quarta-feira, dezembro 03, 2014

PROMETE-ME QUE (não) VOLTAS


Da próxima vez que te sentires sozinho, peço-te: não me ligues. Nem me digas nada. Estou quase que a implorar-te, está bem? Nem sequer tentes vir ao meu encontro, com esses teus olhos cabisbaixos que tanto se me revelam, por mais que os meus os evitem. Não fosse eu a que te lê melhor.

Peço-te isto, porque não consigo mais, entendes? Porque não consigo desligar-te o telemóvel, ao ver o teu número no seu visor. Porque jamais conseguiria ignorar as tuas mensagens. E muito menos virar-te as costas, quando fazes questões de ter-me à tua frente. Eu imploro-te que não me busques mais, porque eu jamais te mandaria embora. Apesar de – bem saber – que é exactamente isso que deveria fazer. Todas as vezes. Mas jamais o faria. Negar-te é algo que me é incapaz, por seres tu.

Eu gosto muito de ti e quero-te bem. Mas não posso ser sempre eu, aquela que busca por todos os pedaços do teu coração e os junta num inteiro, depois de outra qualquer o ter partido. Nem posso ser (mais) eu a que te aguenta nos braços, enquanto todo o teu mundo estremece. Desculpa, mas não consigo mais ser essa pessoa para ti. E eu fui-a, durante tanto tempo – demasiado para sequer contar. E eu juro-te por tudo: sempre adorei sê-la. Sempre adorei ser a primeira por quem buscavas para beijar-te as feridas. Para suster o teu choro no meu peito. Para aliviar a tua dor e a tua solidão imensas. E, no entanto, por mais que o adorasse... matava-me, mais do que qualquer outra coisa.


Por isso, peço-te e quase que te imploro: da próxima vez que sentires que a tua vida está fora do teu controlo, e que só queres fugir para um outro sítio qualquer... Não me procures. Por favor, nem venhas. Não consegues compreender o que sinto, de cada vez que o fazes? É que eu explico-te:

De todas as vezes – uma a uma -, que te vejo a vir ao meu encontro, com esses teus olhos tristes e braços rendidos, choro. Não aquele choro desbravado em lágrimas, mas sim um que me aflige no peito e me arde por dentro. E mais: de todas essas vezes – cada uma delas -, eu só amaldiçoo de morte quem te aleijou. Só quero partir pratos e rogar a Deus que te poupe de qualquer sofrimento. Desejo poder roubar toda a tua dor, para que se torne minha; para que seja eu a sofrer, em vez de ti. Não há nada que me sofra mais, do que quando és tu quem sofre. Antes que fosse eu... que já estou mais que habituada a qualquer tipo de amargura.


Sei que estou a ser egoísta ao pedir-te isto, mas vim a aperceber-me que já está na altura de o ser. Eu não posso continuar a sofrer por ti. Nem posso continuar a afagar as tuas dores, como se fossem as minhas. E que raio de vida é esta, a que me submeto? Que pára e que muda a um simples gesto teu, como se fosse mais tua do que minha? E que amor é este, o que sinto por ti? Que se alimenta das tuas chegadas esporádicas, sempre acompanhadas por partidas atrozes? E que nunca passam disso mesmo?

Não me procures, nem me busques mais. Está na hora de me deixares encontrar-me a mim mesma, de uma vez. E eu não consigo fazê-lo, enquanto continuares a chamar-me para trás, ao teu encontro.

Está na hora de tu seres tu; e de eu ser eu. E esgotada já eu estou de viver num “nós” sozinha; um “nós” que já nem existe e que há muito partiu de vez.

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