nos manter vivos. E como poderia chamar a isto de vida, se outrora ela eras tu? E tu eras ela? E agora? Que me resta, agora, depois?

Depois do amor, temos de preencher os espaços deixados vazios. Mas talvez nem haja uma maneira de o fazer. Talvez estejamos condenados a sentir sempre a falta. Talvez nunca nos tornemos completos, de novo. Era esse o meu maior medo: ser deixada para sempre com a tua ausência a pulsar dentro de mim. Numa vida que nem sabe a isso, de tão vazia que se encontra. Numa realidade desprovida da tua presença.

Realidade? Nem isso é. É o maior dos pesadelos.

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