terça-feira, agosto 04, 2015

Antes ser nada, que uma mera opção.


Para mim, acabou. Cheguei ao ponto de não retorno. Apanhei o voo só com um bilhete de ida. Finalmente, chegou a altura de baixar os braços e não lutar mais por manter-te na minha vida. E eu sei o que as pessoas vão pensar: “sim, já disseste isso incontáveis vezes antes”. E sim, é bem verdade. A diferença é que, neste caso, eu não estou a dizer nada. Estou apenas a partir, de vez.

Não me arrependo de nenhuma das coisas que fiz por ti. Não me arrependo de todas as vezes que engoli o meu orgulho e fui atrás, só para que tudo ficasse bem. Não me arrependo das noites em branco, a tentar decifrar-te a ti e a nós. Nem tão-pouco me arrependo de todas as alturas em que perdoei os teus erros, ou as tuas palavras que não passavam de mentiras. E as lágrimas infindas que derramei por ti? Que seja. Afinal, se for para chorar, que seja por alguém que já nos concedeu tamanhas alegrias.

Mas, para mim, acabou mesmo. Tudo isso. Até porque se me esgotaram as palavras e os choros e as forças. E, hoje, acordei para um dia de sol e apercebi-me que mereço mais do que ser uma mera opção tua, que não hesitas em pôr de lado. Sempre te coloquei à frente do mundo inteiro, e a tua paga foi meteres-me em último plano, assim que te chegavam as - ditas - distracções. Para mim, chega! Eu nunca fiz nada por merecer ser rebaixada por ti, depois de todas as vezes que fui a única que se preocupou em levantar-te.


Acusas-me de interferir na tua vida. Acusas-me de não te deixar ser livre. E acusas-me ainda mais de não virar a página e estar sempre a tocar o mesmo disco. Então e tu? Não é isso que tu fazes, quando gostas tanto de uma música, ou de um livro? Pois. Bem me parecia. Mas, na verdade, deixei de gostar de tudo o que representas. E todas essas acusações falaciosas, não fazem sentido. Até porque o meu maior sonho era ver-te ser feliz como nunca foste. Até porque sempre tentei alimentar essa tua sede de voar.

Livre? Sabes sequer o que isso representa? Para ti, é estares na vida amarga e louca das noites, a envolveres-te em corpos aleatórios e a derramares copos que nem contas. Ser livre não é isso, meu caro. Ser livre é seres quem és e fazeres o que te vai no coração. E se essas coisas são aquilo que tu queres e aquilo que tu és, então eu não gosto de ti simplesmente.

Nem da minha amizade foste digno. Olhas para mim enquanto choro, e viras-me a cara. Desrespeitas-me das piores maneiras e nem a decência tens de vir pedir-me desculpa, por mais que te pareça algo insignificante. Nunca conseguiste entender os meus sentimentos e o meu apreço por ti. Gozavas-me, apenas. É mais fácil, não é? Mas a verdade é que, de todas as vezes que caías, eu estava lá a amparar-te. E de todas as vezes que saías magoado, era eu quem te limpava as feridas. Nunca me retribuíste nada e eu cansei-me de esperar. Para mim, acabou.


Acusas-me de pedir demais. Acusas-me de nunca estar satisfeita e de querer tudo à minha maneira. E, no entanto, tu é que insistes em ser demenos, e sempre foste tu quem levou a avante. Sempre foste tu que fizeste o que bem querias, que me magoaste vezes sem conta, e eu perdoei-te. Tu vinhas e eu deixava-te. Tu sorrias e eu sorria de volta. Agora? Agora já nem te consigo encarar sequer.

Achas que estás melhor sem mim? Enganas-te. Eu fui tudo aquilo que alguém deveria ser para ti. Fui demais, até. Eu fui tudo aquilo que ninguém jamais conseguiria ser. Eu fui aquela que te adorou incondicionalmente, até mesmo os teus lados mais obscuros. Então responde-me: quem é que, aqui, fica a perder? Tu, que perdeste quem mais fez por ficar contigo; ou eu, que só soube ser gozada e usada sem qualquer pudor? Pois. Bem me parecia.

Talvez, um dia, te apercebas que eu só estava a tentar ajudar-te a ser maior. Enquanto tu só me soubeste tratar como se eu fosse o mais insignificante possível.

Posso não ter ganho a guerra. Mas foste tu quem perdeu quem mais lutava por ti.

6 comentários:

  1. Em primeiro lugar parabéns pelo texto, expressaste-te lindamente e consegui sentir a tua dor em cada palavra. As relações já são complicadas, mas quando são tóxicas é impossível ganhar. Não é fácil, mas espero que fiques bem :)

    Ricardo, The Ghostly Walker.

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    1. Muito obrigada, Ricardo Francisco! :)
      Fico muito feliz por ter conseguido passar a minha dor. Afinal, escrever é mesmo isso: a transmissão de sentimentos de quem escreve para quem lê. E sim, estou bem e hei-de ficar melhor - até porque a relação mais importante que tens nesta vida, é contigo mesmo. E eu estou concentrada nisso, de momento.

      Beijinhos,
      Daniela Rosa

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  2. As tuas palavras levaram-me de volta a um passado menos feliz. Identifico-me com tanto do que escreveste neste texto. Que tenhas a força e o discernimento necessários para saíres desse ciclo vicioso. Quando o respeito e a consideração falham, não vale a pena continuar a lutar. Muito menos por quem não nos dá valor. Não te conheço mas sei que vale a pena lutares por ti. Isso, sim <3

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    1. Também não te conheço, mas assumo que conheces bem a dor por que estou a passar. Afinal, nunca estamos sozinhos. Faço das tuas palavras, as minhas. E desejo-te toda a força do mundo e uma imensa felicidade. Nós, sim, merecemos. <3

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  3. Quero agradecer te por estas palavras tão tuas, que parecem minhas, mas que não consigo expressar. Li alguns dos teus textos e em todos me identifiquei. Agradeço te também por seres quem és e por me deixares ser quem sou. Se-lo, quando leio toda a dor que transparece nas tuas palavras que, infelizmente é uma dor que me é muito familiar! Continua a escrever sou teu fã mas mais importante ainda, daquilo que sentes. Obrigado és a maior!

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    1. Olá, Pedro! Fico imensamente feliz e lisonjeada com o teu comentário. Agradeço-te desmedidamente e obrigada por saberes tão bem o que sinto e o quanto sinto. Espero que tudo te corra bem e desejo-te as melhores felicidades. Em adição, espero realmente que continues a gostar do meu trabalho.

      Beijinhos :)

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