domingo, novembro 03, 2013

Olha-te ao espelho.

Olha-te ao espelho. Não gostas do que vês, pois não?

E depois, tu perguntas-te: “os meus olhos foram sempre assim tão baços e distantes? E a minha pele, foi sempre assim tão pálida? E o meu sorriso... há quanto tempo é que nem é isso, de todo?”. E tu não te consegues lembrar bem. Desde quando é que te foste abaixo? Desde quando é que te tornaste nesse vulto ausente, de olhar choroso e magoado, de mãos vazias?

E depois, tu pensas: “como é que eu era antes de tudo isto? Da dor. Da decepção. Antes da solidão se ter entranhado por completo no âmago do meu peito?”. E nem disso te lembras, também. Parece que foi há imenso tempo, não parece?

Olhas-te ao espelho e não vês (mais) alguém capaz de amar (ou de ser amada). Agarras as tuas mãos e estão tão frias, por carência de afecto e de calor. Leva-las ao teu peito e não sentes nada. E já há tanto tempo que assim o é... um nada no coração; um vazio imenso no olhar; um silêncio apaziguado por choros sussurrados de madrugada, longe de toda a gente.


Tentas esboçar o que mais se aproxima de um sorriso e sais à rua. E, aí, as pessoas perguntam-te como estás. Como anda a tua vida. Se tens novidades para contar. E tu, aí, “sorris” (tentas), e respondes que sim. Que tudo te corre bem e que não há nada de novo. Encolhes os ombros e segues viagem, enquanto uma vozinha na tua consciência te chega e te diz: “porque mentes tanto a ti mesma e aos outros?”, mas tu não lhe respondes. O que é que poderias tu dizer?

Simplesmente... Não me sinto boa o suficiente para nada. Para ninguém”, diz a tal vozinha – a responder por ti -, para a escuridão que é o teu coração quebrado, soando em eco, de tão deserto que está.

Tu pensas que estás a olhar-te ao espelho, mas não estás. Essa pessoa, que te aparece, não és tu; é apenas um reflexo magoado e ferido pelo tempo, neste momento. Mas tu és mais do que isso. Tens de dizer a ti própria, uma e outra vez: tu és mais do que isto. Até que acredites. Até que te comece a soar bem. Até se tornar verdade.

Porque se tu não acreditares nas tuas palavras, como poderá alguém acreditar em ti?
E se tu não amares o que vês, no espelho... como poderá alguém amar-te assim?

Sem comentários:

Enviar um comentário