quarta-feira, setembro 30, 2015

HOMENS & MULHERES


Estou cansada de escrever acerca do quão vítima já fui. De enganos, de mentiras, de homens incapazes de amar. Eu, por minha vez, já fui a má da fita, também. Mas nunca tal escrevo sobre isso. Nem nunca acerca dos corações com que brinquei como se fossem fantoches. Nem nunca acerca dos grandes homens que deixei escapar, como que areia branca por entre os meus dedos.

Ao contrário do que meio mundo pensa, as mulheres e os homens não se diferenciam uns dos outros pelo jeito com que amam. Há quem diga que a mulher entrega-se a medo, mas que depois ama com tudo o que tem. Ao passo que um homem, apaixona-se irremediavelmente e depois vê-se a fugir às responsabilidades que o amor implica. Mas isso não funciona assim - obrigatoriamente. Não é o nosso género que nos separa no que toca à paixão. Nada disso: como se fosse assim tão simples.

Conheci homens com medo de cair por mulheres, por já terem sido magoados por tantas. Outros, que as usavam como trapos. Outros, ainda, que sabiam amá-las como cavaleiros andantes em plena noite de nevoeiro. Por outro lado, conheci mulheres independentes e fortes, sem necessidade de príncipes encantados. Conheci desesperadas por atenção, que se encaminhavam por relações à toa: só porque sim. Ainda, outras, que foram capazes de salvar homens da escuridão e trazê-los à superfície. Nada tem a ver com seres homem ou seres mulher, entendes? Somos seres humanos que amam, que se desamam e que são quebrados. Não há absolutamente diferença nenhuma.


Por detrás de um homem insensível, existiu uma mulher que lhe assaltou o coração e partiu levando tudo consigo. Por detrás de uma mulher fria, existiu um homem que ela amou e que roubou tudo o que restava do seu coração morno. Somos todos tão iguais, na medida em que sofremos das mesmas formas e das mesmas dores de perda. Somos todos tão iguais no quanto magoamos, iludimos e damos esperanças em vão.

Tanto um homem como uma mulher pode ser vítima de enganos. Nenhum deles é santo ou satanás. Nenhum deles é fruto, apenas, dos erros cometidos e passos em falso. Somos tão mais que isso, afinal de contas. E eu já cometi tantos, acreditem… E cá estou eu. A sair à rua de cabeça erguida e com as mágoas empoleiradas no fundo da mala. Passo por homens que também hão-de andar com elas guardadas no fundo dos bolsos. Somos todos tão quebrados… À espera de alguém cujas falhas se encaixem nas nossas. Cujos medos se alicercem aos nossos. Ninguém admite, mas todos nós esperamos por essa pessoa que há-de vir, vinda de não sabemos onde, para nos mostrar que não fomos feitos para ficar sozinhos.

Nenhum de nós é aquele brinquedo partido que tem de ser trocado na loja por outro novo. Nunca te reduzas a isso, porque jamais seria verdade. Talvez pessoas quebradas tenham de ficar com outras pessoas quebradas, para se aperceberem que, afinal, não precisam de qualquer concerto. Só amor. No final, precisamos de amor e de amor apenas. É ele que junta os nossos pedaços uns aos outros, para nos prepararmos para amar em pleno. Com medo, sim, sempre. Ingénuos seríamos se nos entregássemos sem qualquer cautela, depois de nos terem magoado tanto.


Está na hora de arrumarem o fatalismo de que jamais será possível achar alguém que vos mereça. Que vos faça feliz como nunca foram - ou mais do que alguma vez conseguiram. Fiquem sozinhos o quanto desejarem. Curem-se das feridas ainda expostas sobre a vossa pele. Tirem tempo para as mágoas vos secarem e, depois, saiam à rua de sorriso no rosto. Não escondam as cicatrizes porque todos as temos. Somos tão iguais naquilo que sofremos. E só por isso deveríamos ser tão mais bondosos uns com os outros.

Tu tens a tua história. Homem, ou mulher, não interessa para nada. Eu acredito que, um dia, darás por ti num café, ou num bar, ou num sítio qualquer, a partilhá-la com alguém que acabaste de conhecer. E esse alguém contará a sua e, por fim, estão a fazer uma juntos. Nem dás por nada, afinal de contas. É essa a parte melhor do amor… O quão imprevisível e espontâneo pode ser, se simplesmente deixarmos de o complicar tanto.

Temos todos medo: é normal. E sabem porquê? Porque já perdemos muito. Mas e depois? Ainda tanto nos espera… Larguem o que há em vão e dêem uma oportunidade ao coração, quando estiverem prontos, e não quando estiverem sós. Acreditem: aí está a única coisa que nos diferencia, no que toca ao amor.

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