terça-feira, setembro 22, 2015

NÃO TENHAM MEDO DE ESTAR SÓS


Eu costumava ter tanto medo de estar sozinha, sabiam? Pela maneira como o silêncio se tornava tão voraz e desolador. Capaz de trazer ao de cima os mais malvados pensamentos, que sempre abafei com barulho. Capaz de ressuscitar os piores demónios e todos os meus velhos fantasmas. Eu encarava a solidão como um buraco negro, que só me sabe sugar e rodear de plena escuridão. Eu… Que sempre tive um imenso pavor ao escuro.

Até que me apercebi que ter medo de estar sozinha é o mesmo que ser escravo da solidão. Porque, na verdade, o ser humano tem a tendência em tornar-se naquilo a que mais resiste. Como quando resistimos a um desejo, que sabemos que está lá, bem concedido por entre as nossas veias. Quanto mais lhe resistimos, mais ele borbulha no nosso interior, até ocupar todos os cantos do nosso corpo. No que toca à solidão, acontece o mesmo. Quando damos por nós, já só a somos. Já ela tomou posse de nós. E por mais pessoas que se encontrem à nossa volta… E por mais que o sol brilhe lá fora… Aqui dentro, somos só nós. Nós e o nevoeiro que nos cerca por completo.


Um dia, olhei-me ao espelho e caí na realidade: ali estava a pessoa que mais poder tem sobre mim e sobre a minha felicidade. Ali estava o meu maior inimigo e, ao mesmo tempo, a minha maior salvação. Então, porque haveria eu de ter medo de ficar a sós comigo? Se eu conseguir tornar-me em alguém que admiro, em alguém que se basta, e em alguém que sabe tomar conta de si mesma, que mal é que tem estar sozinha? É tão simples, afinal de contas…

Saí à rua sem quaisquer medos. Mentira. Medo, sim, hei-de ter sempre. Aquele medo miúdo e sorrateiro, empoleirado atrás da orelha, a segredar-me e a relembrar-me do quão magoada eu já fui por outrem. Mas sabem que mais? A pessoa que mais me pode magoar, no fim, sou eu mesma. E, ao mesmo tempo, também sou eu a que me pode salvar. O meu erro foi ter acreditado que quem me quebrou, iria ser a mesma pessoa que me viria concertar. Mas não. Essa pessoa és tu mesma. Mais ninguém merece esse poder. Podes entregar a cópia da chave do teu coração a quem achas merecedor, mas, no final, a casa continua a ser tua. Tu és a tua propriedade e prioridade - sempre!


O erro de tantos é assumir que a felicidade não pode ser vivida a sós. E que, para sermos realmente completos, devemos ter sempre alguém com quem partilhar os dias, as noites, os momentos, as tempestades, as canções e tudo mais. E que é obrigatório ter um homem ou uma mulher para nos amar e beijar todos os dias. Nada disso. Para sermos felizes, não precisamos que ninguém nos complete. Tu, sim, tens de ser uma pessoa completa, em primeiro lugar. Tu não és nenhum puzzle com falta de peças, entendes?

Com isto, não quero dizer que pretendo ficar sozinha para sempre. Aliás, ainda acredito que, um dia, alguém vai aparecer e trazer ao de cima o melhor de mim: aquele lado que não mostro a qualquer pessoa. Agora, jamais vos diria que estou à espera de encontrar a minha outra metade. E sabem porquê? Porque eu já sou inteira.

Estou cada vez mais capaz de gostar de mim. E mais que isso: de adorar estar comigo. Sem barulho, sem pessoas, sem distracções. Só eu, parada, num breve momento, a tirar um tempo para mim. E tu? Quando foi a última vez que gostaste realmente de ti? Sem que ninguém to tivesse de dizer? Como podemos estar à espera de alguém que aprecie a nossa companhia genuína, se nem conseguimos ser companheiros genuínos de nós mesmos?

Hoje, pedi desculpa a mim mesma. Sempre andei à espera por desculpas e oportunidades de outras pessoas. Hoje, peço perdão ao meu coração que tanto entreguei a quem não merecia. Peço desculpa ao meu corpo que sempre carregou peso a mais. E concedo-me a oportunidade de seguir em frente e de continuar a melhorar, dia após dia.

Um dia, alguém há-de merecer-me. Mas, para isso, tenho de me merecer a mim primeiro.

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