quinta-feira, maio 28, 2015

Não és poeta. Mas és poesia.

Tu nunca foste homem de poesias. E muito menos de prosas românticas, cheias de juras de amor eterno. Mas deixa-me dizer-te: que havia qualquer coisa no jeito com que bebericavas o teu café puro, logo pela manhã, enquanto os raios de sol te incidiam no rosto. Pausada e calmamente, enquanto miravas o nada, travavas goles minúsculos e lambias os teus lábios, logo em seguida. Como se nenhuma nesga de café te pudesse escapar. E a forma como te espreguiçavas contra o meu corpo, ao acordar, num desalinhar de cabelos e cobertores. Leve e serenamente, encostavas-te em mim, como se ansiasses que o meu toque fosse o primeiro. Nunca leste nem citaste os grandes poetas, mas tanto em ti transpirava arte.

Talvez pelo quanto apaixonada eu estava por ti. Pelas tuas manhas e pelos teus feitios. Mas havia qualquer coisa na maneira como te rias abertamente, tremendo pelo corpo todo. Como se toda a alegria de um certo momento tomasse conta de ti por completo. Sempre sentiste tanto. Até na forma como te ias abaixo, com tudo o que tinhas. Até naquele momento em que te roubei um beijo, numa noite qualquer gélida, e ao separar os meus lábios dos teus, te encarei a chorar. Tremias, mas não proferias qualquer som. Só o cair das lágrimas ao longo das tuas maçãs do rosto. Como se te tivesse roubado mais que um beijo, mas também quaisquer muralhas. Quaisquer barreiras que te pudessem esconder. E enquanto o teu lábio inferior tremia, eu beijei-te a face encharcada e encostei a testa à tua, para tremermos juntos. Nunca foste de prosas românticas, e muito menos de contos de fadas, mas muitos foram os momentos amorosos e genuínos que eu pude viver contigo.


Talvez pelo quanto apaixonada eu estava por ti. Por esse teu jeito calado e contido, como de quem não sente nem se importa. Mas eu sempre o soube: que se me deixaras entrar na tua vida, era por me quereres nela, acima de tudo. Nunca o disseste, mas eu sabia: tu amavas-me. Dessa tua maneira livre de promessas e juras de amor. E eu julgara que não haviam palavras para descreverem o quanto sentíamos um pelo outro, mas estava errada. Elas estiveram sempre lá. Escondidas por entre os meus lábios para morrerem nos teus. Concedidas em vislumbres de olhares e de gestos. As palavras, essas, estiveram sempre lá. Nós é que optávamos por um amor silenciado, que, sem nunca dizer nada, dizia mais que muitos outros.

Ofereceste-me um único livro, uma vez. Vinha encaixado debaixo do teu braço e entregaste-mo com timidez. Folheei-o num só dia. Retratava a história de uma mulher que amara o mesmo homem a sua vida toda. Por meio de peripécias e perdas, encontravam-se e desencontravam-se, ao longo dos anos. Ele encontrava outras, ela encontrava outros, mas nenhum lhes bastava. Eram egoístas por um amor sem retorno nem devolução. Amavam-se sem nunca o confessarem. Morreram, ambos, sem se terem vivido em pleno. E eu chorei por entre a madrugada, por me ter apercebido que também seria assim que nos iríamos perder. Um do outro, e do resto do mundo.


Ainda hoje, passado tanto tempo, sou capaz de achar-te na minha varanda, a bebericares o teu café pausadamente, e a lamberes os teus lábios. E ainda hoje te encontro na superfície da minha cama, a espreguiçares-te contra mim. E apesar de não seres homem de poesias, nem de prosas românticas, há qualquer coisa no jeito com que voltas. Nunca te anuncias, simplesmente retornas à minha vida. E eu recebo-te, como se nem te esperasse. E eu abro-te a porta, como se alguma vez a tivesse trancado. E nenhum de nós diz nada. E, no entanto, as palavras, essas, continuam cá. A sobrevoar-nos como penas, a morrerem-nos nos lábios, enquanto nos beijamos. Como se nenhum tempo tivesse passado.

E eu sempre gostei de acreditar que, contigo, o tempo não passa. Que as palavras não (nos) chegam. E que a poesia não é lida, e que as prosas românticas não são contadas. Porque nunca nada disso nos bastaria, por tudo o que somos. Por tudo o que continuamos a ser. E quando começo a deixar de acreditar, aí, tu apareces. A rires da mesma forma, com o corpo todo, e a ires abaixo, com tudo o que tens.


E, aí, tu mostras-me que também eu sou o teu porto de abrigo. O teu escape dos medos e da solidão. O teu refúgio de uma realidade que, tantas vezes, parece perder o seu sentido. A tua história irresolúvel e incompreensível, que não desvendas, por estares demasiado ocupado a experienciá-la. A tua poesia à flor da pele. A tua prosa romântica, cujas linhas são os nossos beijos e os nossos corpos sobre a cama desalinhada.

Não estou apaixonada por ti. Mas não há nada que eu ame mais, do que a obra-prima que somos, quando estamos juntos.

sábado, maio 23, 2015

Queres odiar-me? Conhece-me.

Falas como se me conhecesses. Olhas para mim como se conseguisses topar tudo o que sou. Comentas-me, como se soubesses de tudo. Na verdade, tu não sabes nada de nada.
Encaras-me como uma rapariga que adora a vida louca. Que gosta de ir para os copos e de chamar as atenções todas para si. Que anda sempre de um lado para o outro, sem nunca se conseguir sossegar. Uma rapariga virada do avesso; uma causa perdida. E tu acreditas veemente que eu não passo disso mesmo: de um vulto dançante que não quer saber de nada. Sabes lá tu, tudo aquilo que não mostro ao mundo.

Eu sou alguém que ama com tudo o que tem. Não conheço essas cantigas típicas do “é complicado”, ou “agora não me dá jeito”. Não! Para mim, quando há amor, há tudo por que lutar. E é essa a única razão de que preciso para continuar. Ora aí está: eu amo como nunca e sofro como ninguém, porque me entrego por completo. Não acredito nessas histórias de viver ou amar pela metade: porque, para mim, isso nem é vida, nem é amor.

Tenho graves defeitos, sim. Não sei quando parar. Não sei seguir em frente. Não faz parte de mim desistir simplesmente das pessoas, à primeira desilusão... ou à segunda.... Eu sou sempre a que acredita até ao fim. Sou sempre a que faz de tudo, para que tudo funcione. E isto é mau da minha parte, porque, às vezes, dou por mim a lutar sozinha por alguém que já partiu. E faz-me mal, eu sei. Mas eu não consigo simplesmente apagar a borracha alguém que me tatuou a pele e o coração.


Não tenho quaisquer problemas em admitir os meus erros. Não tenho quaisquer problemas em ir atrás e pedir desculpas. Simplesmente acredito que agarrarmo-nos cegamente ao orgulho é o primeiro passo para sairmos a perder. Porque eu sei que não é ele que te ama e te aquece a noite gelada; não. São as pessoas que o fazem. E nenhum orgulho vale-me alguém: jamais.

Mas tenho amor-próprio. E muito! Às vezes, dou por mim a baixar os braços e a sair da vida de alguém que já há muito me faz mal. Por mais que me custe: e custa-me sempre tanto. Ora aí está: perder-me de uma pessoa, ou perdê-la, é a coisa mais dolorosa, porque eu adoro lutar e desprezo abandonar. Mesmo que as coisas sejam difíceis. Por isso, é que me dói tanto: porque se eu desistir de ti, é mesmo porque não me deste outra opção, senão essa...

Sou um pique de emoções: ou oito ou oitenta. Sinto tudo e de tantas maneiras, que às vezes nem sei o que fazer com tudo isso. Cometo passos em falso, claro. Enveredo por caminhos errados, também. Mas podes crer que, só porque ando perdida grande parte do tempo, isso não quer dizer que não tenho qualquer rumo. Eu tenho um, e é sempre o mesmo: a minha felicidade. E a dos que me rodeiam e que a merecem. Simples.


Consigo ser simples e consigo ser o bicho mais complexo do universo. Não me compreendo a mim mesma. E, no entanto, algo é-me sempre certo: eu quero magoar o menos possível. Eu quero odiar menos ainda! Não te guardarei rancor por teres ido embora, porque acredito que, quando tal acontece, é o melhor para ambas as partes. E nunca te odiarei, por mais mal que me pretendas, porque: para quê desperdiçar tempo a odiar quem quer que seja, se posso, em vez disso, amar alguém que mereça?

Por isso, da próxima vez que quiseres reduzir-me, aproxima-te realmente de mim para teres noção do meu tamanho. E da próxima vez que te passar pela cabeça julgares-me pelos meus erros, reconhece os teus, que são esses que te dizem respeito. E da próxima vez que me criticares de língua ardente, pensa: “espera lá... eu e ela não somos assim tão diferentes”.

Para quê desperdiçarmos o nosso tempo a odiar quem não conhecemos, se podíamos estar a conhecer alguém que valha muito a pena?

quarta-feira, maio 20, 2015

AMAR É (SÓ) PARA HOMENS


Nalguns dias, ainda acredito que me amas. Dessa tua maneira contorcida, desajeitada e imatura, ainda encontro resmas de um amor que ficou para trás. Talvez não passe de imaginação minha. Talvez simplesmente gosto de acreditar nisso, por tornar mais fácil o quanto ainda sinto por ti. Ou, quiçá, seja verdade. (...) Como saber?

E foi assim que me habituei, ao longo do tempo, a alimentar-me por meio de vislumbres desmaiados do teu amor por mim. Uma mensagem tua, e o meu mundo abanava. Uma chamada, e o universo inteiro estremecia. Então, assim que me aparecias... Como meter isto por palavras? Aquela sensação de ver-te subir a avenida deserta, rumo ao meu encontro, depois de tanto tempo? Seria como descrever a vinda do sol, depois de eras de tempestade. Seria como descrever um oásis em pleno deserto. Como se fosse possível me compensares uma ausência de meses, num único instante. E eu não me importava, porque qualquer chegada tua, saberia muito mais que qualquer partida.

Isto, porque eu só te queria a ti. E não existia mais ninguém à minha volta.

Sim. Nalguns dias, ainda acredito que me amas. Pela forma como te entregas aos meus lábios trémulos, e me beijas a fundo. Pelo jeito como adormeces junto a mim, como se nada nem ninguém te pudessem tirar-me. Pela maneira como te ris, como brincas e como és tão tu ao meu lado, como não és ao lado de mais ninguém. Pelas palavras que me sussurras ao ouvido. Pelos silêncios que partilhamos e que tanto transmitem, mais que muitas bocas. Sim. Nalguns dias, ainda acredito em tudo isso.


E, depois, existem dias como este. E noites como esta. Em que acordei contigo no meu pensamento, mas sem qualquer vislumbre teu no meu telemóvel, nem ao meu lado. Nem na minha vida. Em que fiquei a assistir ao passar das horas lentas, sem qualquer notícia, sem qualquer resma de nada. E em que, por fim, me deitei, sem qualquer mensagem de “boa noite”, sem qualquer abraço e sem qualquer sinal de que te importas.

Nestes dias e nestas noites, que por mim têm passado vãos, eu pergunto-me: se achas realmente que só mereço isto vindo de ti. Se mereço ser tratada como uma espécie de hóspede, ou um tipo de visita, para acalentar as tuas dores e desafogar a tua solidão. Se mereço, de facto, não passar de um entretenimento para as tuas horas vagas, ou de uma chamada tardia, quando o sono não te vem. Se mereço, apenas, ser-te uns dias espalhados pelo calendário, enquanto tu é-los todos para mim.

É impossível possuir um ser humano. E eu amo-te ao ponto de jamais querer que me pertenças por completo. E eu amo-te ao ponto de nunca querer impedir-te de ir aonde quiseres. Mas porquê – diz-me –, porque é que teimas em nunca me levar contigo? Eu só queria ser o teu regresso. Eu só queria ser o teu porto de abrigo, que te protege de qualquer mal e até de ti mesmo. Eu só queria mostrar-te que é possível ser livre, sem teres de estar constantemente a voar sozinho.


Mas tu – nunca – o percebeste. E eu já não sou aquela miúda que amava por resmas. Que se alimentava dos pedacinhos da tua atenção e do teu carinho, para sobreviver. Eu sou uma mulher. Eu sou uma mulher que merece que a adorem. Que merece o teu fascínio pelo meu olhar, a atenção do teu toque, e a razão do teu desesperar. Eu sou a mulher que merece que te importes sempre, e não só quando estás por perto e quando é tudo simples. Eu sou a complicação que vale a pena ser desvendada.

E tu?... Tu és o rapaz sem paciência. Tu és o tal que se esconde do que é complexo. O que se zanga por amar, por ter demasiado medo de sentir o que quer que seja. Tu és o tal que foge do que não controla, e do que não segue os teus ideais e os teus caprichos; as tuas vontades. Tu és o tal que prefere fugir a enfrentar. O que opta por desistir, em vez de lutar.

E – agora – explica-me: com que alternativa me deixas, senão a de ter de ser a mulher que te deixa de vez? A mulher que te vira costas e que nunca mais volta atrás? A mulher que se torna no maior arrependimento da tua vida? É isso mesmo que tu me estás a fazer tornar-me. E o que é que tu fazes? Continuas a ser o tal que não vale a pena. O tal que só me dá todas as razões para desistir. O tal que me faz arrepender-me de tudo o que fiz por ele.


Podíamos ter sido gigantes... Eu estava disposta. Mas tu continuas a insistir em ser insignificante e em levar uma vida mais insignificante ainda.

Nalguns dias, quero lutar por ti. Nalguns dias, quero acreditar que ainda me amas. Mas esses dias já vão longe. E, agora, muitos mais são aqueles – e aquelas noites – em que só quero partir e não mais voltar. Já se faz tempo. E eu já desperdicei demasiado desse à espera que te apercebesses de tudo isto – quando deveria partir de ti.

E se nunca o fizeste, porque haverias de fazê-lo? Talvez precises mesmo de perder-me. De vez. Não como das outras vezes, mas para sempre.

É pena. Um para sempre juntos a virar um para sempre em separado. É pena, mas não é amor. E eu sou uma mulher que não merece – jamais – qualquer tipo de pena, mas sim todo e o mais puro amor.

E tu? Tu só és o miúdo que não faz por isso. E o amor é para homens.

sábado, maio 16, 2015

PARA MIM, CHEGA

Eu acreditei que era capaz. Acreditei mesmo. Julguei que todo o amor que nutria por ti seria o suficiente para que o meu coração tão esgotado aguentasse as suas próprias batidas. E que toda a nossa história – todos os abalos, todas as alegrias, todas as quedas e todas as partidas – me fosse o bastante para persistir e seguir do teu lado. Custasse o que custasse.

Tu nunca sequer pensaste nisto, pois não? No quanto me custaram todos os perdões que te concedi. E todas as lágrimas que derramei nas noites em que não aparecias. E em todos os dias a que não chegavas. Nunca pensaste em nada disto, não é verdade? Porque tu só cá estavas quando eu já te havia perdoado. Porque tu só vinhas quando era eu que dizia “nunca mais”.


Hoje, acordei cansada para um apercebimento atroz: que o conceito de dignidade é apercebermo-nos de que esse alguém que tanto amamos, não tem mais nada para nos dar a não ser dores de cabeça. E, aí, bateu-me a realidade: que eu trocara toda a minha dignidade por todo o amor que sentia por ti. Que eu deixei-me levar pelas dores que plantaste em mim, simplesmente porque acreditava que era assim que tinha de ser. Que o amor é-nos tudo e, por ser tanto, é suposto doer. E talvez seja. Mas não desta maneira: sempre, sempre. E que nenhum amor nos pede a nossa dignidade em troca.

Eu mereço um homem que grite o quanto me queira. Um homem que apareça e que queira ficar; que faça por isso. Um homem que encare um dia sem mim como se algo gigante lhe faltasse. Alguém que me diga o quão importante eu sou na sua vida. E eu já nem me lembro da última vez que fizeste uma destas coisas. Estava à espera de quê? Nem do nome “homem” tu és digno. Então, como poderias ser digno de uma mulher?


Tu tens as tuas prioridades todas baralhadas. Assumes-te como um senhor livre, dono de si, buscando por aventuras em locais remotos. Nas drogas e nas saídas. Encaras a felicidade como sendo uma vida sem um porto. Sem âncoras, nem trelas. E, no entanto, nunca buscaste por mim. Talvez por achares que te tenciono prender do meu lado, quando nunca se tratou disso. Eu só queria pertencer ao teu coração. Eu sou queria que o meu fosse a tua casa. Mas tu estás sempre demasiado ocupado a vaguear pelo mundo, sozinho... Porque é que nunca me quiseste levar contigo? Podíamos ter asas juntos e voar lado a lado, sabias? Eu não te quero prender. Eu quero ser a liberdade que te preenche o peito e que te acalma nas ressacas. Eu quero ser a felicidade de um porto de abrigo que te protege. Mas tu só queres é estar sozinho... E eu não posso amar-te sozinha.

Dignidade é apercebermo-nos que podemos ter tudo na vida. Mas que, para isso, é preciso a pessoa certa, com o coração certo. E se algo não fica connosco, é porque não é realmente certo. E tu, por tua grande culpa, deixaste de o ser para mim. E esgotada fiquei eu de tentar com tudo o que tenho, para que fôssemos certos um para o outro. Mas talvez a vida, ou Deus, tenham planos melhores para mim. E tu não serás um deles.


Eu acreditei que conseguia. Mas de que me serve conseguir-te sozinha? Tu também devias fazer por conseguir-me, mas só te deixas estar. Aí. Nessa vida aonde só me chamas quando sentes falta de um corpo. E nesse coração petrificado que bate ao som do seu próprio nome. O meu chama por ti, e sabes que mais? Ele está cansado de esperar que respondas.

Para mim, chega. A partir do momento em que tu já não me chegas.

domingo, maio 10, 2015

A Arte de Amar

Tu és como uma obra-prima. Tu, as tuas falhas, os teus sinais e todas as marcas à flor da tua pele. Todos os remoinhos do teu cabelo, que tanto te irritam. E todas as cicatrizes que escondes por debaixo das roupas, de antigas quedas. Tudo isso, que é tão teu e me é tão tudo. És como uma obra-prima, que se limássemos uma aresta que fosse, deixaria logo de o ser. Nunca permitas que alguém o faça.

Às vezes, dava por mim a observar-te com medo que me apanhasses. Sentia-me sempre tão pateta enquanto o fazia, mas não há nada como poder estar perto de ti e poder tocar-te. Sentir a suavidade da tua pele com as pontas dos meus dedos. E beijar-te os lábios e a alma, como se pudéssemos ser um só. E, agora, já nem te vejo. Já nem te sinto. E, assim, apercebo-me que estarmos próximos de alguém, nada tem a ver com a distância. Estás longe, algures, mas ainda te trago comigo, para onde quer que vá.


Por tudo o que tu és, a cicatriz que mais gosto é a que tens sobre o coração. Essa marca que te deixei bem fincada, antes de nos termos perdido um do outro. E queres saber uma coisa? Eu tenho uma igual. Às vezes, gosto de mirá-la ao espelho, enquanto me apercebo do quanto ainda me significas. Só porque alguém nos parte e se vai, não quer dizer que deixa de estar connosco. Foi uma das muitas coisas que me ensinaste. Pudesses tu me ter ensinado (também) a conseguir-te de volta.

Gostava tanto de olhar para ti. De certa maneira, fazia-me perceber quanta beleza pura existe no mundo. E que não é preciso olharmos as estrelas, a milhares de quilómetros de distância, para nos apercebermos disso. Quem diria, que também tu te tornarias numa delas. Inalcançável e sempre longe de mais. E, no entanto, sempre brilhando sobre mim, a lembrar-me o quão real tu sempre serás.


Quem diz que é preciso ver para crer, nunca amou como eu te amo. Um amor que não pede por mais nada, a não ser por ti. Que não vê troca por troca, mas sim um coração cheio. E se algum dia o mundo (ou tu) me conceder outra oportunidade, eu farei de tudo para que se torne na última.

Ou talvez esteja condenada a uma vida marcada pela tua ausência, e pela tua presença, ao mesmo tempo. Se for esse o caso, desejo-te tudo. Quero-te tudo o que mereces. Quero que ames e que sejas feliz, e que alcances todos os teus sonhos. Quem sabe, talvez um dia te apareça num, como apareces nos meus. Talvez, quem sabe, se te sonhar o suficiente, me apareças na realidade.


Tu és uma obra-prima. Uma daquelas que só nos aparecem uma vez na minha vida. E eu gosto de pensar que essa vez ainda perdura. E que, num dia qualquer, irei à tua porta e ouvir-te-ei dizer aquelas palavras com que sempre sonhei: "entra".

Comigo, guardei a tua chave. E tu? Mudaste a fechadura?
Tu sabes onde me encontrar... Não te demores. Procura-me.

quinta-feira, maio 07, 2015

MORTE ÀS PROMESSAS

Entende uma coisa: aquela miúda que te amou, no início, nos tempos que vão lá atrás, não é mais a mesma. Essa, que passava cada um dos minutos do seu dia contigo no pensamento. Essa, que sonhava um conto de fadas ao teu lado. Essa, que fazia todo o mundo esperar, só para ir ao teu encontro. Não. Essa tal miúda foi-se. Por circunstâncias da vida, ou dela própria, foi-se. Cresceu. Essa miúda virou uma mulher, sem que tu te tivesses apercebido disso.

Entende: eu não quero que me digas que iremos durar para sempre. E muito menos que me prometas. Foi uma das muitas coisas que mudou em mim: o quão evito promessas de qualquer género. Não se trata de não acreditar em nós como um todo: nada tem a ver com isso. Mas eu não quero que me prometas algo que vai além de ti e de mim. Eu não quero jamais que, um dia, te ressinta por me teres falhado. É essa a parte das promessas que toda a gente esquece: o quão vãs se podem tornar, com o passar do tempo. Para quê prometer? Que nos serve rodearmo-nos de promessas? No final, e maior parte das vezes, estas são quebradas e para ali ficamos... Rodeados de cacos compostos por antigas juras de amor, que agora só nos soam a mentiras. E um ressentimento enorme para com alguém que já tanto amámos, só porque essa não conseguiu ficar connosco - por mais que ninguém tenha a culpa (tantas vezes que é assim).


Entende: eu não quero que me prometas um para sempre. Eu quero apenas que compreendas. Que entendas o facto da vida ser um processo sinuoso, sem qualquer caminho premeditado, onde nunca podemos saber o que nos espera. E, às vezes, as coisas simplesmente deixam de funcionar. As pessoas deixam de ser certas como outrora foram. Os problemas amontoam-se e já não restam espaços para arrumá-los. Eu sei que isto é assustador, mas, às vezes, algo inesperado acontece e o fim aparece. Eu só quero que compreendas que, se alguma vez tudo isto chegar ao fim, não foi por não nos termos amado, em tempos. Eu amo-te, hoje. E sei que tu também. Em vez de o prometer, porque não nos amarmos simplesmente (enquanto dura)?

Entende, também: eu não quero que me completes. Eu já existia antes de tu apareceres. Eu quero apenas que o nosso amor nos permita ser maiores e melhores, a cada dia que passa. E eu quero ser forte contigo, mas não quero que tu o sejas por mim. E eu quero fazer-te feliz, mas não quero que a tua felicidade dependa apenas da minha existência. Eu quero que ambos cresçamos juntos e, ao mesmo tempo, como pessoas separadas. Porque, quem sabe?, um dia o nosso chão rui e as nossas paredes vão abaixo... e eu quero que tu tenhas o teu próprio lugar seguro.


Nunca te esqueças: numa relação existem três pessoas, e não duas, como toda a gente pensa. Existes tu, existo eu e existimos nós. E eu não quero nunca que me prometas um nós infinito, quando nem o eu nem o tu o somos. Eu quero apenas que nós valhamos a pena. E que tu continues a valer muito, e que eu continue também, mesmo que longe um do outro. Mesmo que em vidas completamente separadas.

Eu não preciso de ti para (sobre)viver. Mas eu quero-te. Eu quero-te e muito. Porque a vida não é a mesma quando tu não estás. Porque o amor não me sabe a nada, senão puder demonstrá-lo num beijo tão nosso. Mas também não quero nunca que o nosso fim seja o teu. Nem o meu. Eu quero-nos aos dois felizes aconteça o que acontecer, entendes? Simplesmente... por vezes... a pessoa que amas deixa de ser aquela capaz de te fazer o mais feliz possível.

E, por fim, entende: posso não precisar de ti, mas quero-te mais que sempre e como nunca. Não te prometo nada. Mas espero que acredites na mesma.

terça-feira, maio 05, 2015

O lado negro do Amor.

A única coisa que me assusta mais do que querer alguém, é precisar de alguém. É uma batalha constante. Tu feres-te, fragmentas-te, esmiúças-te e transformas-te, só para que consigas moldar-te e encaixar-te na vida de quem amas. Não te dás conta ao início, mas mais à frente apercebes-te. O apercebimento cai-te de súbito como o soar de um trovão. Quem eras tu, antes dela aparecer? Já mal te lembras. E tu fizeste-o porque tu assim o quiseste. É o que mais queres no mundo, afinal de contas. Ser desse alguém.

Eu gosto de ser tua. E, ao mesmo tempo, ressinto-te por isso. Sim, é verdade. Eu guardo-te um rancor enorme por me teres feito passar por tudo o que passei, só para ser tua. É doentio: quase como me trair a mim mesma. Misturei as minhas partes com as tuas, e agora já nem as consigo distinguir. São nossas e eu gosto que sejam. Mas não é fácil. Aliás, é mais assustador que qualquer outra coisa. Porque eu preciso que fiques comigo, para que não me perca. Se tu fores embora, eu transformar-me-ei num antro de ausência e de espaços em branco. E será isso justo? Eu ressinto-te por isso mesmo, porque não me deste outra escolha senão amar-te e precisar de ti.


E custa. Claro que custa. Eu não to demonstro, mas às vezes chega a doer. O medo de te perder. O medo de não ser boa o suficiente para te manter. E a agonia de, um dia, poder perder o meu chão e o meu tecto, ao mesmo tempo. E quantas vezes já te perdoei em nome do amor que sinto por ti? Tens alguma noção do quanto eu já sacrifiquei, só para que ficássemos juntos? E se eu nunca conseguir parar? Já nos magoámos tanto um ao outro, e como saber quando parar? E o que fazer se chegar o dia, em que deixar-te será a única solução? É isto que me assusta. É por isso que precisar de ti é tão tenebroso, porque só de imaginar um mundo sem ti, eu tremo. Como se eu não me bastasse a mim mesma. É por isso que te ressinto, por me teres mostrado que eu não sou capaz de ser mais feliz sozinha, do que quando estou contigo.

Eu gosto de ser tua. Mas, às vezes, não me sinto o suficiente para ti. Sinto-me quebrada, danificada, como um brinquedo partido. Ou um daqueles puzzles poeirentos com algumas peças em falta. E tenho medo que chegue o dia em que encontras algo insuportável em mim, e que me deixes. Ou que te apercebas que sou mais dúvidas, que certezas; que sou mais perguntas, que respostas, e que vás à procura de algo conciso e simples.


Pudesse eu voltar ao início. Àquela noite em pleno Dezembro, quando nos sentámos no alpendre a fumar, enquanto me apresentavas as constelações e contávamos estrelas cadentes. A cada uma que passava, perguntavas-me se tinha pedido um desejo. Eu disse-te que não, que já tinha tudo o que precisava. Ainda me lembro do cheiro a camomila e a café que emanavas, quando te chegaste para mim e me beijaste da primeira vez. Ou a sensação de quando me tocaste ao longo das costas, com as pontas dos dedos, da primeira vez que fizemos amor, no meio do nada. Só queria poder voltar ao nosso início, quando não haviam medos, nem dúvidas, nem cicatrizes – quando nenhum tinha magoado o outro. Mas nós magoámo-nos tanto.

No meio disto tudo, o que me assusta mais não é precisar de ti, mas sim perder-te. E não é justo ter tanto medo de algo, mas eu sinto-o todos os dias. E eu odeio isto, porque a pessoa que eu era, antes de ti, fazia troça daqueles que se deixavam morrer de amores, incapazes de se controlarem. E eu amo-te. Quero-te. E preciso-te. E eu gosto de ser tua. Mas ressinto-o. Como posso continuar a sentir tudo isto, depois de tudo o que me fizeste? Como é que depois de todas as feridas que me causaste, continuo a ansiar pelo teu toque? E como é que depois de todas as noites passadas em branco, continuo a desejar-te nesta cama, onde tanto chorei por ti? E como é que depois de me dares todas as razões para odiar-te, continuo a amar-te desta maneira?


Quem sou eu e o que me fizeste? Vou dizer-te algo que jamais pensei ser possível ser eu a dizê-lo: mas se tu fores embora, eu morro. Se eu te perder, eu perco-me.

Estás a ver aquela ferida que tu olhas e pensas “vai deixar cicatriz”? 
É isso que penso quando olho para ti.

segunda-feira, maio 04, 2015

Às mulheres difíceis de amar.


Nunca sejas a rapariga que fica sempre, por mais merdas que ele te faça. Mas também não sejas aquela que o deserta à primeira tempestade. Todos cometemos erros, não é verdade? Sê a rapariga que o faz não querer errar, nem te falhar. Sê a rapariga que bate o pé e que o avisa quando ele está a ser uma besta. Mas nunca, nunca sejas a rapariga que fica sempre, porque dessas não se faz história. Sê a mulher que lhe mostra o quanto ele não seria capaz de passar sem ti.

Sê tu mesma, sempre: deixa-o ser-se também. Só assim é que poderão ser os dois juntos. Não sejas a prisão que o acorrenta em casa, mas sim as asas que o movem por todo o mundo. Melhorem, um com o outro. Superem-se. Não tenham medo de passos em falso, porque até esses fazem parte do caminho. Mas nunca, nunca sejas a rapariga que fica sempre, porque é essa que ele esquecerá depressa. Sê a que lhe vira o mundo do avesso, mostrando-lhe que o lado certo será sempre aquele que te tem presente.


Ama-o incondicionalmente, mas não te deixes cegar. Não é o amor que é cego, as pessoas é que o são. Respeita os seus vícios e as suas manhas irritantes, mas chama-o sempre à atenção - não te esqueças. Aceita-o como ele é, aceita-o pelas falhas que fazem parte de si, mas não aquelas que te magoam e que te sangram. Essas não têm lugar aqui. Vocês conseguem superar isso, se se mantiverem juntos. É isso que basta, afinal - eu sei, até é simples.

Mas nunca, nunca sejas a rapariga que fica sempre, enquanto ele te fere, vezes sem conta. Enquanto ele te promete o mundo, mas nem a mão te dá quando mais precisas. Não sejas essa rapariga, porque essa nunca será a mulher da vida dele. E tu és uma mulher demasiado mulher para seres menos que isso.


Sê a que o faz desesperar, mas também a que o abraça com mais força. Sê a que lhe confunde e troca as voltas todas, mas também a que faz tudo valer a pena. Dá-lhe as razões todas para ele jamais julgar que perder-te seria um alívio. E que uma vida sem ti seria um autêntico descanso. Dá-lhe as razões todas para ele temer qualquer realidade em que tu não estejas. 

Não é fácil amar uma mulher assim, eu sei. Sê a que o faz amar-te na mesma; mesmo assim.

Mas nunca, nunca sejas a rapariga que fica sempre, de qualquer maneira, só por ser ele. Antes de seres a mulher da vida dele, és a mulher da tua - e ele tem de ser homem o suficiente para fazer parte dela. Nunca sejas a rapariga que se contenta só por tê-lo: sê a que o mostra que ele tem de continuar a fazer por isso. Não sejas a que fica sempre, apesar de tudo. Sê aquela que o faz merecê-lo. Alguém que luta e que vai à guerra, se for preciso. Alguém que não te trate nem como garantia, nem como opção, por te querer simplesmente por tudo. 

E nunca te esqueças: sê a mulher que merece um homem assim.