FAVORITOS DO MÊS

Sputnik, meu amor (2002), de Haruki Murakami.



"De repente, acabo de me dar conta de que aquela estranha sensação de ficar toda aos bocados, de que te falei no princípio, começou a desvanecer-se enquanto [te] escrevia esta carta. Pelo menos agora já não me faz tanta impressão. Tenho a mesma sensação que ao sair da cabine telefónica, quando costumava ligar para ti a meio da noite. Será que exerces algum efeito curativo sobre mim? Qual é a tua opinião? Seja como for, reza para que eu seja feliz e tenha sorte. Bem preciso. Até à próxima."

E, assim, ela saiu à rua. De cabeça erguida e sorriso no rosto, caminhava como quem faz tudo o que lhe dá na gana. Estivera demasiado tempo parada, sem nunca chegar a lado nenhum. Sempre perdida por entre um nevoeiro cerrado, que lhe cercara as vistas por completo. Agora, dava por si com os olhos bem postos no horizonte. Já longe ia o medo de dar um passo que fosse. Nem iria perder mais um segundo a temer o que quer que seja. A passadas largas, seguia em direcção ao seu destino. Um dela e só dela. Desperdiçara demasiado tempo à espera que alguém a acompanhasse. Nunca mais o faria. E, assim, seguiu sempre em frente. Finalmente se apercebera que era capaz disso mesmo. Quem quisesse e quem merecesse, que se juntasse a ela. Quem só a atrasasse, que saísse do seu caminho.

Sentia-se com todo o tempo do mundo. Mas isso não significava que iria voltar a desperdiçá-lo com qualquer pessoa. Esta era a sua jornada. A sua hora. Ninguém poderia detê-la. Nunca, nunca mais.

Finalmente, o que estava à sua frente agradava-lhe mais do que o tudo que existia atrás de si.

- Daniela Rosa (2015). 

1 comentário:

  1. Olá querida, reparei que temos um gosto idêntico nos livros.. Será que me podias recomendar mais algum? :)

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