quinta-feira, abril 07, 2016

TU (NÃO) FOSTE O AMOR DA MINHA VIDA


Hoje acordei com um homem ao meu lado na cama. Fiquei a mirá-lo em silêncio enquanto este dormia de barriga para cima, por entre o emaranhado de lençóis desbotados. O seu peito erguia e baixava a cada uma das suas respirações e, por alguma razão que desconheço, dei por mim a pensar no primeiro homem que amei. Quiçá, o único - ainda hoje não tenho a certeza.

Dei por mim a pensar na pessoa que eu era, há uns anos atrás, quando o amava. Quando todo o meu peito era como o único local seguro, onde a cabeça dele repousava. Quando os meus braços e só os meus braços eram os únicos que o seguravam. Quando os beijos e só os meus beijos eram os únicos que se deleitavam na sua boca. E a única realidade que eu conhecia era aquela que vivia do seu lado. Eu amava aquele homem. Quiçá, ele amava-me também a mim - ainda hoje não tenho a certeza absoluta disso.

Vivemos aquilo a que se pode chamar um amor desenfreado, como um filme qualquer imprevisível, daqueles repletos de cenas, de pausas, de erros e de acasos que mais pareciam ser coisa do destino. Num momento, éramos capazes de estar juntos ao ponto de nem saber onde a sua alma terminava e a minha começava, por serem ambas uma só. Noutro momento, afastávamo-nos de tal maneira, durante tanto tempo, e eu chorava desalmadamente porque pensava sempre “é desta que acabou” - mas nunca era. Até, claro, à vez que foi.


Até o nosso final - adivinhado, mas não esperado - foi qualquer coisa de cinematográfico. Planeámos encontrar-nos na nossa esplanada predilecta, onde, outrora, passávamos as tardes de verão, comigo a cantar e com ele a dedilhar a sua viola. Sentámo-nos com a distância de um oceano a separar-nos e baixámos o olhar. E há pior coisa do que ter de evitar o olhar de quem se ama? Pois, lá está: já há muito que chegáramos ao ponto que até isso nos feria. Foi mesmo assim que soube que o derradeiro fim havia chegado: amá-lo arruinara-me mais que qualquer outra coisa. E há pior coisa do que sermos arruinados por quem mais amamos?

Fui ao encontro do homem que amava - quiçá, o único que amei -, com todas as verdades e mentiras a pesarem-me nos bolsos. Atirei-lhe todas as palavras, para que não me restassem (quase) nenhumas. Chorei rios e gritei tempestades. Começou a chover e a chuva confundiu-se com as minhas lágrimas, e, assim, chorei ao som dos céus que choravam comigo. E dei por mim a sorrir, porque sabia que, um dia, iria voltar a fazer sol.

Eu acreditei durante quase uma vida, que aquele homem era o amor da minha vida. a minha alma gémea. Mas ele não o foi, ele não a era. Na verdade, ele acabou por ser a minha maior lição.

Hoje acordei com um homem ao meu lado, na cama. E dei por mim a pensar no primeiro homem que amei. Quiçá, o único. Depois, acabei por pensar na pessoa que eu era quando o amava, até me ter apercebido que nada em mim, agora, se assemelha àquela rapariga de outrora. E isso é simultaneamente uma tragédia e o maior dos alívios.


Não sei de todo quando é que vou voltar a amar, nem por quem o vou fazer. Mas de uma coisa tenho a certeza: eu quero fazê-lo de outra maneira; e quero ser amada de volta como nunca antes fui. Porque lá está - aquele homem, o único que amei, nunca poderia ter sido o amor da minha vida, ou a minha alma gémea. Porque não foi ao lado dele que eu acordei, hoje de manhã. Nem será com ele que acordarei amanhã, nem depois de amanhã.

E um amor que vale a pena jamais implicaria deixar-nos a acordar sozinhos, ou ao lado de qualquer outra pessoa. E sabem uma coisa? Hoje, eu não desejei acordar ao lado daquele homem que amei. Porque a pessoa que sou hoje, ao contrário daquela que eu era, não se importa de acordar ao lado de alguém que não ama. Ele vai aparecer, qualquer dia. Mas hoje, eu não queria acordar sozinha - e tenho todo o direito em não o querer, as vezes que forem precisas.

E ninguém tem nada a ver com isso. Eu amo-me a mim e não desejo ser outra pessoa. E quem me quiser amar, que o faça desta maneira, ou então não o faça de todo.

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