domingo, setembro 14, 2014

Mais uma bebedeira qualquer.


Reviro copos atrás de copos, achando-te em toda a resma que fica no fim de cada um. E quanto mais copos bebo, numa forma ridícula de apagar-te da minha mente, mais te vejo por todo o lado e em tudo o que me rodeia.

Acendo um cigarro à espera que apareças com um isqueiro para mo acender – como costumavas fazer tantas vezes. Mas tu não apareces. E eu continuo à espera que o faças, apesar de ser um completo absurdo. Permaneço de cigarro apagado, ao passo que também a minha consciência se vai apagando aos poucos.

Um homem vem ao meu encontro com falinhas mansas típicas da noite. Mas esse homem não és tu. Oh, e está tão longe de sequer ser parecido contigo! Sussurra-me ao ouvido com um hálito a gin tónico, nauseando-me em segundos. Tenta beijar-me e eu cedo, mas só por um instante, até o empurrar para longe. De que me serve um beijo que não sabe a ti? De que me serve uns lábios que não os teus?

Retiro-me para a rua sem antes pedir mais um copo. Já lhes perdi a conta, assim como a dos dias que já passei sem ti. Os dias já nem sabem a nada, desde que partiste. E esta bebida toda... sabe-me cada vez pior. E, no entanto, não consigo parar. Sinto os meus olhos a cerrarem, mas não paro. Sinto-me a ficar tonta, mas não vacilo. Agarro o copo com a mesma força, talvez por simplesmente querer sentir algo nas mãos – tão vazias, desde que te foste embora. Desde que não estás mais aqui para agarrá-las, com aquela força que só tu a sabias.

Choro, embriagada, sentada num passeio qualquer. Nem consigo conter-me. Quiçá, já andara a conter-me demasiado. Só sei que desato num pranto sempre à espera que apareças e cuides de mim – como costumavas fazer tantas outras vezes. Mas tu não apareces. E cá estou eu, ainda, a chorar sozinha e à espera que o faças, apesar de ser um completo absurdo.

Na minha bebedeira, fujo-te só para te encontrar, de novo. Na minha bebedeira, perco-me de mim, mas nunca de ti. Na minha bebedeira sinto-me mais sóbria do que alguma vez fui. Na minha bebedeira, sinto-me melhor por me sentir mais tu do que eu mesma.

“Tens de parar”, digo a mim mesma, como se fosses tu a dizer-mo – como costumavas dizer tantas vezes. E, aí, eu paro, enxugo as lágrimas, levanto-me do passeio e sigo para casa, como se estivesses lá à minha espera. Para me abraçares na cama e me trazeres muitos copos de água. Para te rires do meu eu embriagado, dando-me um sermão ao mesmo tempo. Porque, de alguma forma, só essa ideia é que torna a viagem – de volta a uma casa vazia – menos dolorosa do que é.

“Amo-te”, palavras que sabem a álcool. E mais que isso: a uma verdade mais pura que qualquer bebida que tenha bebido nessa noite.

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