quinta-feira, maio 30, 2013

O Refúgio.


Ainda te lembras dos nossos planos, meu velho Amor? Estava disposta a vender tudo o que me retivesse nalgum lado, e fugir contigo para lado nenhum. Compraríamos uma cabana qualquer no meio de nenhures, fosse ao pé do mar ou no topo de uma Montanha... já que nunca conseguimos consenso nisso. Acordaríamos, todos os dias, com a luz matinal do Sol a irromper por entre as persianas das janelas, ainda agarrados um ao outro, debaixo dos cobertores embebidos pela mistura do teu cheiro a manhãs de Inverno e do meu aroma de chuva de Primavera. Despidos de roupas, de segredos e de tudo, andaríamos pela casa, sempre descalços, trocando beijos fugazes de cada vez que nos cruzaríamos no corredor. E oh, como seriam belos os nossos dias, sem qualquer relógio a apontar-nos horários de refeições, de dormir, de fazer o que quer que fosse. Apenas estaríamos juntos, a amar-nos à flor da pele, deitados sobre a erva ainda húmida do orvalho... a olhar para o céu, a ver as nuvens passar, de mãos dadas, em silêncio... Viveríamos de gestos, de olhares, e nunca de palavras. E enquanto tu tocavas viola, com um meio-sorriso esboçado no teu rosto, eu escutaria, calada, enquanto escrevia em folhas soltas de papel. E, à tardinha, sentar-nos-íamos no nosso pequeno terraço, a fumar a Natureza, enquanto o Sol, lentamente, se perdia na linha do horizonte, mesmo à frente dos nossos olhos. E isso seria o nosso filme predilecto. Cozinharias para mim, porque eu sei como gostas de fazê-lo. E eu cantar-te-ia as nossas músicas preferidas, que tanto sei de cor. E quando a noite chegasse por completo, voltaríamos a deitar-nos, virados um para o outro, de dedos entrelaçados como os nossos respirares... E adormeceríamos sempre com a bela certeza de que, na manhã seguinte, estaríamos exactamente no mesmo sítio. Nós os dois. Duas almas. Um coração. Um momento eterno, no meio do nada. 

O nosso Amor perdeu-se, como tu de mim e eu de ti. Mas estarás sempre neste canto, no nosso lar, que tanto imaginámos e planeámos para nós os dois. Lá, nesse local, onde ambos os nossos corações se cruzam, nem o Tempo, nem a Distância, nem o próprio Destino nos conseguem quebrar... 

Lá, somos infinitos. 

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