segunda-feira, abril 20, 2015

Quando fazíamos Amor.

Ainda te lembras de como nos perdíamos um no outro, de tal forma, como se nem pertencêssemos a este mundo? Tu fazia-lo sempre tão devagar, tal qual como o sol se põe. Como se nem o tempo conseguisse invadir o nosso espaço; só nosso apenas - aquele tal ponto onde ambos os nossos corações se cruzavam. Agarravas-me suavemente e encostavas-me contra ao teu peito. Como se te fosse possível encaixar-nos só assim. Descobrias-me os ombros e, neles, ias plantando beijos e semeando arrepios, à flor da minha pele. E eu suspirava, enquanto os meus dedos se perdiam por entre o teu cabelo. E tu suspiravas, enquanto a tua boca invadia a minha para, juntas, se entrelaçarem num profundo beijo.

E depois tu, aí, começavas a despir-me. Sem pressa. Como se tivéssemos todo o tempo do mundo. E a cada peça de roupa que caía sobre o chão, mais calor eu sentia. Como se me bastasses para desafogar qualquer tipo de falta. Por mais que me tirasses, nada se comparava àquilo tudo que me oferecias. Nua e despida de tudo - de medos, de dúvidas -, despia-te a ti. Um tanto desajeitadamente, libertava-te de tudo o que pudesse esconder-te. Queria-te por inteiro, sem mangas, sem muralhas. Queria poder mirar cada um dos teus sinais e cada uma das tuas cicatrizes. E mirar cada uma das tuas falhas, que jamais seriam falhas para mim.

Juntos, nus, como poderíamos fugir? Não podíamos. Os teus lábios passeavam pelo meu pescoço, sem destino traçado. E também as minhas mãos se aventuravam ao longo das tuas costas. Como se nos pertencêssemos um ao outro. Como se eu fosse só tua, e tu fosses só meu. Juntos, despidos e livres de quaisquer crimes, o que haveria a temer? Nada. E sem mais demoras, sentia-te. Sentíamo-nos. Como se, de repente, não houvesse tempo a perder. O batimento do teu coração a ressoar dentro de mim. A minha respiração a fazer-se sentir no teu interior. Como se fôssemos - finalmente - duas partes da mesma peça. E, assim, perdíamo-nos - do tempo que só nos foge. Do mundo que só nos afasta. Das questões que não conseguimos nunca responder. Dos outros e das outras que só se intrometem. Das desculpas, dos motivos, e de quaisquer explicações.


Juntos, nus e despidos, perdíamo-nos, ao passo que mais nos íamos encontrando um ao outro. O teu suor traçava rumos infindos pelo teu rosto. E eu seguia-os, um a um, com o meu olhar semicerrado. Agarravas-me as coxas, enquanto te entregavas sem reservas. Só assim é que posso ter-te. Só assim é que me tens. Recebo-te em mim, como se nunca tivesses partido. Entrego-me também a ti, como nunca a nenhum outro. Mordiscas a minha orelha, enquanto sussurras o meu nome. O meu, só o meu; o de mais ninguém.

Neste nosso mundo, somos só tu e eu. Eu a arranhar-te o tronco ardente, desenhando as minhas marcas em ti. Tu a cobrires o meu peito de beijos, como se chegasses ao meu coração. És meu, e eu sou tua. E no auge, somos – finalmente – um. Uma explosão de luz e de fogo, que irradia por entre aquelas quatro paredes, que nos isolam do mundo em volta. Mundo esse de que tanto queremos fugir. Permanecemos deitados, ofegantes e ferventes, enquanto a noite cai. Ao passo que tu e eu flutuamos.

O desembaraço dos lençóis desbotados não nos serve de nada, quando temos o corpo um do outro para agarrar. Permanecemos encaixados, a suspirar, enquanto os corações nos batem, ainda frenéticos, ao mesmo tempo. Com um último beijo, selamos sempre o dito momento. E eu sinto-te sempre sorrir, enquanto me beijas: e não há nada como sentir o teu sorriso contra o meu. E ambos os nossos aromas misturados. E ambos os nossos corpos entrelaçados, como que num perfeito encaixe. Como se não pertencêssemos a mais lado algum, senão juntos.


E, assim, tão nus, tão cansados e tão juntos, como poderíamos morrer? Não podíamos. Fazer amor contigo era sempre assim: sabia tal a eternidade, que eu até me esquecia do seu derradeiro fim. E amar-te sabia-me exactamente a mesma coisa. Percorreste-me e foste-te, mas por cá ficaram as marcas. Eu, com as tuas. Tu, com as minhas. Fazer amor contigo era sempre assim: uma troca por troca, em que ninguém ficava a perder. Os teus braços seriam sempre o meu abrigo. E o meu peito, aonde debruçavas o teu rosto, seria sempre o lar familiar que te acolhe. E as tais marcas que deixáramos desenhadas na pele um do outro, seriam sempre o nosso caminho de volta.

E eu só queria poder perder-me de novo em ti. E encontrar-nos a nós, como um só: tal como sempre foi.
E que dessa vez - só dessa - nunca mais nos perdêssemos um do outro. 

2 comentários:

  1. Não é nada fácil escrever sobre uma coisa tão íntima e nossa, mas tu consegues fazê-lo lindamente :) até parece fácil!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito obrigada, Catarina! :) Eu adorei escrever sobre algo tão íntimo, apesar de não ter sido muito fácil. Obrigada. <3

      Eliminar