hey. há quanto tempo.
desculpa pela minha ausência e mais: pelo meu silêncio. é incrível como, nalgum ponto da nossa vida, nos revelamos os maiores hipócritas. eu, que desde que me lembro não suporto o silêncio daqueles que, outrora, me foram tanto, acabei por dar-te isso mesmo: silêncio.
se bem que, pelo menos no meu caso, acreditei que se se justificasse. acreditei que, calando-me, poderia poupar-te. a mais dor desnecessária. a mais um abalo no teu mundo.
mas aqui estou eu, agora. a escrever-te, como já não o fazia há anos. tive 2 anos sem escrever uma única palavra, acreditas? enquanto estava contigo. e eu disse-te (e acreditei mesmo nisto) que era porque estava demasiado feliz. e estava.
hoje, volto a escrever-te porque muito se passou na tua ausência. hoje, finalmente, consegui sair de casa e apagar a luz do hall de entrada. sei que isto é completamente rídiculo, mas odeio deixar a casa às escuras. como se não quisesse que o teu fantasma, que ainda ali habita, ficasse imerso na escuridão (a única coisa pior que silêncio).
mas, hoje, consegui apagar luz. o que me dá esperança de que, um dia, vou voltar a conseguir dormir. vou voltar a conseguir comer algo mais que fruta (porque tudo o resto me enjoa). vou voltar a querer ser melhor do que aquilo que sou.
e desculpa se te escrevo tão fria, mas quando partiste, levaste de mim tudo o que poderia ter sido bom.
e, agora, só resto eu.
e vou admiti-lo: graças a ti, aprendi a gostar de mim, acima de qualquer outra coisa. pensava que isso iria desaparecer, quando partisses, mas a verdade é que só resto eu. e foda-se!, já que é para ficar a sós comigo mesma, ao menos que me adore!
arrumei as fotografias que tinha tuas ao fundo de uma gaveta que quase não toco. mas hoje toquei. se alguém me perguntasse porque raio não as deito fora, eu responderia: "eu amo o meu passado. porque haveria de querer apagá-lo?"
a tua ausência ensinou-me que tudo depende da forma como pensamos. se eu acordar, dia após dia, desesperada por ter de apanhar o metro e partir para mais um dia qualquer de merda, eu vou ter um dia de merda. mas se eu acordar, sorrir e encarar o meu dia como o mar de possibilidades que este é... então o meu dia vai ser aquilo que eu quiser.
tenho me divertido, mas tenho trabalhado mais ainda. não me interpretes mal, até porque eu ainda acredito que o amor será sempre o sítio a que regressas, ao fim do dia, para descansar... o problema é que:
eu não quero descansar.
estou cheia de energia, estou cheia de vida; quando vou acima, sinto-me invencível e sem medo de nada; quando vou abaixo, sinto-me nada e com medo de tudo. mas é desta maneira que pretendo viver agora... e tu bem sabes...
que esta não é vida nenhuma para ser partilhada.
desculpa-me por nos ter deixado terminar assim, desta forma tão banal, tão crua e tão real. quando me lembro de nós, no início dos tempos, começo a chorar... tínhamos tantos planos e tantos sonhos que nunca viram o nascer do sol... acreditávamos em tanta coisa, tanta coisa que acabou por morrer por erosão do tempo e da própria vida... e amávamo-nos, no verdadeiro sentido da palavra amor, como eu nunca vira antes.
mas a vida aconteceu(-nos). o desleixo aconteceu(-nos). e o comodismo é como um sufoco que se vai empoleirando pelas frinchas das portas, e quando acordas já estás morto.
mas eu sei que tu vais ficar bem. e eu também.
a vida não nos dá outro remédio.
obrigada
e adeus