terça-feira, dezembro 30, 2014

Ser dos Açores é ser Saudade (e Nostalgia).


Voltar a casa, depois de tanto tempo, é de tal forma uma miscelânea de pensamentos e emoções, que até me custa descrever isto tudo que sinto. Uma mistura de expectativas, nostalgia e saudade abarcam-me por completo, mal sinto o avião a pousar no asfalto da pista. O oceano estende-se até onde o olhar alcança e o vento despenteia-me imediatamente o cabelo. 
“Estou em casa”, digo de mim para mim.

No entanto, ao mesmo tempo, é estranho voltar. Um tipo bom de estranho, claro está. Passamos a reparar em todos aqueles pormenores que nunca havíamos notado antes. Como a forma que o sol se põe no horizonte. Ou a maneira autêntica das pessoas comunicarem. Ou a simplicidade do dia-a-dia. Coisas que, outrora, eram as mais comuns e as mais garantidas, são-nos apresentadas como inteiramente diferentes. É estranho voltar, por isso mesmo, porque apesar de muito pouco ter mudado, nada está exactamente na mesma.


As horas passam por nós devagar, enquanto aproveitamos os dias – um a um. Abraçamos família e revemos amigos, de quem já sentíamos a falta. Voltamos aos mesmos sítios de outrora, aqueles de que já nos havíamos fartado, e que agora são como novidades. Percorremos as mesmas estradas, mas com muita mais atenção. Miramos o mar – que, outrora, era o nosso bem mais presente -, e inspiramos a sua maresia, como se fosse a coisa mais rara à face da terra. O verde parece mais verde do que alguma vez foi. É tão estranho voltar a uma casa, depois de tanto tempo, e ver o quanto esta mudou sem nós. E, ao mesmo tempo, como continuou a mesma coisa.

Nostalgia e saudade não são a mesma coisa. E é isso que sinto em relação a este meu lar, que se encontra sempre tão longe de mim. Quando daqui estou distante, sinto as saudades a arderem-me no peito, de mãos dadas com a vontade de voltar. E quanto mais se aproxima o dia ‘tal’, mais estas se intensificam. E, no entanto, é ao chegar, depois de tanto tempo, que sinto esta nostalgia melancólica. De que toda esta casa – que era sempre tão minha – por que tanto anseio, não voltará a ser a mesma nunca mais. Isto, porque, aqui e agora, sinto-me mais uma espécie de viajante passageira. Que só quer aproveitar o máximo enquanto pode, até ao dia de partir.


É essa a parte estranha de voltar ao meu lar. É o voltar, para ter de partir, de novo. E será sempre assim, a partir de agora. Um vaivém desmedido. Uma viagem de ida acompanhada por uma de volta. Uma saudade que conta os dias. E uma nostalgia estranha de descrever e ainda mais de se sentir.

E, no entanto, cada regresso sabe-nos sempre a tanto. Mais do que qualquer partida. Vale sempre a pena sentir tudo isto, por mais assoberbante que seja. É “lar doce lar”, afinal de contas. E será sempre, sempre assim. E todas as lágrimas derramadas compensarão sempre toda esta vista que vemos, ao sentirmos o avião sobrevoar sobre tal oceano azul intenso.

É estranho, não é? Uma estranheza que só um Açoriano a sabe. E depois? Faz parte de nós. Somos tão únicos e tão genuínos, que até temos direito a sentimentos só nossos e que só nós seremos alguma vez capazes de os sentir. 

1 comentário:

  1. Adoro a forma como escreves e consegues pôr em palavras sentimentos inexplicáveis que só um insular sente e compreende! Emociono-me sempre com os teus textos, especialmente os que falam das nossas ilhas, do nosso mar, da nossa Atlântida! Muitos parabéns pelo trabalho e muita sorte para o teu futuro!! De uma insular para a outra. :)

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