terça-feira, março 15, 2016

OS (D)ANOS MUDARAM-ME. E DEPOIS?


“Tu mudaste. Tenho saudades de quem eras.” (Tretas!) Queres saber uma coisa? De pouco ou nada eu sinto falta de mim; da pessoa que eu costumava ser, outrora, noutros tempos, noutro lugar. E queres saber porquê? Porque a vida é mesmo assim. Porque tudo o que por mim passou e porque tudo o que eu vivi, por entre todos esses anos que enfrentei, transformou-me naquilo que sou hoje. Todo esse acumular desenfreado de coisas, de histórias, de pessoas, de decepções, de descobertas mudaram-me. E de que maneira. Nem sabes tu o quanto.

E depois? Diz-me, não achas que é suposto ser assim? Diz-me, era suposto eu permanecer na mesma pessoa que era, há - digamos - 5 anos atrás? Tenho a certeza que esse meu ‘eu’, que já nem sou, nem me iria reconhecer agora. E sabes que mais? Ainda bem. E sabes porquê? Porque eu acredito que nenhum de nós deve ser uma personagem plana; imutável. Nunca ninguém poderia levar uma vida sendo sempre uma constante. E porquê? Porque nós mudamos com o passar dos anos; sem sequer darmos conta de imediato.

E depois? Diz-me, como poderíamos nós permanecer exactamente como sempre fomos? Depois de tudo o que sofremos, como poderia ser possível passar por isso impune? Depois de todas as mágoas, das feridas à flor da pele, das dores nos ossos e no peito, como é que poderíamos continuar quem éramos, antes de tudo isso? Nunca seria possível, e muito menos aconselhável. E queres saber porquê? Porque nós mudamos com o passar dos danos. (E ainda bem.)


(Re)lembro a rapariga que eu era. Aquela que encarava o amor como a sua derradeira salvação. Aquela que acreditava que todas as pessoas tinham um fundo maravilhoso. Aquela que lutava pela salvação de todo o mundo à sua volta. Aquela que era capaz de colocar tudo à sua frente. Aquela que batalhava desenfreadamente para que tudo na sua vida durasse para sempre…

E sabes que mais? A única coisa de que sinto falta é da ingenuidade; da inocência daqueles tempos que já lá vão, para nunca mais voltarem. Era tudo tão mais fácil, afinal de contas. Tempos, aqueles, em que amar era o suficiente para se moverem montanhas e cortarem-se distâncias. Tempos, aqueles, em que a amizade era saltar pelo recreio e trocar bilhetes nas aulas, às escondidas. Tempos, aqueles, de ter os pais no quarto ao lado, para me salvarem dos pesadelos. Mas sabes que mais? Ainda bem que esses tempos já lá foram, para nunca mais voltarem.

Todos temos de crescer. E, por mais assustador que tal nos pareça, temos de mudar, também. Não por completo, como é óbvio, até porque a nossa essência há-de se manter sempre (e se quiseres mudá-la, tudo bem!). A mudança não existe para a temermos, como se fosse algo que (se) nos tirasse ou afastasse de nós… mas sim como o processo que nos amadurece, que nos acrescenta e que vai formando, aos poucos, o nosso carácter.


A única coisa que temos, sim, o poder absoluto de manusear é a escolha entre mudar para melhor, ou para pior… No meu caso, sim, admito que me tornei um pouco mais fria, mais complexa, mais de-pé-atrás e, consequentemente, muito mais difícil de lidar… E depois? Diz-me, não achas que era suposto eu mudar(-me), depois de tudo o que passei?

Eu gosto da pessoa que sou hoje. E tenho a plena consciência de que ainda muito em mim irá mudar. Talvez, qualquer dia, deixo de roer as unhas, ou de fumar, ou de conceder oportunidades a quem não as merece de todo. Mas, para já, aceito-me como sou e aceito tudo aquilo que vier de braços abertos… Eu sou uma constante evolução do meu ser. E não tenho medo nenhum disso.

A quem sentir saudades de quem eu era… Pena! Só os fracos teimam em viver no que já lá foi.

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