quarta-feira, dezembro 31, 2014

Amar-te foi fodido. (+13)


Amar-te foi fodido. Aliás, amar é sempre difícil, afinal de contas.

Mas contigo, amar tornou-se nalgo realmente fodido para mim. Trocava-me as voltas todas. Fazia-me perder o juízo por completo. Arrancava-me o sono à noite. Em suma, fodeu-me o sistema todo, de forma a que jamais voltarei a ser a mesma, depois de te ter amado.

E eu sempre soube que não ia ser tarefa fácil. Deu logo para notar, quando te conheci a ti e a essa tua maneira conturbada de ser. Sempre foste de tal maneira imprevisível, que nunca cheguei a perceber maior parte daquilo que se passava na tua cabeça. E esse teu jeito de quem não se importa com nada... Irritava-me. E mais que isso: agoniava-me até dizer chega.

Ainda hoje não consigo entender como raio é que me fui apaixonar por alguém como tu. Eu, que sempre imaginara um rapaz sensível e doce como caramelo, que me beijasse as feridas – uma a uma – e que me dissesse o quão especial eu era, no dia a dia. E, no entanto, caí por ti. E mais: apaixonei-me de tal maneira, que deixei de me imaginar com quem quer que seja. Tu. Tu tornaste-te no único que eu queria, naquele de quem eu mais precisava. E, por mais mal que me fizesses; por mais voltas e contravoltas que me desses à cabeça e à minha vida, nada parecia fazer-me deixar de te querer.


Amar-te foi fodido, porque foi tal e qual uma montanha-russa. Em dias, elevavas-me aos céus, para noutros, me puxares ao mais ruim dos infernos. E eu passava-me. Passava-me comigo mesma, acerca do porquê de continuar a bater na mesma tecla. “Porque é que teimas em fazer isto a ti própria?”, questionava-me, vezes sem conta, “Tu mereces mais e melhor!”. E, no entanto, eu sempre o soube: eu não queria o melhor. Eu só te queria a ti.

Amar-te foi fodido, porque me afastou completamente de mim própria. Nalguns dias, nem me reconhecia mais. Eu, que sempre fora tão independente e senhora de si, dava por mim a querer ir ao teu encontro, fosse a que horas fossem. Dava por mim a engolir o meu orgulho, só para que tudo ficasse bem. Dava por mim a ir contra o que acreditava, só porque tu valias mais a pena que tudo isso. Foi fodido, porque amar-te passou a importar mais do que me amar a mim mesma.

Amar-te foi fodido. Mais ainda naquelas alturas em que me desiludias. E lá ficava eu em casa, tentando odiar-te ao máximo. E, no entanto, sem eu saber como, dava por mim a amar-te cada vez mais. Julguei estar a enlouquecer. E mais assustador ainda, era aperceber-me do quão longe eu seria capaz de ir por ti. Tentava esquecer-te, por meio de copos e de noites sem fim, mas nada resultava. Foi fodido, porque parecia ser um amor sem cura. Sem razão ou qualquer sentido. E, ao mesmo tempo, batia tudo tão certo, por parecer tudo tão errado.


Amar-te foi – mesmo – fodido, por me ter ensinado as coisas mais dolorosas. De que o amor é a soma de duas partes, mas quase nunca por igual. De que o amor é uma luta constante, mas só enquanto ninguém desiste. De que o amor, maior parte das vezes, deixa-nos completamente fodidos de todas as maneiras imagináveis, condenando-os a jamais sermos os mesmos. E de que o amor, por si só, jamais será suficiente.

Amar-te foi fodido, por nunca ter sido o bastante para manter-te. E eu amava-te desafogadamente, apesar e acima de qualquer coisa. O mais fodido no meio disto tudo era o tamanho amor que eu sentia por ti. Desmedido, voraz e sem quaisquer limites. Tornou-se naquilo que eu era; naquilo que eu pensava; nas horas todas que por mim passavam. Fui o mais feliz, e o mais triste que podia ser, aquando do teu lado. Não havia intermédio no que tocava a ti. Daí ter sido tão, mas tão fodido. Era amor em toda a sua glória, sem talvezes, sem quases e sem pensar duas vezes. Para ser sincera, nunca antes me havia sentido tão viva. Mal sabia eu o quanto me estava a matar por dentro.


Mas não bastou. Nem tudo aquilo que eu sentia, nem tudo aquilo em que me transformei do teu lado foi o suficiente para manter-te cá. Acho que todos os amores fodidos, como eu gosto de lhes chamar, acabam exactamente da mesma maneira. Sem se perceber nada e sem se estar à espera, perdem-se de nós para sempre, como um assobio ao vento. Ainda esperamos que voltem, sabe-se lá quanto tempo, mas eles não o fazem, por serem fodidos.

E nós mais tolos somos, por acreditarmos que amores desses durarão para sempre. Por serem únicos e por nos alterarem a vida por completo. Mas a vida é fodida. E amores desses também, que a fodem mais ainda.

terça-feira, dezembro 30, 2014

Ser dos Açores é ser Saudade (e Nostalgia).


Voltar a casa, depois de tanto tempo, é de tal forma uma miscelânea de pensamentos e emoções, que até me custa descrever isto tudo que sinto. Uma mistura de expectativas, nostalgia e saudade abarcam-me por completo, mal sinto o avião a pousar no asfalto da pista. O oceano estende-se até onde o olhar alcança e o vento despenteia-me imediatamente o cabelo. 
“Estou em casa”, digo de mim para mim.

No entanto, ao mesmo tempo, é estranho voltar. Um tipo bom de estranho, claro está. Passamos a reparar em todos aqueles pormenores que nunca havíamos notado antes. Como a forma que o sol se põe no horizonte. Ou a maneira autêntica das pessoas comunicarem. Ou a simplicidade do dia-a-dia. Coisas que, outrora, eram as mais comuns e as mais garantidas, são-nos apresentadas como inteiramente diferentes. É estranho voltar, por isso mesmo, porque apesar de muito pouco ter mudado, nada está exactamente na mesma.


As horas passam por nós devagar, enquanto aproveitamos os dias – um a um. Abraçamos família e revemos amigos, de quem já sentíamos a falta. Voltamos aos mesmos sítios de outrora, aqueles de que já nos havíamos fartado, e que agora são como novidades. Percorremos as mesmas estradas, mas com muita mais atenção. Miramos o mar – que, outrora, era o nosso bem mais presente -, e inspiramos a sua maresia, como se fosse a coisa mais rara à face da terra. O verde parece mais verde do que alguma vez foi. É tão estranho voltar a uma casa, depois de tanto tempo, e ver o quanto esta mudou sem nós. E, ao mesmo tempo, como continuou a mesma coisa.

Nostalgia e saudade não são a mesma coisa. E é isso que sinto em relação a este meu lar, que se encontra sempre tão longe de mim. Quando daqui estou distante, sinto as saudades a arderem-me no peito, de mãos dadas com a vontade de voltar. E quanto mais se aproxima o dia ‘tal’, mais estas se intensificam. E, no entanto, é ao chegar, depois de tanto tempo, que sinto esta nostalgia melancólica. De que toda esta casa – que era sempre tão minha – por que tanto anseio, não voltará a ser a mesma nunca mais. Isto, porque, aqui e agora, sinto-me mais uma espécie de viajante passageira. Que só quer aproveitar o máximo enquanto pode, até ao dia de partir.


É essa a parte estranha de voltar ao meu lar. É o voltar, para ter de partir, de novo. E será sempre assim, a partir de agora. Um vaivém desmedido. Uma viagem de ida acompanhada por uma de volta. Uma saudade que conta os dias. E uma nostalgia estranha de descrever e ainda mais de se sentir.

E, no entanto, cada regresso sabe-nos sempre a tanto. Mais do que qualquer partida. Vale sempre a pena sentir tudo isto, por mais assoberbante que seja. É “lar doce lar”, afinal de contas. E será sempre, sempre assim. E todas as lágrimas derramadas compensarão sempre toda esta vista que vemos, ao sentirmos o avião sobrevoar sobre tal oceano azul intenso.

É estranho, não é? Uma estranheza que só um Açoriano a sabe. E depois? Faz parte de nós. Somos tão únicos e tão genuínos, que até temos direito a sentimentos só nossos e que só nós seremos alguma vez capazes de os sentir. 

quarta-feira, dezembro 17, 2014

Vives rápido, morres rápido. Simples.


Vive-se demasiado rápido. Estamos constantemente a apressarmo-nos, seja para o que for. Acordamos, dia após dia, e temos agenda premeditada na nossa cabeça. Corremos de um lado para o outro, mecanicamente, só com o destino marcado em vista. E tornamo-nos cada vez mais incapazes de saborear o que quer que seja. Os momentos passam por nós, e nem os vivemos. Lá está: vivemos demasiado rápido e morremos mais depressa ainda.

Mais que isso: amamo-nos demasiado depressa. Do género, “vou levar-te ao cinema, mas não te atrases”. Ou então, “beija-me agora, porque não me posso atrasar para o trabalho”. Os beijos longos tornam-se cada vez mais curtos. E os abraços apertados? Viram cumprimento cómodo, simplesmente porque cai bem e tem de ser. Lá está: amamos tão em frenesim e à pressa, que nos perdemos demasiado cedo uns dos outros.

Vivemos na era da impaciência. Somos a geração do querer tudo de ginjeira. E quando assim não o é, deixamo-nos estar. Nem nos importamos mais com isso. Somos do tempo do “estragou-se? Troca-se”, em vez do de “estragou? Concerta-se”. E que mundo é este, em que vivemos? Onde o amor é construído em cima do joelho, e onde se desiste aos primeiros abalos? Mas o que é isto? E que mundo é esse, em que até as coisas mais genuínas são banalizadas? Onde um “tudo” que durou anos, vira “nada” em breves segundos? Onde uma história de vida, é facilmente trocada por uma história de uma noite?


Temos de aprender a ter (mais) calma. A parar, por um momento, e a absorver o tudo que nos rodeia. Abraçarmo-nos durante uma eternidade. Beijarmo-nos durante duas. Não dizer “amo-te” de ânimo leve. Não amar sem se ser capaz de lutar o que for preciso. Temos de aprender a ser (mais) sinceros; connosco e com o mundo. E o que é que nos custa?

Aí está: somos da geração que quer trabalho, mas que não quer trabalhar. Queremos tudo de bandeja, na hora e já. Não sabemos esperar. Nem queremos. Regemo-nos por esta filosofia doente de “há mais peixe no mar”, quando só aquele raríssimo peixe – e mais nenhum – deveria ser o único capaz de matar a tua fome. Não queremos nos dar ao trabalho de lutar por manter, porque só a conquista tem piada. Queremos tudo tão fácil. E, assim, acabamos por nunca possuir realmente nada, nem chegar a lado nenhum. Vivemos como estúpidos ingénuos, acreditando que a felicidade vem de meios materiais, de confortos supérfluos e de festas sem fim. Vulgarizamo-nos e vivemos vidas tão vulgares, que acabamos por nem poder chamar ao que fazemos de ‘viver’.


Gostava de ter vivido no tempo dos romances e das cartas trocadas, que levavam tempo a receber e que nos faziam esperar ainda mais pelas respostas. Mas não. Vivo no mundo das sms, coisa tão trivial de trocar e mais ainda de ignorar. E no mundo em que se vive um romance todos os anos, sempre com uma pessoa diferente. “O tal” vira “um qualquer”, desde que me leve a sair umas vezes por semana e me dê presentes no São Valentim. O “amo-te” vende-se como produto em promoção. E, quando algo não resulta, segue-se logo para outra coisa qualquer. Cagamos e andamos, como se não passássemos de cavalos.

Temos todos de aprender a amar e a viver. A escutar e a observar. A acalmar esta pressa e esta fugacidade, que só nos atrasa mais do que qualquer outra coisa. E temos também de começar a perceber que as pessoas não são brinquedos e que esta vida não é um jogo para vermos quem ganha. Perdedores são aqueles que só sentem que ganham, ao fazerem outrem perder. E este mundo precisa de muitos mais vencedores. E continuadores. E lutadores. E o que é que nos custa, se o mínimo que podemos fazer é sermos o melhor que conseguirmos ser?


Um brinde aos beijos longos. Aos abraços apertados. Às conversas sem fim. Às tardes à beira-mar. Aos livros na cabeceira. Às músicas cujas letras sabemos de cor. Aos casais apaixonados que já passaram por muito, e que continuam a lutar para que se passe muito mais. Aos não desistentes. Aos românticos que ainda acreditam no amor verdadeiro e que fazem por isso. Às famílias que tiram tempo para estarem juntas. Aos homens que fazem uma mulher sentir-se única. Às mulheres que fazem um homem sentir-se invencível.

E, acima de tudo, um brinde a quem é capaz de, todos os dias, tornar o mundo de alguém num lugar melhor.

sexta-feira, dezembro 12, 2014

Amei-te até hoje. Até amanhã.


Amei-te assim que te vi”, disse-te, enquanto engolia a razão e deixava o coração tomar conta da minha boca, pela primeira vez em tanto tempo. Nem me apercebi de imediato que o tinha dito. Como se se tivesse solto de mim, por ter contido tanto, que já tudo me transbordava. “Mas sabes que mais? Amei-te só até hoje”. Palavras essas que caíram sobre nós como bombas em pleno cenário de guerra.

Cheguei derradeiramente ao ponto de não retorno de toda esta história. Cansada já eu estou de ser o vaivém inconstante da tua vida... de tal maneira, que já nem sei aonde me encontro realmente, na maior parte do tempo. Num momento, estou nos teus braços, a respirar-te e a ter-te por tudo o que és. Para noutro, nem ter a mais vaga notícia da tua existência. Cansada já eu estou de ser uma espécie de entretenimento de instantes. Um desafogo das tuas noites gélidas e solitárias. Ou um bicho que se alimenta das resmas que vais deixando pelo caminho, só para que consiga sobreviver.


Amei-te até hoje, estás a ouvir-me? Despi as minhas roupas impregnadas pelo teu cheiro e chorei todas as lágrimas que me sabiam a ti. Quando passar a meia-noite, juro-te, já não te amo mais. Nem nunca mais saborearei os teus beijos, que tanto me faziam perder do resto do mundo. Nem nunca mais me enterrarei no teu abraço, que tanto me sabia a casa. Nem nunca – jamais – me entregarei de corpo e alma a alguém que nunca me soube querer por inteiro.

Amei-te até hoje. Faltam poucas horas para deixar de amar-te por completo. Simplesmente porque todo este amor que sinto há eras, já há muito que não me serve de nada. Diz-me. De que me servem todos estes beijos que amontoo entre os meus lábios, por não se poderem perder nos teus? E de que me servem estes dois braços erguidos, incapazes de chegar ao teu corpo para que nele se encaixe? E de que me serve, afinal, toda esta luta que teimo em manter, se já nem estás aqui ao meu lado, para combatermos juntos tal qual como deveria ser?


Amei-te até hoje. Digo-te, que desta vez é de vez. Daqui a poucos minutos, já todas as partículas deste coração que tanto te amou, e de todo este corpo que tanto te agarrou, dissiparam-se por entre o fumo, tais como os cigarros que partilhávamos a dois. Tais como os suspiros que se elevavam sobre nós, por entre noites secretas com sabor a crime. Tais como as palavras – as doces, as amargas – que trocávamos e que agora não passam de meros mitos. Como se nunca tivessem existido.

Amei-te até hoje. E todas as coisas que me entregaste, enterro-as num tempo a que já não chego. Não guardo nada teu, porque só enquanto se ama é que faz sentido fazê-lo. E todas as chaves que trocámos, ao longo do tempo, e que abriam todos os cofres um do outro, deito-as ao oceano, que as engolirá juntamente com os meus sentimentos. Todos. Afogarei todos eles até à sua morte. Quero que morras de mim, da mesma maneira que me mataste de ti. Lembras-te?


Amei-te até hoje. O último dia em que te amei. O último dia em que te lembrei e em que senti a tua falta; em que chorei pela tua perda. O derradeiro dia em que te esqueci. E o primeiro em que me apercebi que não é de ti que eu (mais) preciso.

Amei-te até hoje. E por aqui fico, a perder-me de ti, só à espera que chegue o amanhã.

quarta-feira, dezembro 03, 2014

PROMETE-ME QUE (não) VOLTAS


Da próxima vez que te sentires sozinho, peço-te: não me ligues. Nem me digas nada. Estou quase que a implorar-te, está bem? Nem sequer tentes vir ao meu encontro, com esses teus olhos cabisbaixos que tanto se me revelam, por mais que os meus os evitem. Não fosse eu a que te lê melhor.

Peço-te isto, porque não consigo mais, entendes? Porque não consigo desligar-te o telemóvel, ao ver o teu número no seu visor. Porque jamais conseguiria ignorar as tuas mensagens. E muito menos virar-te as costas, quando fazes questões de ter-me à tua frente. Eu imploro-te que não me busques mais, porque eu jamais te mandaria embora. Apesar de – bem saber – que é exactamente isso que deveria fazer. Todas as vezes. Mas jamais o faria. Negar-te é algo que me é incapaz, por seres tu.

Eu gosto muito de ti e quero-te bem. Mas não posso ser sempre eu, aquela que busca por todos os pedaços do teu coração e os junta num inteiro, depois de outra qualquer o ter partido. Nem posso ser (mais) eu a que te aguenta nos braços, enquanto todo o teu mundo estremece. Desculpa, mas não consigo mais ser essa pessoa para ti. E eu fui-a, durante tanto tempo – demasiado para sequer contar. E eu juro-te por tudo: sempre adorei sê-la. Sempre adorei ser a primeira por quem buscavas para beijar-te as feridas. Para suster o teu choro no meu peito. Para aliviar a tua dor e a tua solidão imensas. E, no entanto, por mais que o adorasse... matava-me, mais do que qualquer outra coisa.


Por isso, peço-te e quase que te imploro: da próxima vez que sentires que a tua vida está fora do teu controlo, e que só queres fugir para um outro sítio qualquer... Não me procures. Por favor, nem venhas. Não consegues compreender o que sinto, de cada vez que o fazes? É que eu explico-te:

De todas as vezes – uma a uma -, que te vejo a vir ao meu encontro, com esses teus olhos tristes e braços rendidos, choro. Não aquele choro desbravado em lágrimas, mas sim um que me aflige no peito e me arde por dentro. E mais: de todas essas vezes – cada uma delas -, eu só amaldiçoo de morte quem te aleijou. Só quero partir pratos e rogar a Deus que te poupe de qualquer sofrimento. Desejo poder roubar toda a tua dor, para que se torne minha; para que seja eu a sofrer, em vez de ti. Não há nada que me sofra mais, do que quando és tu quem sofre. Antes que fosse eu... que já estou mais que habituada a qualquer tipo de amargura.


Sei que estou a ser egoísta ao pedir-te isto, mas vim a aperceber-me que já está na altura de o ser. Eu não posso continuar a sofrer por ti. Nem posso continuar a afagar as tuas dores, como se fossem as minhas. E que raio de vida é esta, a que me submeto? Que pára e que muda a um simples gesto teu, como se fosse mais tua do que minha? E que amor é este, o que sinto por ti? Que se alimenta das tuas chegadas esporádicas, sempre acompanhadas por partidas atrozes? E que nunca passam disso mesmo?

Não me procures, nem me busques mais. Está na hora de me deixares encontrar-me a mim mesma, de uma vez. E eu não consigo fazê-lo, enquanto continuares a chamar-me para trás, ao teu encontro.

Está na hora de tu seres tu; e de eu ser eu. E esgotada já eu estou de viver num “nós” sozinha; um “nós” que já nem existe e que há muito partiu de vez.