segunda-feira, maio 12, 2014

A Carta que não chegou a tempo.


Lembro-me de um dia estarmos a viajar de carro, ao final da tarde. Estávamos em pleno Dezembro e, no entanto, que lindo dia que estava. Com uma mão, seguravas o volante, e com a outra, agarravas a minha. Lembro-me de teres sempre o rádio do carro desligado, e eu nunca percebera bem o porquê... e nunca te cheguei a perguntar, porque supus que simplesmente gostasses que fossem só as nossas vozes a única melodia das nossas viagens. E lá íamos, sem qualquer destino, percorrendo a linha da costa, ao som das ondas a baterem contra as rochas, e dos nossos risos. Lembro-me de como o sol mergulhava na linha do horizonte, salpicando o céu de amarelo e de laranja. Lembro-me de como esta miscelânea de cores incidia no teu rosto, iluminando por completo o teu sorriso. E que sorriso, esse, o teu. Fiquei parada a mirar-te, tu notaste e apertaste a minha mão com mais força. Lembro-me de pensar, nesse exacto momento: “meu deus, estou tão apaixonada por ti”.


Tenho saudades de tanta coisa, que nem interessa, porque, no fim disto tudo, e são essas as que apertam mais: são as saudades que tenho tuas. De todas essas pequenas coisas que fazem de ti quem tu és. Essas, que me fizeram gostar de ti desde que te conheci realmente. Essas, que tornam ainda mais difícil deixar-te partir.


Um dia, disseram-me que não existem pessoas certas para ninguém. Mas que, quando gostamos muito, devemos fazer de tudo para nos tornarmos na pessoa mais certa para esse alguém. E eu discordava, afirmando que devemos sempre ser nós mesmos, e que mudar por alguém era absurdo. Mas este meu pensamento falhava, na medida em que nem tinha nada a haver com deixar de se ser como é. Simplesmente significava que, quando se ama, temos de ser a pessoa de que esse alguém precisa. É só isso que é preciso, afinal de contas. E foi aí que eu errei. E esse erro custou-me-te. O pior preço que eu podia pagar. Pudesse eu me ter apercebido de tudo mais cedo...



Fizeste-me feliz como ninguém, e a minha maior dor foi não te ter retribuído isso mesmo. E o meu maior desejo é que consigas ser a pessoa mais feliz do Mundo, mesmo que sem mim... Acho que é isso que significa amar, não é verdade? Quando desejamos o melhor a alguém, mesmo que isso implique que não seja do nosso lado. E eu desejo-te tudo isso, porque tu, sim, merece-lo por completo.


Lembro-me de como costumávamos dizer um ao outro, entre risos, que não percebíamos nada de Amor; que nunca haveríamos de perceber, por mais que os anos passassem por nós. E, no entanto, bastava um toque suave teu na minha mão; o teu olhar cruzar-se com o meu; a chegada do teu abraço... e lá estava ele. O Amor, em toda a sua glória, sempre um bocadinho escondido... Mas estava presente, rodeando-nos com um calor que quase já esqueci... E nós sabíamos disso. E nem precisávamos de entender mais nada.


Quando olho para trás, recordo o melhor que passámos juntos. Faz parte de mim, tu sabes. E apesar de ainda me doer no peito, sei que vou ficar bem, qualquer dia. Nunca te encararei como um erro, um tempo perdido ou como uma derrota, mas sim como uma lição preciosa... De que amar não são só conversas, risos e viagens de carro. Amar é seres capaz de suportar; de ser alguém de quem se precisa. Que amar é meter a outra pessoa primeiro e fazê-la feliz, mesmo que o Mundo esteja a desabar à nossa volta. Que amar é evitar ao máximo magoar. Que amar vale a pena enquanto tu própria fazes por ser alguém que valha a pena. Que amar dá-te tanto, mas pode tirar-te tudo, se não te agarrares com força suficiente.


Sem mais nada a dizer, (porque acabaram-se-me as palavras para ti)...
Desculpa & Obrigada.

2 comentários:

  1. Carolina Freitas12 maio, 2014

    Daniela, os teus textos são sempre ótimos!
    Gosto muito deste e da maneira como descreves as coisas, nomeadamente: "(...)o sol mergulhava na linha do horizonte, salpicando o céu de amarelo e de laranja."

    A tua escrita é "tocante".
    Parabéns!

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  2. Emocionante a todos os niveis! Parabéns!!!

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