sexta-feira, dezembro 12, 2014

Amei-te até hoje. Até amanhã.


Amei-te assim que te vi”, disse-te, enquanto engolia a razão e deixava o coração tomar conta da minha boca, pela primeira vez em tanto tempo. Nem me apercebi de imediato que o tinha dito. Como se se tivesse solto de mim, por ter contido tanto, que já tudo me transbordava. “Mas sabes que mais? Amei-te só até hoje”. Palavras essas que caíram sobre nós como bombas em pleno cenário de guerra.

Cheguei derradeiramente ao ponto de não retorno de toda esta história. Cansada já eu estou de ser o vaivém inconstante da tua vida... de tal maneira, que já nem sei aonde me encontro realmente, na maior parte do tempo. Num momento, estou nos teus braços, a respirar-te e a ter-te por tudo o que és. Para noutro, nem ter a mais vaga notícia da tua existência. Cansada já eu estou de ser uma espécie de entretenimento de instantes. Um desafogo das tuas noites gélidas e solitárias. Ou um bicho que se alimenta das resmas que vais deixando pelo caminho, só para que consiga sobreviver.


Amei-te até hoje, estás a ouvir-me? Despi as minhas roupas impregnadas pelo teu cheiro e chorei todas as lágrimas que me sabiam a ti. Quando passar a meia-noite, juro-te, já não te amo mais. Nem nunca mais saborearei os teus beijos, que tanto me faziam perder do resto do mundo. Nem nunca mais me enterrarei no teu abraço, que tanto me sabia a casa. Nem nunca – jamais – me entregarei de corpo e alma a alguém que nunca me soube querer por inteiro.

Amei-te até hoje. Faltam poucas horas para deixar de amar-te por completo. Simplesmente porque todo este amor que sinto há eras, já há muito que não me serve de nada. Diz-me. De que me servem todos estes beijos que amontoo entre os meus lábios, por não se poderem perder nos teus? E de que me servem estes dois braços erguidos, incapazes de chegar ao teu corpo para que nele se encaixe? E de que me serve, afinal, toda esta luta que teimo em manter, se já nem estás aqui ao meu lado, para combatermos juntos tal qual como deveria ser?


Amei-te até hoje. Digo-te, que desta vez é de vez. Daqui a poucos minutos, já todas as partículas deste coração que tanto te amou, e de todo este corpo que tanto te agarrou, dissiparam-se por entre o fumo, tais como os cigarros que partilhávamos a dois. Tais como os suspiros que se elevavam sobre nós, por entre noites secretas com sabor a crime. Tais como as palavras – as doces, as amargas – que trocávamos e que agora não passam de meros mitos. Como se nunca tivessem existido.

Amei-te até hoje. E todas as coisas que me entregaste, enterro-as num tempo a que já não chego. Não guardo nada teu, porque só enquanto se ama é que faz sentido fazê-lo. E todas as chaves que trocámos, ao longo do tempo, e que abriam todos os cofres um do outro, deito-as ao oceano, que as engolirá juntamente com os meus sentimentos. Todos. Afogarei todos eles até à sua morte. Quero que morras de mim, da mesma maneira que me mataste de ti. Lembras-te?


Amei-te até hoje. O último dia em que te amei. O último dia em que te lembrei e em que senti a tua falta; em que chorei pela tua perda. O derradeiro dia em que te esqueci. E o primeiro em que me apercebi que não é de ti que eu (mais) preciso.

Amei-te até hoje. E por aqui fico, a perder-me de ti, só à espera que chegue o amanhã.

Sem comentários:

Enviar um comentário