terça-feira, março 29, 2016

AMAR (NÃO) É PARA TODOS


Apaixonar-me por ti foi fácil… Quiçá, demasiado fácil. Afinal, como seria possível resistir a esses teus olhos com tons de Outono, capazes de me transportar para qualquer lado através de um mero vislumbre? E como poderia uma rapariga como eu não se deixar enfeitiçar por um rapaz como tu, sempre com mil e um sonhos nos bolsos e música a rebentar-te na alma? (…)

Apaixonar-me por ti foi fácil e espontâneo. Tal qual uma tempestade numa madrugada de Verão. Os céus não a adivinham de imediato, mas assim que as primeiras gotas se fazem sentir, nós imediatamente sabemos. Aí vem ela. E eu imediatamente o soube: ali estavas tu. O homem que iria virar o meu mundo do avesso. O homem que iria fazer todas as músicas fazerem sentido. O homem que iria marcar-me para sempre. (…) Digamos que acertei em todas as minhas previsões, porque lá está: tu virias a ser a tempestade que viria mudar a minha vida como eu a conhecia.

Apaixonar-me por ti foi fácil e, ao mesmo tempo, assustador. Quiçá, por ter sido tudo tão rápido e tão intenso, como eu nunca imaginara ser possível. Num momento, estávamos a caminhar lado a lado pelas avenidas, a seguir à escola, cada um rumo à sua casa. No momento seguinte, já te tinha deitado ao meu lado, junto à costa, a mirar as estrelas cadentes e a pedir desejos em segredo. Noutro, lá estávamos, perdidos nos braços um do outro, no meio do nada, enquanto o sol subia, vindo do horizonte. Passou tudo tão depressa… E o amor era tanto e cada vez mais, a cada momento que passava, e eu não compreendia como é que tudo aquilo era possível.


Apaixonar-me por ti, admito, foi muito fácil; quase que inerente, como se já fizesse parte de mim, antes de sequer te ter conhecido. Como aquelas raízes de que me falavas, sempre que passeávamos por um jardim qualquer. Aquelas que se unem umas nas outras, debaixo do chão, e que surgem à superfície como uma só. E eu acreditava que o Amor era mesmo assim. E que, da mesma forma que me apaixonar por ti foi tão natural como respirar, permanecer contigo seria igual. Tal como as tais flores dos tais jardins por onde passeávamos juntos.

Apaixonar-mo-nos é (quase sempre) fácil… Lá está, nós nem temos de fazer nada. Por isso mesmo é que nunca nada me iria preparar para o quão difícil tudo se tornou - depois. Como foi ter de ver os teus olhos a transformarem-se no mais frio dos Invernos. Como foi assistir ao silenciar da tua alma, que deixou de tocar-me músicas, que perderam todo o seu sentido. Como foi ver os teus sonhos a dissiparem-se por entre as roupas que trazias. Como foi deixar-te na estação de autocarros, depois de uma madrugada que ambos passámos a chorar, e saber que o nosso para sempre tinha terminado para sempre.


Apaixonar-me por ti foi fácil, mas ficar contigo revelou-se impossível. E não há nada mais doloroso do que isso. Como é que se lida com o facto de que, a pessoa que mais amamos, nunca virá a ser, simultaneamente, a pessoa certa para nós? Como é que se pode aguentar vermos o nosso amor, o nosso melhor amigo, companheiro, a virar um estranho como todos os outros? (…)

Mas tu nunca poderias ser como todos os outros. Porque tu és tu. Tu foste o homem que me marcou para sempre. Tu serás para sempre o homem que sabe como fecho os olhos antes de um beijo. Tu conhecerás sempre o meu jeito de acordar, de chorar e de insistir, mesmo quando as razões se esgotam. Era isso que nos diferenciava e, quiçá, foi mesmo isso que nos tornou impossíveis um para o outro: eu não queria saber de razões para nada porque te amava. Tu alimentavas-te delas como desculpas para não o fazeres.

Apaixonar-mo-nos é (quase sempre) fácil… Difícil é fazer valer a pena todo o amor que se sente, todos os dias… Difícil é escolher a razão ínfima para lutar, em vez das incontáveis que temos para baixar os braços e ir embora. Difícil é sermos os tais que não deixam o medo intrometer-se no caminho. Lá está: amar não é para todos. E nisso, sim… tu foste só mais um.

quarta-feira, março 23, 2016

AMOR (E MEDO) EM TEMPOS DE GUERRA

Eu nem queria acreditar nas notícias, assim que acordei naquela manhã. Como de costume, uma enchente descontrolada de artigos por todas as redes sociais alertou-me para aquilo que se havia passado. “Mais um atentado”, pensei, e foi mesmo essa a parte pior: o facto de ter sido “mais” um. Não o primeiro e, iminentemente, não o último.

Impossível foi conter as voltas que me assolaram o estômago, assim que pensei em todos os conhecidos e amigos que tenho nesse país, naquela cidade. Felizmente, agora até já nos podemos declarar como ‘seguros’ através da rede social. Infelizmente, isso foi algo que se tornou necessário, porque lá está: foi “mais” um atentado, num grande centro, onde incontáveis pessoas inocentes passam, todos os dias. Desmedidamente destroçada fiquei ao saber que haviam vítimas mortais. As tais pessoas puramente inocentes que enveredavam por mais um dia, que, à partida seria igual a todos os outros, nunca mais voltariam a casa. Nunca mais veriam as suas famílias, ou os seus animais de estimação, ou os seus amigos. E, supostamente, era só mais um dia. Mas acabou por ser, afinal, “só mais um” atentado.

Sinceramente, fico cansada do típico discurso: “preocupam-se por ser Paris, mas não se preocuparam quando foi na Turquia”, por exemplo. Eu sei que quem o faz é com boas intenções, procurando apelar à atenção que deveria ser igualmente distribuída por todos os países afectados e por todas as respectivas vítimas. Mas parem. Parem com essas palavras semi-intriguistas, quando o problema é extremamente maior que esse. Parem de proclamar essa moral altruísta, como quem procura proteger os pequeninos. Porque acreditem: neste momento, seja em Bruxelas, seja noutro país qualquer… Nós somos todos pequeninos.

Nós, que nos encontramos atrás deste ecrã, enquanto bombas explodem além. Nós que não hesitamos em partilhar as notícias no nosso mural de Facebook, ou em expor lá as nossas opiniões sobre o que está a acontecer, desta forma tão desapegada e distante. (Até porque não podemos fazer mais nada que isso). Mas pronto, afinal, e por enquanto, está longe de nós. Atenção ao “por enquanto” e ao “longe”, e são importantes as aspas. 


Guerra. É isto que estamos a viver em pleno século XXI. Lembram-se das aulas de história do secundário, ou mesmo dantes, quando estudávamos a Primeira Grande Guerra, a Segunda e tantas outras? Estudávamo-las como se não passassem de estórias poeirentas, que decorávamos para passar nos testes. Agora, está a acontecer como que fora da nossa porta. E, desta vez, a prova em questão é a nossa própria sobrevivência. E bem-estar. E segurança. E todas essas coisas que continuamos a dar como garantidas, porque assim nos ensinaram; e assim nos habituámos. E é assim que tem de ser.

Quiçá, é por isso que nem tanta gente se preocupa como deveria. Com isto não quero dizer que devíamos todos erguer armas e mandar-nos à luta. Mas transtorna-me seriamente a despreocupação generalizada, que eu não sei se é derivada por uma estranha indiferença àquilo que se passa, ou se por medo de aceitar o facto de que, talvez, um dia, seremos nós a ser falados num livro de história, num outro tempo qualquer.

O que é que pode ser feito? Eu temo não saber. Mas atrevo-me a dizer que sei o que não deve ser feito. Como por exemplo, atribuir culpas à toa, só pela necessidade de termos um alvo fácil a apontar. Ou encarar os refugiados como se fossem uma praga, quando estes são pessoas iguais a nós, só que sem uma casa E quem nos disse que a nossa está em segurança? Um dia, quem sabe, seremos nós a ter de fugir. E aí, como vai ser?


Eu estou aterrorizada, porque sinto que é essa a única coisa que posso fazer: temer. Temer por mim e pelos meus. E pelos inocentes do mundo inteiro. E mais que isso: temo aquilo que esta guerra está a cultivar entre todos nós, que é o medo. Este medo intenso e absoluto de tudo e de todos. Esta desconfiança daquilo que nos é diferente ou estrangeiro. E esta onda de intolerância, em tempos de guerra, que é quando mais nos devemos tolerar uns aos outros. E ajudar-nos uns aos outros. E proteger-nos uns aos outros.

Eu estou aterrorizada, porque sempre fui a romântica, que se apaixonava em segredo pelos estranhos que via passar na rua. E pelos estranhos a ler nos autocarros e nos jardins. Eu tenho medo, porque a guerra está a tentar fazer-me temê-los a todos. E assim que todos começarmos a perder a capacidade de amar aquilo que (ainda) não conhecemos, os ‘outros’ vencem.

É isso mesmo que eles querem, afinal de contas. Separar-nos pelo medo. Fazer com que nos odiemos uns aos outros, por medo. E se há coisa que eu, ou tu podemos fazer, - e que é tão pouco - é não permitir que tal aconteça.

terça-feira, março 15, 2016

OS (D)ANOS MUDARAM-ME. E DEPOIS?


“Tu mudaste. Tenho saudades de quem eras.” (Tretas!) Queres saber uma coisa? De pouco ou nada eu sinto falta de mim; da pessoa que eu costumava ser, outrora, noutros tempos, noutro lugar. E queres saber porquê? Porque a vida é mesmo assim. Porque tudo o que por mim passou e porque tudo o que eu vivi, por entre todos esses anos que enfrentei, transformou-me naquilo que sou hoje. Todo esse acumular desenfreado de coisas, de histórias, de pessoas, de decepções, de descobertas mudaram-me. E de que maneira. Nem sabes tu o quanto.

E depois? Diz-me, não achas que é suposto ser assim? Diz-me, era suposto eu permanecer na mesma pessoa que era, há - digamos - 5 anos atrás? Tenho a certeza que esse meu ‘eu’, que já nem sou, nem me iria reconhecer agora. E sabes que mais? Ainda bem. E sabes porquê? Porque eu acredito que nenhum de nós deve ser uma personagem plana; imutável. Nunca ninguém poderia levar uma vida sendo sempre uma constante. E porquê? Porque nós mudamos com o passar dos anos; sem sequer darmos conta de imediato.

E depois? Diz-me, como poderíamos nós permanecer exactamente como sempre fomos? Depois de tudo o que sofremos, como poderia ser possível passar por isso impune? Depois de todas as mágoas, das feridas à flor da pele, das dores nos ossos e no peito, como é que poderíamos continuar quem éramos, antes de tudo isso? Nunca seria possível, e muito menos aconselhável. E queres saber porquê? Porque nós mudamos com o passar dos danos. (E ainda bem.)


(Re)lembro a rapariga que eu era. Aquela que encarava o amor como a sua derradeira salvação. Aquela que acreditava que todas as pessoas tinham um fundo maravilhoso. Aquela que lutava pela salvação de todo o mundo à sua volta. Aquela que era capaz de colocar tudo à sua frente. Aquela que batalhava desenfreadamente para que tudo na sua vida durasse para sempre…

E sabes que mais? A única coisa de que sinto falta é da ingenuidade; da inocência daqueles tempos que já lá vão, para nunca mais voltarem. Era tudo tão mais fácil, afinal de contas. Tempos, aqueles, em que amar era o suficiente para se moverem montanhas e cortarem-se distâncias. Tempos, aqueles, em que a amizade era saltar pelo recreio e trocar bilhetes nas aulas, às escondidas. Tempos, aqueles, de ter os pais no quarto ao lado, para me salvarem dos pesadelos. Mas sabes que mais? Ainda bem que esses tempos já lá foram, para nunca mais voltarem.

Todos temos de crescer. E, por mais assustador que tal nos pareça, temos de mudar, também. Não por completo, como é óbvio, até porque a nossa essência há-de se manter sempre (e se quiseres mudá-la, tudo bem!). A mudança não existe para a temermos, como se fosse algo que (se) nos tirasse ou afastasse de nós… mas sim como o processo que nos amadurece, que nos acrescenta e que vai formando, aos poucos, o nosso carácter.


A única coisa que temos, sim, o poder absoluto de manusear é a escolha entre mudar para melhor, ou para pior… No meu caso, sim, admito que me tornei um pouco mais fria, mais complexa, mais de-pé-atrás e, consequentemente, muito mais difícil de lidar… E depois? Diz-me, não achas que era suposto eu mudar(-me), depois de tudo o que passei?

Eu gosto da pessoa que sou hoje. E tenho a plena consciência de que ainda muito em mim irá mudar. Talvez, qualquer dia, deixo de roer as unhas, ou de fumar, ou de conceder oportunidades a quem não as merece de todo. Mas, para já, aceito-me como sou e aceito tudo aquilo que vier de braços abertos… Eu sou uma constante evolução do meu ser. E não tenho medo nenhum disso.

A quem sentir saudades de quem eu era… Pena! Só os fracos teimam em viver no que já lá foi.

domingo, março 06, 2016

AOS HOMENS QUE [ME] ESCAPARAM.


Há verdades mais difíceis de aceitar do que outras. Digamos que uma das coisas mais dolorosas que tive de admitir a mim mesma, há alguns anos atrás, foi esta: eu não sei estar sozinha. Não no sentido de andar por aí a pular de relacionamento em relacionamento (não que isso seja mau, mas não é o meu caso). Mas dava por mim a enveredar constantemente em histórias e em cenas, que quase se atropelavam umas nas outras.

Eu apercebi-me que não sabia estar sozinha, numa altura em que o meu estado emocional estava mais instável que qualquer outra coisa. O meu passado estava longe de resolvido e, no entanto, eu fazia questão de confundir ainda mais o meu presente. Negava a confusão da minha vida, proclamando estar apenas “emocionalmente indisponível”. Era mentira. Eu não estava indisponível nem coisa nenhuma: eu estava simplesmente um caco. Um autêntico caco.

Dei por mim a conhecer um homem que acabara de sair de uma relação duradoura. E eu invejava-o por imensas razões: a primeira, porque eu nunca soubera sequer o que era ter um relacionamento que durasse. A segunda, por ele parecer tão mais seguro e pacato do que eu, que já estava solteira há sabe-se lá quanto tempo. Lembro-me de perguntar-lhe incontáveis vezes como é que ele o fizera. Como é que ele conseguira escapar impune a tantos anos de amor, tão depressa. E ele dizia-me sempre: que temos de aceitar que, na vida, coisas acabam para que outras melhores surjam. Como se fosse tão fácil assim.


Esse homem teve um papel primordial na minha vida, apesar de nunca termos chegado a ter, nem uma história de amor, nem nada que se parecesse com uma relação séria. Lá está: a minha vida já há muito que se tornara numa sucessão de cenas casuais, que duravam dois meses no máximo. Com esse homem, tal não foi excepção. E, no entanto, cruzar-me com ele apresentou-me a uma das verdades mais dolorosas que eu alguma vez tive de enfrentar: que eu não sei, nem quero estar sozinha. Seja de que maneira for.

Escusado será dizer que aconteceu aquilo que acontece (quase) sempre: acabei por magoá-lo, quando ele não o merecia de todo. No que toca às ‘falsas esperanças’, a história complica-se, porque existirão sempre dois lados em confronto e que nunca entrarão em concordância. O meu, que defendia o meu lado; que sempre lhe avisei que não queria “nada mais do que aquilo”, entre outras conversas vagas e sinais mal entendidos. E o dele, que defendia o seu lado; que sempre me tratou como eu merecia e que sempre me tentou mostrar que, juntos, poderíamos ser felizes.

No meio de todo esse desgrenhado de emoções, ao mesmo tempo, eu estava a lidar com as consequências colossais de um passado por resolver. De um relacionamento - se é que pode ser chamado disso - que nunca terminara como deveria ser. Agora que penso nisso, trata-se de mais uma típica desculpa esfarrapada. “Acabar como deve ser” é uma conversa da treta, na verdade. As coisas quando terminam, seja como for, aconteceram assim porque assim tinha de ser. E ponto! Mas lá está: eu não conseguia conceber essa realidade, porque eu tinha pavor a estar sozinha. E admitir a mim mesma que existem laços que se rompem para sempre, seria o mesmo que admitir que, um dia, eu iria ficar derradeiramente só. (Dramático demais, não é?)


Magoei um homem que não merecia. E na altura em que deveria ter sido a mulher forte e enfrentá-lo, acabei por evitá-lo que nem uma cobarde. É tão assustador ter alguém apaixonado por nós, sem que o consigamos corresponder. E já há muito que a minha vida se tornara nisso mesmo: numa sucessão de cenas casuais, com homens genuinamente bons, mas que pareciam nunca evoluir para “mais nada do que isso”. Ora aí está outra verdade trágica que tive de aceitar: eu não consigo apaixonar-me por ninguém, simplesmente. (E o que é que há de simples nisto?…)

Talvez não seja assim para sempre - eu gosto de acreditar que não. Não me interpretem mal: eu adoro estar apaixonada. Mas, por algum motivo, toda essa adoração nunca passou da teoria. Já estive apaixonada, sim, mas não tantas vezes como gostaria. E não tão fortemente como seria suposto. Quiçá, dei tudo de mim nesse passado longínquo, que sempre usei como desculpa pelos meus actos sem sentido. Quiçá, nunca me cruzei com a pessoa certa, porque insisto em permanecer nos sítios errados. Quiçá, tornei-me na cínica que sempre repulsei. Mas lá está: não passam de teorias. E o amor não tem absolutamente nada de teórico.

Não me interpretem mal, mas eu não vejo o sentido em pedir desculpa às ‘vítimas’ do meu vendaval emocional, e sabem porquê? Porque elas estão bem melhor sem mim. E, agora que penso nisso, essa é a pior verdade de todas.

terça-feira, março 01, 2016

O DIA EM QUE ME ESQUECI DE TI


Nunca pensei que algum dia fosse escrever as palavras que se seguem. Nem nunca pensei que algum dia iria ter um conjunto de dias a que não chegasses; uns a seguir aos outros. Nem, muito menos, alguma vez pensei que, um dia, eu iria dar por mim, assim… Livre de ti; e livre em mim.

Quando um grande amor - como aquele que senti por ti - morre de nós, é como se tudo nos morresse. Deixamos de pertencer aonde quer que seja; deixamos de ser de nós mesmos; deixamos o mundo para trás. Afinal, onde poderia eu ir, se em nenhum lugar te encontraria? E porque quereria eu ser eu, se eu nunca fui o suficiente para te manter? E porque haveria eu de viver num mundo marcado pela tua presença e pela tua ausência, ao mesmo tempo?

Durante tantos anos - mais do que alguma vez poderei contar -, a única certeza da minha vida era esta: amar-te. Eu nem sabia fazer outra coisa, senão isso. Até voltava a bradar aos céus o quanto te amei e o quanto fiz por manter-te na minha vida, mas para quê? Já todo o mundo o sabe. E tu sempre o soubeste, também. E eu nunca quis escondê-lo: aliás, olhem para aquilo que escrevo. Tudo isso, tudo isto foi para ti. De mim para ti. E eu nunca o escondi, porque lá está: a única certeza que eu tinha era esta: amar-te. E escrever para ti. E todas aquelas palavras nunca haviam sido minhas, mas sim tuas. Sempre fora assim.


Por isso é que nunca pensei que algum dia aquele dia chegaria. O dia em que finalmente me apercebi que te esqueci. Não como uma lavagem cerebral, e muito menos como um ataque de amnésia. Eu simplesmente, sem dar conta, esqueci-me de me lembrar de ti. Algo que eu fazia espontaneamente, num acto tão normal como respirar. Algo que se tornara na única certeza que me despertava, todas as manhãs, e me embalava, todas as noites.

Até àquele dia, em que me esqueci. Nem sei dizer ao certo quando aconteceu. Se foi segunda, ou domingo. Se era tarde, ou madrugada. Não me lembro, porque foi um dia como todos os outros. Acordei e não te vi, como de costume. E, no entanto, foi diferente de tudo o que já conheci. Porque, pela primeira vez, eu não o passei com a esperança de te ver chegar. Nem de receber uma mensagem tua. O primeiro dia, depois de milhares, em que simplesmente não esperei por ti.

Quando um grande amor - como aquele que senti por ti - nos parte, esse alguém não parte de imediato. Porque nós não deixamos. Agarramo-nos àquilo que resta, ao quase nada que fica para trás. Aos lugares onde se partilharam momentos; às histórias que passam a memórias; às palavras que deixaram de valer o que quer que fosse e… nada mais. Eu agarrei-me a tudo isso com unhas e dentes, porque não conseguia conceber uma realidade sem ti. Tu era-la toda. Tu eras-me tudo.


Por isso é que nunca pensei que aquele dia chegasse: o dia em que te esqueci. O dia em que me apercebi que aquele homem a quem eu escrevia todos os meus textos; a quem eu chorei todas as minhas lágrimas; a quem eu concedi todas as minhas oportunidades, e a quem eu dediquei tanto do meu tempo, não era mais merecedor de nenhuma dessas coisas. Não por ele ser um mau homem, - porque eu jamais pensaria isso de ti -, mas sim por ambos merecermos melhor.

Nunca pensei escrever estas palavras que se seguem. Eu adoro que sejas feliz sem mim. E eu adoro ser feliz sem ti. Eu adoro que ambos tenhamos conseguido sobreviver à perda um do outro. Eu adoro o futuro que nos aguarda, e adoro o passado que partilharemos, para sempre, os dois.

E o passado é lindo onde pertence: no passado. Obrigada por me teres concedido um assim.